Capítulo um

3750 Words
Londres, fevereiro de 1803.     – Eu preciso encontrar uma mulher, Mags. – Oh, claro. Você está procurando a mulher de quem? – respondeu Magnolia, petulante. – Eu estou falando de uma esposa. Sou capaz de encontrar minhas próprias aventuras, obrigado. – Uma esposa? Você? Eu não acredito, Cooper! Há anos que você nem mesmo dirige a palavra a uma mulher respeitável! – É por isso que quero sua ajuda agora. Quero que o casamento aconteça o mais rápido possível. – O mais rápido possível? Céus! Você vai deixar as mamães casamenteiras agitadas! – disse ao primo. – Posso perguntar o que o levou a isso? Quero dizer, procurar uma esposa já é excepcional. Você deverá estabelecer sua prole logo, logo, mas tal pressa imprópria me parece... Não há... ah... nenhuma necessidade financeira neste casamento, há, Cooper? – Não seja ridícula, Mags. Na realidade, é o que você acha. Decidi ter minha família. – Você quer ter herdeiros, Cooper. Precisa de filhos homens. Você não gostaria de um bando de meninas, não é? Um bando de meninas até que não soava m*l mas também seria bom ter filhos homens, pensou, lembrando-se do menino de pernas fortes de Freddie, Sam. A questão de ter um herdeiro fora, de fato, sua última preocupação, mesmo sendo o último de uma linhagem muito distinta. Até a sua viagem para Yorkshire, Cooper era totalmente indiferente ao fato de seu nome e título terminarem com ele. Só lhe deram, afinal, infelicidade durante a sua infância e juventude. Era muito mais fácil, porém, deixar a sociedade acreditar que de Wellborn precisava de um herdeiro do que contar que uma linda criancinha grudenta achara uma f***a em sua armadura. Ele não precisava de nada nem de ninguém. Aprendera esta lição ainda muito jovem. Era uma pena que ele precisasse pedir ajuda a Magnolia. Nunca gostara dela, só a encontrava quando o dever ou uma coincidência o exigia. Mas alguém precisava apresentá-lo a uma moça adequada, d***a! Se ele queria filhos, teria que suportar o processo complicado e desagradável de adquirir uma esposa, e Magnolia poderia ajudar a apressar o processo com um mínimo de tumulto e incômodo. – Você me ajudará, Mags? – O que exatamente você tem em mente? A sociedade londrina? Bailes, festas elegantes e visitas matutinas? – ela riu. – Eu preciso confessar, não consigo imaginar você fazendo o papel de bonitinho com todas as mamães orgulhosas olhando, mas valerá a pena, mesmo que seja só pela diversão. Ele tremeu por dentro à imagem que ela invocara, mas sua expressão permaneceu impassível. – Não, nem tanto. Eu pensei que uma house party poderia resolver o assunto. – Uma house party! – ela estremeceu delicadamente. – Eu detesto o campo nesta época do ano. – Não precisa ser por muito tempo. Uma semana, mais ou menos, será suficiente. – Uma semana! – Magnolia quase gritou. – Uma semana para fazer a corte a uma esposa! Cooper cerrou os maxilares. Se houvesse outra maneira de fazê-lo, ele a teria preferido. Mas sua prima era uma jovem e, aparentemente, respeitável matrona da sociedade – exatamente o que ele precisava. Ninguém mais poderia apresentá-lo tão facilmente a moças adequadas. E ela poderia ajudá-lo a contornar o tédio da busca por um casamento, fazendo a corte sob os olhos de centenas de pessoas. Ele tremeu por dentro novamente. Magnolia poderia ser uma cabeça-de-vento e ele não gostava de lhe pedir ajuda mas ela era sua única opção. – Você fará isso? – ele repetia. – Sair da cidade pode ser complicado para mim. A temporada ainda não começou, mas nós temos muitos compromissos... – deu um olhar significativo para o espelho acima da lareira, em cuja moldura dourada estava pregada meia-dúzia de convites impressos. – E para organizar uma festa deste tipo em Mannigham, com tão pouco tempo... – ela suspirou. – Bem, é bastante trabalho, e eu precisaria de uma ajuda extra, você sabe... e George pode não gostar disso, pois será muito car... – Eu cobrirei todas as despesas, é claro – Cooper interrompeu-a – e farei com que valha a pena para você também, Magnolia. Diamantes lhe tomariam mais fácil perder seus bailes e festas elegantes por uma semana ou duas? Magnolia fez beicinho, contrariada por sua rudeza, mas incapaz de resistir à isca. – Colar, brincos e bracelete. – Seus olhos frios encontraram os dela com indiferença cínica. – Oh, Cooper, como você é vulgar! Como se eu quisesse dinheiro para ajudar meu primo. – Então você não quer os diamantes? – Não, não. Eu não disse isso. Naturalmente, se você quiser me presentear com alguma lembrancinha... – Bem, então está decidido. Uma careta desconcertada perturbou a impassividade de sua expressão. – Eu acho que assim será melhor. De qualquer jeito, você convida algumas moças, e eu escolherei uma. Magnolia estremeceu delicadamente. – Tão sangue-frio, Cooper. Não me espanta que eles o chamem de Iceber... Você já está querendo ir embora? – disse Magnolia. – Por que não? Está tudo decidido, não? – Mas quais moças você quer que eu convide? – Que d***a, Mags, eu não sei. Este é o seu trabalho. – Eu não acredito! Você quer que eu escolha uma esposa para você? – ela gritou estridentemente. – Não, eu a escolherei dentre as moças que você convidar. Meu Deus, Mags, você não entendeu ainda? Sobre o que estamos falando há quinze minutos? – Existe... quer dizer, você tem alguma exigência especial? – disse, finalmente. – Ela deve ser sadia, é claro... de boa linhagem, naturalmente. Umm... bons dentes, razoavelmente inteligente, mas com um temperamento plácido... e quadris suficientemente largos, para a maternidade, você sabe. Magnolia rangeu os dentes. – Nós estamos falando de uma dama, não estamos? Ou você só está atrás de uma égua reprodutora? – Mais ou menos isso, eu acho. Tenho pouco interesse na dama, somente em sua prole. – Você nem mesmo se importa com sua aparência? – Não especialmente. Apesar de pensar que prefiro alguém de boa aparência, ao menos passável. Mas não linda. Uma mulher bonita seria problema demais. Eu já conheci esposas bonitas demais para não me conscientizar da tentação que elas são... para os outros. Magnolia não deixou de captar sua referência sutil. – Eu farei o melhor possível – disse secamente. ***  O cavaleiro n***o debruçou-se, pegou-a pela cintura e a içou para seu galante cavalo de batalha, longe do alcance dos lobos com as bocas cheias de baba que tentavam morder seus calcanhares. – Dêem o fora, malditas bestas cruéis! – Ele gritava com uma excitante e profunda voz . – Este bocado não é para vocês! Agüente firme, minha querida, você está segura comigo agora –murmurou em seus ouvidos, o hálito quente movendo os cachos em sua nuca. – Agora eu tenho você, Anna, meu amorzinho, e nunca a deixarei. Apertando-a estreitamente contra seu amplo e forte peito, abaixou sua boca em direção à dela... – Miss, Miss Anna, a senhora está bem? Anna saiu de seus devaneios com um sobressalto. Os botões que ela havia separado estavam espalhados pela mesa, e então ela se abaixou rapidamente para catá-los. – Oh, sim, sim, perfeitamente. – Anna, enrubescendo, apressou-se em acalmar o mordomo e a governanta. – Eu estava em um devaneio t**o, a quilômetros daqui, infelizmente. O mordomo estendeu uma carta em uma bandeja. – Uma carta, Miss Anna. Da patroa. Anna sorriu. Brooks ainda se comportava como se fosse responsável pela grandiosa mansão de Londres, em vez de estar enfiado na casa de campo que pertencia à prima de Anna, Magnolia. Anna pegou a carta da bandeja e agradeceu. Querido Brooks – como se ela fosse a senhora da casa, recebendo correspondência na sala de estar, e não uma parenta pobre, tendo sonhos tolos, junto a uma jarra de botões velhos. – Oh, não! – Anna fechou os olhos, após ler a carta. Havia pensado que, já que o Natal passara, e Magnolia e George haviam voltado para a cidade, ela e as crianças ficariam em paz por vários meses. – O que é, Miss Anna? Más notícias? – Não, não... ou ao menos nada trágico, de modo nenhum. – Anna acalmou a velha governanta. Deu uma olhada rápida para Brooks e explicou: – A prima Magnolia escreveu para dizer que fará uma house party aqui. Nós devemos tomar todas as providências para receber seis ou sete moças, e suas mães, e um certo número de pais e cinco ou seis cavalheiros também, ela ainda não decidiu. E haverá um baile em duas semanas. Mis. Wilmot estivera fazendo as contas. – Acomodação e divertimento para até vinte cinco ou vinte e seis do grupo, e mais quase o dobro deste número de empregados, se nós só contarmos com um criado ou criada para cada cavalheiro ou dama. Por Deus, Miss Anna, eu não sei como faremos. Anna assentiu, com uma expressão de mau pressentimento em seus olhos. – Os hóspedes chegarão na próxima terça-feira. A prima Magnolia chegará na véspera. – Na próxima terça-feira? Na próxima terça-feira! Meu Deus, Miss, o que faremos? Providências para sessenta ou mais pessoas se hospedarem, chegando na próxima terça-feira! Nós nunca conseguiremos, nunca! – Sim, nós conseguiremos, Mrs. Wilmot. Nós não temos escolha, a senhora sabe disso. Minha prima, contudo, considerou todo o trabalho extra que isso acarretará para vocês dois e para todos os empregados. – E para a senhora, Miss Anna – acrescentou Brooks. Ela sorriu. Sabia que ele estava certo. – Ela me deu permissão para contratar toda a ajuda extra que precisarmos e para não pouparmos despesas, apesar de eu precisar manter o cálculo minucioso de todas elas. – Não poupar despesas... Anna tentou se manter séria. O fato da prima Magnolia mostrar consideração suficiente por seus empregados, e contratar ajuda extra já era bastante surpreendente, mas não se preocupar com as despesas surpreenderia a qualquer um que a conhecesse. – Não, pois ela diz que a house party é para seu primo, lorde de Wellborn, e ele deve pagar tudo. – Ahh! – Brooks fechou a boca e fez uma expressão sábia. – Lorde de Wellborn? Meu Deus, o que ele quer com uma house party cheia de moças? Oh, eu compreendo! Fazer a corte. – Como? – disse Anna, admirada. – Ele está cortejando alguém, lorde de Wellborn. Deve estar interessado em uma destas moças, e quer passar algum tempo com ela antes de fazer o pedido. – Bem, bem, então é isso. Um casal namorando na velha casa mais uma vez. – A face de Brooks se abriu em um sorriso sentimental. – Por Deus, Mr. Brooks, o senhor é um romântico incurável, se é que eu já vi um – disse Mrs. Wilmot. – É tão difícil imaginar lorde de Wellborn perdido em um jovem sonho de amor quanto me ver voando pelos ares em um de meus pães-de-ló! – E pôr que isso, Mrs. Wilmot? – perguntou. – Por quê? Oh, sim, a senhorita nunca o encontrou, já, querida? Eu estou sempre esquecendo, a senhorita é parente pelo outro lado da família da madame. Bem, não perdeu muito... Eles o chamam de iceberg, sabia? – Mas eu pensei que todas vocês, mulheres, o achassem tão bonito – começou Brooks. – Bonito ele é, eu sempre disse – falou a governanta, sombria. – Mas apesar de ser tão bonito quanto a estátua de um deus grego, é tão quente e vivo quanto esta estátua, também! – balançou a cabeça e cerrou os lábios de maneira desaprovadora. Mesmo intrigada, Anna sabia que não deveria estimular a fofoca sobre os hóspedes de sua prima. – Bem, então – ela disse –, ainda bem que nós não temos que nos preocupar com Lorde de Wellborn, a não ser gastar o seu dinheiro e presenteá-lo com as contas. E se nós não precisamos nos preocupar com os gastos, os empregados podem ser contratados na aldeia. Mais tarde, naquela noitinha, enquanto ela saía vagarosamente dos aposentos das crianças, deixando seus três protegidos bocejando sonolentamente em suas camas, beijos amorosos de boa noite ainda úmidos em sua face, Anna decidiu que deveria se controlar mais. Não podia continuar assim. O grau de ressentimento que sentira naquela manhã a chocara. Era muito errado sentir-se assim. Deveria ser grata a Magnolia pelo muito que ela fizera – dando-lhe um lar, deixando-a cuidar das suas crianças... e esta era a casa dela, eram os filhos de Magnolia. Ela tinha o direito de visitá-la quando quisesse. O problema era com Anna. Sempre fora. Com suas pretensões extravagantes e seu faz-de-conta t**o e infantil. As coisas estavam fugindo do controle, e ela fingia, dia após dia, que as três adoráveis crianças eram suas. E que o pai delas, uma figura elegante e romântica, estava longe em alguma esplêndida aventura, lutando contra piratas. Sonhara freqüentemente com a maneira pela qual ele chegaria em casa em seu corcel n***o como o carvão, trazendo presentes exóticos para ela e para os filhos. E quando eles tivessem colocado as crianças na cama, ele a tomaria nos braços e a beijaria carinhosamente e lhe diria que ela era sua bela... Não. Isso precisava acabar. Ela não era a bela de ninguém, a querida de ninguém. O pai das crianças era o enfadonho George, um panaca que bebia demais e beliscava o traseiro de Anna cada vez que ela se distraía um pouco e passava perto dele. Ele nunca chegava perto das crianças, a não ser no Natal, quando dava a cada uma delas um ou dois shillings, e afagava suas cabeças. E a mãe delas era Magnolia, a bela, egoísta, charmosa Magnolia, um ornamento da elite londrina. Anna Robinson não era ninguém – uma prima distante sem um centavo em seu nome. Uma garota simples e comum, com nada a recomendá-la; uma garota que deveria ser grata por ter recebido uma casa no campo e três amáveis crianças para cuidar. Nunca haveria um cavaleiro elegante, ou um belo príncipe, ela disse para si mesma asperamente. A sua maior esperança era que um fazendeiro e cavalheiro gentil a quisesse. Um viúvo, provavelmente, com filhos que precisassem de cuidados maternos e que a notasse na igreja. Anna olhou para suas mãos e sorriu com orgulho de suas unhas macias e elegantes. Este era um defeito, pelo menos, que corrigira desde que deixara a escola. Seu fazendeiro carinhoso ficaria orgulhoso... Que d***a! Estava fazendo isso de novo. Tecendo fantasias com o mais fino dos fios. Perdendo tempo, quando havia mil e uma coisas a fazer na preparação da house party do primo de Magnolia. Anna correu escada abaixo.  *** O Príncipe Russo estalou o seu chicote nas ancas arqueadas de seus belos cavalos, incitando-os a uma velocidade ainda maior. A carruagem oscilou perigosamente, mas o Príncipe não se importou – Não! Lorde de Wellborn não era um príncipe, Anna disse a si mesma, asperamente. Ele era real. Ele não poderia aparecer em nenhuma de suas fantasias tolas. Mas Mrs. Wilmot tinha razão – com certeza era bonito. Anna esperou que sua prima a chamasse e a apresentasse ao seu hóspede de honra. Ele chegara apenas há alguns minutos, vestido com uma capa de viagem sem mangas e um chapéu alto de abas largas e onduladas, chegando pelo caminho em uma carruagem vistosa puxada por dois tordilhos bem combinados. Ela o vira apear-se, jogando as rédeas para o cavalariço, e adiantando-se para inspecionar seus cavalos suados antes de se voltar para cumprimentar os anfitriões. Estas eram, então, suas prioridades – os cavalos antes das pessoas. Porém, era absurdamente belo. Cabelos escuros, espessos e macios, cortados curto em volta de uma cabeça bem formada. O rosto claramente esculpido, duro em sua austeridade, o nariz longo e reto, e lábios firmes, sérios, finamente moldados. Seus maxilares também eram longos e quadrados, saindo do queixo de maneira brusca e descomprometida. Era alto, com pernas longas e duras de cavaleiro, e uma constituição física forte. Assim que tirou seu sobretudo, ela pode ver que os ombros largos não eram o efeito do estofamento, mas de uma musculatura bem desenvolvida. Um esportista, não um almofadinha... um rei pirata... Não! Um hóspede arrogante de sua prima arrogante. Anna observou-o cumprimentar Magnolia – um leve inclinar-se, uma sobrancelha arqueada e um mero toque dos lábios na mão. Ele não era um dos seus... namoricos, então. Anna suspirou de alívio. Bom. Ela odiava quando sua prima a usava e as crianças para encobrir o que ela chamava de seus “pequenos flertes”. Magnolia voltou-se para apresentá-lo àqueles da criadagem cujos nomes ele poderia precisar – o mordomo, a governanta etc. Anna o observava, notando o modo como seus olhos de pestanas espessas passavam indiferentemente por Brooks e Mrs. Wilmot. – E esta é uma prima distante, Miss Anna Thompson, que mora aqui e toma conta das coisas para mim. Anna sorriu e fez uma reverência. Os frios olhos cinza pousaram sobre ela por meio segundo somente, e continuaram. Este não é um cavaleiro galante, mas um conde c***l, calculando friamente a desgraça da h*****a. – Basta! Mrs. Wilmot estava certa. O homem agia como se esperasse que o mundo todo caísse aos seus pés. Ela se questionava sobre qual das jovens damas era sua futura esposa. Não tinha preferência por nenhuma delas, mas não podia imaginar ninguém querendo se casar com este arrogante Iceberg. – Anna! – Sua prima tinha um tom contrariado. Anna correu para dentro. – Você me chamou, prima Magnolia? – ela não se permitiu olhar para lorde de Wellborn, apesar de estar muito consciente de sua presença ali perto. – Eu pensei que havia sido clara! Sua prima gesticulava, irritada. Anna olhou para cima. Três pequenas cabeças apontavam através dos balaústres em completo desafio às ordens que Magnolia dera em relação às crianças. Elas não deveriam ser ouvidas nem vistas durante a house party. – Seus filhos, Mags? – sua voz era profunda e ressonante. Em um homem de natureza mais quente, isso poderia ser muito atraente, pensou Anna insolentemente. – Eles não querem descer? – acrescentou. Anna parou, enquanto o olhava, surpresa. O Iceberg estava interessado nos filhos de sua prima? – Não, eles não querem – disse Magnolia, rapidamente. – Já passou da hora de eles irem para a cama, e esta é uma das pequenas tarefas de Anna, certificar-se de que eles o façam. Anna! Por favor! Anna correu escada acima. Hora de eles estarem na cama, com certeza! Às cinco da tarde? E uma de suas pequenas tarefas? Entre outras cem, mais ou menos, que sua prima exigia dela diariamente em troca de casa e comida. Alcançou o segundo patamar, onde duas menininhas e um menino estavam sentados. Observada por dois pares de olhos, ergueu a menor, que apenas aprendera a andar, pegou a outra pela mão e dirigiu-se ao quarto, o menino pulando e saltando à frente. – Agora, Cooper – disse Magnolia –, Brooks lhe mostrará o seu quarto, e você pode se preparar para encontrar meus outros hóspedes no salão de jogos aproximadamente às seis. – Uma bandeja de lanche já foi providenciada, Madame, com chá quente e café, sanduíches e conhaque – disse Brooks – e a água quente já está esperando lorde de Wellborn. – Oh, bem, está bom, Brooks – disse Magnolia. – Miss Anna já providenciou isso para todos, madame. Ela fez o mesmo para todos os hóspedes – disse Brooks, escondendo um sorriso. – Apenas mais uma de suas pequenas tarefas. Faça o favor de me seguir, milorde. A madame o colocou no Quarto Azul.   *** – Anna, você deverá comer à mesa nesta noite. O p****e do Jimmy Fairfaz trouxe dois amigos com ele, e nós temos falta de damas. E você disse à cozinheira que devemos ter gansos além de frangos? Eu não tenho tempo de discutir o cardápio com ela, então você deve verificar isso. E providencie para que os hóspedes adicionais tenham as suas camas feitas. Estou exausta e preciso descansar antes do jantar. Meu Deus, eu espero que Cooper esteja grato pelo esforço que estou fazendo por ele. Ficarei feliz quando tudo tiver terminado. – Eu não tenho nada para vestir para o jantar, prima. – Meu Deus, menina, como se alguém fosse se importar com o que você veste. Você só vai completar o número de convidados. – Eu só tenho um vestido de noite, prima, aquele que você me deu há muitos anos, e deve saber que ele não cabe em mim. – Então o aumente, pelo amor de Deus! Ou vista um xale ou algo parecido sobre ele. Não espere que eu pense em tudo! Agora, me deixe imediatamente! – Está bem, prima. – Anna murmurou entre os dentes. Era contra a sua natureza submeter-se assim tão facilmente à grosseria de sua prima, mas a pobreza a ensinara a ter uma visão mais pragmática das coisas. Era insuportável ser tratada daquele modo. Por outro lado, Magnolia raramente estava presente, e a maior parte do ano só Anna, as crianças e os empregados permaneciam em Maniúgham. Na verdade, tinha uma vida encantadora. Uma órfã sem um centavo deveria ser grata por ter um teto acima de sua cabeça. Não sentir-se grata era, sem dúvida, uma deficiência em seu caráter. Anna desceu as escadas correndo. Falou com a cozinheira sobre o cardápio, com Mrs. Wilmot sobre as providências para os hóspedes inesperados, e com Brooks sobre os vinhos para o jantar, depois correu novamente escada acima para cuidar de seu vestido. Dez minutos mais tarde estava desesperada. Magnolia era menor do que ela, com uma imagem extremamente delicada. O vestido verde pálido de musselina era muito decotado no peito e nos ombros, e caía frouxamente a partir de uma cintura alta. Em Anna, o decote profundamente cavado ficava apertado, fazendo com que seus s***s se tornassem incomodamente salientes. A cintura estava apertada demais. Não era uma costureira exímia e, mesmo se o fosse, não poderia aumentar o que estava pequeno demais. Conseguiu encher o decote com renda velha, de maneira que este pelo menos a cobria decentemente, apesar de ainda estar apertado demais. Alinhavou um babado na bainha. Parecia bastante ridículo, mas ao menos cobriria seus quadris. Finalmente se envolveu em um grande xale estampado para esconder o vestido apertado. Com certeza, seria suficiente para sobreviver ao jantar. Olhou-se no espelho e fechou seus olhos em um tormento momentâneo. Ela parecia um perfeito quebra-cabeça! – Ainda assim, disse a si mesma, Magnolia estava certa. Ninguém nem a notaria.  
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