Ares
Jully sai do meu apartamento algum tempo depois de Eros, pronta para ir trabalhar. A ideia de que ela estará com ele o dia inteiro me enlouquece, deixando-me com um misto de ciúmes e fúria. Assim que ela parte, não posso evitar a necessidade de algum conversar, coisa que não é muito comum para mim, então ligo para meu irmão, Eros, para ver se ele ainda está por perto.
– Está voltando para casa? – Pergunto, imaginando que ele provavelmente já estava indo embora, já que Eros é o mais recluso entre nós.
– Na verdade, não estava indo, mas do que você precisa? – Ele pergunta com seu tom característico de curiosidade e brincadeira.
– Nada, está tudo bem, não quero te atrapalhar... – Eu começo, hesitando.
– O que tenho para fazer, pode esperar, diz logo o que quer, Ares.
Suspiro, agradecendo a disposição do meu irmão em me ouvir.
– Só precisava conversar, Eros. Sobre algumas coisas que vem acontecendo. Eu me sinto um pouco confuso agora.
Eros fica em silêncio por um momento, antes de finalmente responder.
– Claro, estou voltando para o seu apartamento. Vamos conversar.
Agradeço silenciosamente pela compreensão de Eros enquanto desligo o telefone e começo a me preparar para a conversa que está por vir, porque eu não faço ideia de por onde começar. Minha vida, que até pouco tempo era calma e constante, pelo menos no que se tratava de Jully e eu, agora parece uma montanha-russa sem fim.
Eros finalmente chega ao meu apartamento, e eu o recebo com um aceno. Ele me observa atentamente, percebendo imediatamente que algo está me incomodando.
– Vamos lá... o que está acontecendo, Ares? O que é que está te incomodando tanto? – Eros pergunta, sentando-se em uma das poltronas.
Eu suspiro, sentindo a agonia me consumindo.
– É Jully. Ela... está saindo com Nicolas.
A expressão de Eros muda de surpresa para compreensão, e ele balança a cabeça, como se estivesse processando a informação.
– Entendi. E isso te incomoda?
Assinto, incapaz de esconder meus sentimentos de ciúmes e frustração.
– Sim, me incomoda. Eu sei que não deveria, mas... é complicado, Eros. O que aconteceu entre nós foi especial, e agora vê-la com ele... é difícil de lidar.
Eros me olha com estranheza, sabendo que essa situação é uma verdadeira tormenta para mim.
– Ares, entendo o que está sentindo, mas lembre-se de que não pode controlar os sentimentos de outras pessoas. Jully e Nicolas têm o direito de escolher o que é melhor para eles. – Você contou a ela sobre...
– Eu sei, Eros, eu sei. Só... preciso de tempo para processar tudo isso. E também não sei como isso afetará a nós dois... ela não sabe de nada.
Eros coloca a mão em meu ombro.
– Seria um bom momento para pensar em contar. – Ele sorri para mim. – Vai dar tudo certo, Ares. Fico realmente feliz por ter me chamado para conversar, somos uma família, afinal de contas, só temos um ao outro.
Eu sorrio fracamente, grato por ter um irmão como Eros. A conversa não resolve todos os meus problemas, mas pelo menos me ajudou a enxergar as coisas de uma perspectiva mais clara.
– Obrigada por ter vindo... não vou mais te segurar aqu, sei que tinha algo para fazer, eu também vou resolver alguns assuntos.
Decido ir para a pista de corrida treinar após minha conversa com Eros. Sou secretamente o patrocinador desse local, e isso me proporciona algumas regalias. Durante a semana, raramente alguém aparece, então é o momento perfeito para ter um tempo a sós e focar em minha paixão.
Enquanto percorro as curvas da pista em alta velocidade, a adrenalina corre pelas minhas veias, ajudando a clarear minha mente. A sensação de liberdade que a corrida me proporciona é inigualável, e é um dos poucos momentos em que consigo esquecer temporariamente os problemas da minha vida pessoal.
À medida que acelero e a paisagem se torna um borrão ao meu redor, não consigo deixar de pensar em Jully e Nicolas. As emoções continuam tumultuadas dentro de mim, mas pelo menos aqui, na pista, consigo encontrar um breve alívio. Enquanto contorno mais uma curva, prometo a mim mesmo que encontrarei uma maneira de lidar com essa situação da melhor maneira possível, porque eu não quero perdê-la, e se precisar aceitar conviver com Nicolas for o preço para mantê-la ao meu lado, mesmo que não da maneira que gostaria, que seja.
Mas neste momento a única coisa que importa é a sensação da velocidade e da competição, e deixo-me envolver por ela, afastando temporariamente dos meus dilemas.
Paro em uma das garagens da pista para verificar um barulhinho diferente que escutei vindo do carro. Desligo o motor e saio do veículo, examinando minuciosamente a parte do motor em busca de qualquer problema. A adrenalina ainda pulsa em minhas veias, mantendo-me alerta enquanto faço a inspeção.
À medida que investigo, identifico a origem do barulho e percebo que é algo que pode ser facilmente corrigido. Pego uma chave de f***a da caixa de ferramentas que sempre mantenho no carro e começo a fazer o ajuste necessário.
Depois de concluir o reparo, dou uma última olhada no carro para garantir que tudo esteja em ordem. Com um suspiro de alívio, ligo o motor novamente e ouço com atenção...
– Você é muito bom... – Viro-me imediatamente na direção da voz feminina que ecoa atrás de mim, surpreso por ter sido visto ali. – Como vai, fantasma? – Ela pergunta com um sorriso brincando nos lábios.
A mulher diante de mim é deslumbrante, com seus olhos pretos enigmáticos e um sorriso encantador que ilumina seu rosto. As tatuagens espalhadas em sua pele dão a ela um ar ainda mais sexy.
O apelido "fantasma" fez meu corpo gelar, como ela poderia dizer isso com tanta certeza?
– Está me confundindo. – Respondo vagamente. – O que faz aqui?
A mulher dá de ombros, mantendo seu olhar misterioso.
– Você é famoso nas pistas de corrida, até mesmo entre as pessoas que não fazem parte desse mundo... pesquisei o bastante sobre você para conhecer seu estilo nas pistas, não tente me enganar, não sou tola.
– Não me disse seu nome...
– Emm... Emma Davis.