Trilogia irmãos Bacelar - Ares

Segredinho

Ares

A presença de Emma na minha zona de conforto na pista de corrida me incomodava. A única coisa que eu esperava, é que por ser nova aqui, ela não conhecesse a minha família. Eu não podia negar que a curiosidade estava me consumindo. Ela parecia saber mais sobre o Fantasma do que qualquer outro que já corre aqui a anos e seu olhar enigmático só aumentava minha intriga.

– Você realmente fez uma pesquisa profunda, não é? – Comento, tentando entender suas motivações.

Ela solta uma risada suave, como se estivesse se divertindo com a situação.

– Quando algo me intriga, eu gosto de investigar. E você, Ares Bacelar, é uma figura bastante intrigante.

A menção do meu nome completo me faz erguer uma sobrancelha. Emma Davis era, definitivamente, alguém fora do meu círculo usual.

– Não é todo dia que encontro alguém que sabe meu apelido e meu nome real. – Respondo, mantendo meus olhos fixos nos dela e sentindo um frio na espinha.

Emma parece não se incomodar com minha atitude reservada e continua com aquele sorriso enigmático.

– E você? O que faz aqui sozinho na pista? Treinando para alguma corrida secreta?

– Não é segredo que eu amo corridas, se sabe quem é o Fantasma, sabe que eu corro a muito tempo. É a minha paixão, um refúgio quando as coisas na minha vida ficam complicadas.

Emma olha ao redor, observando os detalhes da garagem.

– É um lugar especial. A velocidade, a competição... é quase como uma fuga da realidade, não é? – Ela sorri. – É o mesmo para mim... e não precisa se preocupar, seu segredo está seguro comigo. Jamais diria à alguém quem é você, quero vencer o Fantasma de forma justa!

Concordo com um aceno de cabeça, mas ainda em dúvida.

– É exatamente assim. Quando estou na pista, é como se todas as preocupações desaparecessem. É apenas a máquina, a estrada e eu. – Me aproximo um pouco mais. – Agradeço se guardar o meu segredo, mas detesto te decepcionar... você não vai me vencer, Emma. – Ela abre um sorriso lindo.

Emma não parece ofendida com a minha resposta e vejo surgir um brilho nos seus olhos.

– Você vive para isso, não é?

Assinto, reconhecendo a verdade em suas palavras.

– Sim, é parte de quem eu sou.

– Eu detesto ter que te jogar um balde de água gelada, mas eu vim aqui para te destronar. E eu amo um grande desafio.

Emma e eu continuamos conversando na garagem, e por mais estranho que pareça, não me sinto estranho compartilhando histórias e experiências. Havia algo sobre a presença dela que me intrigava, e eu estava ansioso para descobrir mais sobre essa mulher misteriosa que havia cruzado o meu caminho de forma tão inesperada naquele dia.

A conversa com fluía de maneira natural, como se já nos conhecêssemos há algum tempo. Ela parecia genuinamente interessada em conhecer mais sobre mim e minha paixão pela corrida, e eu também estava curioso para descobrir mais sobre essa mulher.

Enquanto conversávamos, percebi que compartilhávamos muitas perspectivas semelhantes sobre a corrida e o significado que ela tinha em nossas vidas. Era raro encontrar alguém que compreendesse tão profundamente a paixão que eu sentia pelas pistas.

Eu tive a sorte de conhecer duas Jully e agora ela.

– Às vezes, as pistas de corrida são o único lugar onde realmente nos sentimos vivos, não é? – Emma comentou, olhando para a pista vazia à nossa frente.

Concordei com um aceno de cabeça, incapaz de negar.

– É exatamente assim que eu me sinto. É como se o mundo lá fora desaparecesse, e é apenas você e a busca pela velocidade.

Emma sorriu, como se compartilhasse do mesmo sentimento.

– É uma sensação incrível, Ares. Correr é liberdade.

À medida que nossa conversa continuava, Emma começou a revelar mais sobre si mesma. Ela era uma mulher de muitos talentos, com experiência em diferentes áreas, o que só aumentava meu fascínio por ela.

– Você é uma pessoa bastante interessante, Emma. – Comentei, incapaz de evitar o elogio sincero.

Ela riu suavemente, parecendo apreciar o gesto.

– E você, Ares, é muito mais do que apenas um piloto de corrida famoso. Agora entendo que o dinheiro não é o que importa para você, sequer precisa dele.

Emma Davis era, sem dúvida, um enigma que eu estava disposto a decifrar.

À medida que trocávamos histórias e experiências, percebi que compartilhávamos muitos pontos em comum, não apenas no que dizia respeito à corrida, mas também em relação à nossa visão de mundo e aos valores que considerávamos importantes.

– Você tem uma perspectiva diferente sobre a vida, Emma. – Comentei, admirando sua atitude em relação à paixão pelo que fazia.

Ela sorriu.

– A vida é curta demais para não vivermos da maneira que verdadeiramente desejamos. Às vezes, é preciso correr riscos e seguir o que nos faz sentir vivos.

Aquelas palavras ecoaram em mim, fazendo-me refletir sobre minha própria vida e sobre as escolhas que havia feito até aquele momento.

– Isso é verdade.

– Às vezes, é preciso alguém que nos faça questionar o status. Estou ansiosa para competir contra você, Ares Bacelar. Será uma corrida épica.

O brilho em seus olhos e a determinação em sua voz me fizeram perceber que ela não era alguém que eu poderia subestimar. Ela era uma adversária à altura, e eu estava ansioso para ver como seriam nossos confrontos nas pistas.

– Estou ansioso por isso, Emma – inspirei profundamente. – Preciso ir, já passei tempo demais aqui, fique o quanto quiser, a pista está livre. E, por favor, não mencione nada sobre isso aqui.

Ela me deu um sorriso encantador.

– Não se preocupe, é nosso segredinho.

Após me despedir de Emma na pista de corrida, dirigi de volta para o meu apartamento. O encontro inesperado com ela tinha me deixado com uma sensação de empolgação e curiosidade. Ela era uma competidora formidável e compartilhava da mesma paixão pelas corridas que eu.

Ao chegar em casa, fui recebido pela sensação de solidão que se tornara cada vez mais frequente nos últimos tempos. Jully estava ocupada com seu novo “emprego”, e eu sentia cada vez mais distante.

Decidi tomar um banho para relaxar e clarear a mente. A água quente escorria pelo meu corpo, lavando parte das preocupações que eu carregava. Enquanto a água caía, meus pensamentos voltaram para Emma.

Ao sair do chuveiro e me enrolar em uma toalha, peguei meu celular e decidi enviar uma mensagem para Jully. Digitei uma mensagem curta, dizendo que queria falar com ela e pedindo que escolhesse o dia.

– Se o novo namoradinho deixar... – suspirei pesadamente.