003 - In The End

726 Words
Setembro de 2019 Se 15 anos atrás alguém me dissesse que hoje eu estaria sentada onde estou, riria na cara da pessoa. Mas sentada na cadeira de editora chefe do New York Times, indiscutivelmente o maior jornal em circulação e online do mundo eu sentia que estava exatamente onde deveria estar. Espero que minha mãe fique orgulhosa de mim do lugar onde está. A carreira de jornalista não foi fácil e tive que pisar em mais pessoas do que gostaria para chegar aos cargos que queria após sair da Universidade de Yale. Comecei em um cargo sofrível de colunista de fofocas e de grão em grão e ano em ano cheguei até o cargo de jornalista investigativa, isso aconteceu 8 anos atrás. E há alguns meses cheguei ao cargo mais prestigiado do jornal, com muito esforço e depois de dois Pulitzers. Não tive muito tempo para admirar a vista de Manhattan pela minha janela, já que minha secretária entrou na sala com uma caixa em mãos, embalada com um papel de presente que parecia ser caro só de olhar. —Senhora Bullworth, deixaram isso para você. Já inspecionaram e estava okay para materiais perigosos. Vou deixar na sua mesa. – Disse ela em seu carregado sotaque sulista. Abri a caixa com cuidado e me surpreendi ao ver que não passava de uma caixa sapato totalmente coberta por fita silver tape. Meu cenho franziu mas continuei a abrir o que agora parecia um daqueles experimentos estranhos de unboxing de caixas misteriosas da deep web. No momento que removi a fita quase atirei a caixa para longe, mas recuei e precisei cobrir a metade inferior do meu rosto com o cachecol que adornava meu pescoço tamanho o cheiro de podre que emanava daquilo. —Rachel, por favor chama alguém da equipe de perícia e enquanto isso me arranja um par de luvas descartáveis e uma máscara. O mais rápido possível. Continuei tampando meu rosto com o tecido mas utilizei a ponta de uma caneta para abrir a tampa da caixa de sapato, do mesmo jeito que alguém cutuca um inseto morto para ter certeza de que está mesmo abatido. Rachel teve uma gloriosa visão de sua chefe colocando todo o conteúdo do estômago para fora quando abriu a porta da minha sala. Em todos esses anos de profissão já tinha recebido diversas coisas pelo correio, algumas que me renderam manchetes premiadas, mas era a primeira vez que recebia um órgão completamente sangrento dentro de uma caixa de sapato velha. Coloquei rapidamente a máscara e as luvas que ela me forneceu e pedi para que se retirasse da sala. Dentro da caixa estava contido um coração, eu tinha certeza que era um porque já li matérias o suficiente sobre problemas cardíacos para reconhecer um. Junto dele estava uma quantidade enorme de sangue coagulado, o que eu imaginava que devia estar deixando aquele cheiro fétido, além de algumas coisas dentro de sacos de ziploc. Foi nesse momento que a equipe de perícia do jornal chegou. Eles assumiram a tarefa de descobrir o conteúdo daqueles saquinhos. Um pen drive dentro de um e um rolo de filme para máquinas fotográficas analógicas. —Senhora, acho que vai querer olhar no que tem aqui. – Um dos estagiários me apontou para o que parecia ser uma folha por debaixo do coração. Arqueei uma das sobrancelhas e puxei a ponta do papel, o que fez com que o coração rolasse para o lado com um barulho nojento que fez todo mundo se arrepiar. Na verdade, aquilo era uma fotografia, limpei com um lenço de papel daqueles que usamos para limpar o nariz e mesmo borrada com sangue seco dava para claramente visualizar duas mãos masculinas recebendo uma maleta cheira de dinheiro, não era possível discernir quem era a pessoa, mas claramente utilizava um broche republicano do tipo que só quem trabalha no Congresso tem. —Chamem a polícia, mas não entreguem nem o pen drive e nem o filme fotográfico. Descubram o que tem dentro de cada um. Brian, tira fotos disso aqui e me traga num arquivo físico, nada de cópias digitais. – Ordenei, dando a fotografia para o estagiário. Nada me tirava da cabeça o porquê de aquilo ter sido enviado para mim. Muito menos a frase que estava escrita atrás: "Nem sempre o que vemos e ouvimos é a realidade Sophie."
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