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1470 Words
Uma batida firme na porta o arrancou Gael de seus pensamentos. Ele não precisou perguntar para saber quem era. Lucios. O supremo alfa nunca esperava por permissão para entrar. A porta se abriu antes que Gael pudesse reagir, e Lucios atravessou o umbral com sua presença imponente. Os olhos dourados do alfa brilharam com autoridade enquanto analisavam Gael. O rosnado de Vulcano veio automaticamente. A cada dia, seu lobo interior ficava mais forte, mais dominante, e se submeter a Lucios estava se tornando um desafio. Vulcano queria lutar, queria reivindicar sua posição. Gael respirou fundo, forçando-se a conter o instinto de confronto. "Desculpa", murmurou, fechando os olhos por um instante. Lucios apenas sorriu. "É coisa de lobo. Não tem por que se desculpar, meu filho." Gael não desviou o olhar. Ele sabia o motivo da visita de Lucios e queria adiar aquela conversa o máximo possível. Mas o supremo alfa não lhe daria essa escolha. "Hoje é o primeiro dia das aulas", disse Lucios, cruzando os braços. "Sei que quer continuar treinando aqui, mas chegou a hora de você e Heron voltarem para seu bando de origem." Gael sentiu seu estômago se revirar. Voltar para o bando Estrela da Noite? Para o lugar onde sua mãe foi assassinada? Para o lugar onde seu pai jazia imóvel, preso em um coma interminável? Para Ava… Ele engoliu em seco, mas manteve a expressão neutra. "O que mudou?" perguntou, mesmo já sabendo a resposta. Lucios suspirou e passou a mão pelos cabelos escuros. "Meus irmãos continuam sendo um problema", disse ele, a voz carregada de frustração. Os três irmãos gananciosos do supremo alfa estavam sempre de olho no trono. Até agora, acreditavam que Heron era o verdadeiro herdeiro, e por isso mantinham um respeito forçado. Mas se descobrissem que Gael era o sucessor legítimo, a guerra se tornaria inevitável. Eles fariam de tudo para matá-lo antes que ele tivesse força suficiente para desafiar Lucios pelo trono. O próprio supremo alfa sabia que esse dia viria, mas ainda não era a hora. Gael precisava estar preparado. E para isso, deveria partir. "Seu bando te viu crescer, Gael. Eles são leais a você, mesmo sob o comando de seu tio Vitor. Lá, você estará mais seguro até que esteja pronto para tomar seu lugar." Seguro. A palavra soou estranha para ele. Lucios acreditava que ele estaria protegido no bando Estrela da Noite. Mas Gael não via dessa forma. Aquele lugar continha tudo o que ele passou anos tentando enterrar. E agora, ele teria que encarar isso de frente. Gael respirou fundo, sentindo o peso de sua decisão se aproximar. Voltar significava enfrentar seu passado. E enfrentar Ava. Se ela fosse sua companheira… Ele não sabia o que faria. Mas então ele diz a si mesmo: “Não há escolha ela é filha do traidor, eu tenho o dever de odiá-la, e assim vai ser independente de qualquer coisa” Dentro dele Vulcano choraminga , mas com essa decisão tomada Gael vira para Lucios e diz: “Certo partiremos essa tarde , estaremos lá para as aulas de amanha” Enquanto isso no bando Estrela da Noite, Ava assim que teve certeza de que não seria vista, ela correu pelos fundos da casa, movendo-se o mais rápido que suas pernas permitiam. Sabia exatamente o caminho que precisava seguir—se chegasse aos porões sem ser notada, poderia trocar de roupa antes de ir para a enfermaria. Ela ofegava levemente enquanto descia a escada estreita e úmida que levava ao porão. No quarto sem perder tempo, arrancou o uniforme surrado e o jogou sobre a cama. Vestiu o vestido de sempre o que se parecia com um saco de batata. Sem se permitir mais tempo para lamentações, saiu do quarto e correu para a enfermaria. Ava gostava de estar ali. O ambiente era tranquilo, e, diferentemente dos outros lugares da casa, ninguém a tratava como um fardo. A enfermaria estava quase sempre vazia—os lobos raramente adoeciam—mas havia uma pessoa que ela visitava religiosamente. O Alfa João. Mesmo após sete anos, ele permanecia em um coma profundo. A maioria do bando já tinha perdido a esperança de que ele algum dia despertaria. Exceto Ava e Gama Pedro. Ava pegou um balde com água e um pano e começou a limpar a enfermaria. Quando terminou, olhou para o corredor e, certificando-se de que não havia ninguém por perto, deslizou para perto do Alfa João. O Alfa parecia estar dormindo. Seu rosto ainda era forte e imponente, mas o tempo cobrava seu preço. Seus cabelos, antes completamente negros, agora tinham mechas grisalhas espalhadas entre os fios. Ava se aproximou da cama e segurou a mão dele com cuidado. “Oi, tio,” ela sussurrou, como fazia todas as noites. “Hoje foi um dia difícil, mas nada de novo, certo?” Ela sorriu, embora soubesse que ele não podia vê-la. Fechou os olhos por um momento, buscando conforto na presença silenciosa dele. “Lisa quase jogou comida em mim de novo, mas acho que ela percebeu que não valia a pena se sujar,” ela continuou. “Os ômegas estavam ocupados demais, então tive que limpar a enfermaria mais cedo. E agora estou aqui.” Ela apertou a mão dele com mais força. “Tio, você podia, por favor, acordar? Sei que, se acordasse, contaria a todos que meu pai nunca foi um traidor e me tiraria dessa vida.” Silêncio. Ava esperou, como se, dessa vez, ele fosse abrir os olhos e confirmar suas palavras. Mas nada mudou. Ela abaixou a cabeça, sentindo os olhos arderem. A porta do quarto se abriu de repente. Ava deu um pulo, o coração martelando no peito. No batente da porta estava Gama Pedro, um homem rechonchudo de expressão cansada, mas gentil. Ele cruzou os braços e suspirou ao vê-la. “Ava, se Vitor te pega aqui, ele te mata.” A voz dele era grave, carregada de preocupação. “Você sabe que eu não posso te proteger dele.” Os olhos de Ava se encheram de lágrimas. “Eu sei…” Sua voz saiu tremida. “Eu só sinto saudade dele. Depois que meu pai se foi, ele é o que eu tenho de mais próximo de um pai.” Pedro suspirou, passando a mão pelos cabelos ralos. Ele a olhou por um momento antes de se aproximar e pousar uma mão pesada sobre seu ombro. “Agora vá,” ele disse, sua voz mais suave. “Está na hora de servir o jantar. Se você não estiver lá, Vitor vai te castigar.” Ava assentiu, engolindo o nó na garganta. Ela lançou um último olhar para João, desejando mais do que tudo que ele acordasse. Mas ele permaneceu imóvel. Sem outra escolha, correu para fora do quarto. Ela precisava estar no salão antes que fosse tarde demais. Por um milagre, Ava chegou a tempo. Ofegante, mas tentando recuperar a compostura, correu para a cozinha e pegou uma das bandejas que os ômegas estavam distribuindo. O cheiro de carne assada e temperos enchia o ambiente, e ela se forçou a ignorar o protesto de seu estômago vazio enquanto seguia os outros ômegas para o grande salão de jantar da casa da matilha. No centro, várias mesas estavam dispostas, separadas de acordo com a hierarquia da matilha. A mais importante de todas ficava sobre uma espécie de palanque elevado, onde Vitor, o Alfa provisório, se sentava ao lado de sua companheira e de sua filha, Tiana. Tiana era uma jovem loba tímida, que raramente olhava diretamente para alguém e falava pouco. Seu comportamento discreto era o oposto do de seu pai, cuja presença emanava arrogância e controle absoluto sobre todos no recinto. As demais mesas eram ocupadas pelas famílias do bando, organizadas por importância—quanto mais perto estivessem da mesa de Vitor, mais prestígio tinham. Ava, ao observar a distribuição, não pôde evitar a melancolia ao lembrar que, sete anos antes, sua família também ocupava um lugar de destaque ali. Agora, ela não passava de uma criada, um fantasma que muitos preferiam ignorar. Segurando firme a bandeja, Ava se forçou a manter a cabeça baixa e seguiu para sua tarefa. Seus olhos captaram um dos ômegas já servindo a mesa de Vitor, e por um breve instante, ela sentiu um alívio percorrer seu corpo. Vitor parecia mais irritado do que o normal. Os músculos dele estavam tensos, a mandíbula cerrada, e ele tamborilava os dedos sobre a mesa de maneira impaciente. Qualquer um que o conhecesse sabia que isso significava perigo. Ava estremeceu e, sem pensar, murmurou uma oração silenciosa. “Por favor, que nada chame a atenção dele para mim.” Se Vitor a notasse, usaria qualquer desculpa para puni-la. E, pelo seu humor visivelmente instável, isso significava que ela seria seu saco de pancadas naquela noite.
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