18

995 Words
Maria Clara Narrando - Depois de ter almoçado, o folgado foi embora e eu fiquei na minha, curtindo meu celular. Me sentindo viva e livre novamente, mesmo que eu não saiba até quando vai durar isso. A gente só dar valor pra algo até perdê-lo e isso é muito real, você ter direito de ir e vir, fazer o que quiser, quando quiser e na hora que quiser, não tem preço. Pensei que nunca iria conseguir me livrar do Ferrugem, mas Deus me deu uma segunda chance e eu vou fazer valer a pena. Vou me resguardar de tudo para que ele não me pegue, nem que pra isso eu tenha que entrar pro crime pra me proteger, não tenho medo de mais nada e não tenho nada a perder além da minha vida. Ele pode até tentar, mas eu vou morrer tentando ficar livre desse bosta. - Mesmo querendo não pensar nisso, é impossível. Perdi 6 meses da minha vida, convivendo com um homem psicopata, sem dormir, sem comer direito e sem ter o mínimo de dignidade. Agora que me sinto livre, não vou parar nas mãos dele novamente. Só de lembrar meu corpo treme de ódio e nunca tive esse tipo de sentimento, sempre me carreguei de coisas boas e boas energias, mas a vida nos prega cada coisa que fica impossível ter só sentimentos bons dentro de si. Eu não sou mais a mesma a muito tempo, carrego uma mágoa e uma raiva tão grande dentro de mim, que se eu pudesse matava esse cara sem nem pensar duas vezes e viveria presa mas em paz. -Essa aqui é enorme pra mim, fico perdida dentro dela. Mas não sei porque, aqui eu me sinto em casa. Exatamente como eu me sentia na minha casa com o meu pai, esse sentimento é tão bom. Não sei até quanto vai durar, mas vou curtir da melhor maneira possível esses momentos. Estava cambaleando de sono e não me entregava ao sono, vou pedir o Terror pelo menos uma pistola, eu me sentiria mais segura e me entregaria ao sono, não tem como ficar dias sem dormir, se eu cair doente vai ser horrível. Queria dar uma volta no morro pra conhecer e esse sono sair de mim, mas nem uma roupa descente tenho. Vou esperar a minha secar e ir em alguma loja comprar o que preciso, tá difícil viver só com uma roupa, só Jesus. - Queria tanto sonhar com o meu paizinho, as vezes a saudade dele é esmagadora, fico pensando em tantas coisas, como tudo poderia ter sido diferente se ele me falasse que estava doente. - Fui olhar minha roupa na corda e já estava seca, coloquei e me ajeitei na medida do possível, não tenho nada aqui, não tem muita coisa pra fazer. Então desci as escadas indo em direção a porta, tomara que aqui tenha algumas roupas que eu goste, se bem que eu não posso escolher muito, já que eu não tenho nada. - Fechei o portão e fui andando pelas ruas, a Rocinha é linda e sem exagero. Esse morro tem o molho do carioca, tá explicado porque aqui é ponto turístico. Tudo é muito lindo e as pessoas são mega simpáticas, umas senhoras passaram por mim e deram boa tarde, não estou acostumada com essa recepção. O sol tá escaldante, imagine você morar em uma favela linda dessas e de cara com a praia de São Conrado, é surreal. Uma pena eu não poder viver da forma que gostaria aqui, mas de qualquer forma, só ficando dentro do morro com a minha liberdade já está de bom tamanho. - Entrei em uma loja e a atendente super atenciosa, me mostrou diversas peças de roupas e tudo baratinho, do jeito que eu gosto. Comprei bastante coisa, ele me deu um dinheiro absurdo, não sei pra que isso tudo. Já vi que esse homem é um tanto exagerado. Fui em outras lojas e fiz mais umas compras, comprei um perfume e um hidratante, preciso recuperar minha dignidade. Comprei um chinelo e uma sandália, pelo menos uma de guerra eu vou ter que ter. Depois fui na farmácia, comprei coisas de fazer unhas, coisas para o cabelo e em frente a farmácia tinha uma loja de maquiagens, comprei só o básico já que não sou muito de usar e fui pra casa cheia de sacolas, quase me perdendo nesse labirinto chamado Rocinha. Estava na calçada subindo e um barulho de moto passou por mim, tomei um susto e um cara do movimento encostou. Costela: Qual foi mina, quer ajuda? Maria Clara: Não precisa, obrigada. Costela: Bora, eu te ajudo. Tá cheia de sacolas aí. Maria Clara: Vou aceitar porque estou mesmo hahahahah. - Ele pegou algumas sacolas e eu subi na sua garupa, subimos e algumas pessoas ficaram olhando, mas não ligo pra isso, até porque sou moradora nova, é super normal isso. Chegamos no portão de casa e ele me ajudou a colocar as sacolas dentro de casa e eu ofereci um copo de coca, tentado ser gentil e grata por ele ter me ajudando. Maria Clara: Quer um copo de coca? Costela: Vou aceitar sim. - Fui até a cozinha e peguei um copo para servir ele, voltei pra sala e entreguei, depois ele se despediu e foi agora. Aquele sentimento de ansiedade me acertou em cheio vendo minhas coisas na sala, tantas sacolas, estou feliz demais e mesmo não sabendo até quando vai durar isso. Arrumei todas as minhas coisas, depois fiz minhas unhas, pintando de vermelho o pé e as mãos, fiz uma hidratação no meu cabelo, depois limpei minhas sobrancelhas. Fui me cuidando e vendo a nova mulher que estava surgindo, essa sensação não tem preço. Durante tempos ficava olhando no espelho e não me reconhecia, parece que agora a Maria Clara está voltando e eu estou amando isso. Meu pai com toda certeza está feliz me vendo de onde quer que ele esteja.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD