Joias da Coroa part 1

1767 Words
Malva Denaro _ Não precisam se preocupar, eu não tenho a intenção de dançar ou conversar com homem nenhum. - Na realidade eu não quero e conversar com ninguém. Também, fui execrada da convivência desse meio por dez oito anos, mesmo que eu quisesse puxar assunto, não conheço ninguém e muito menos tenho qualquer vínculo de i********e para isso. Por vontade própria eu não estaria aqui e sim debaixo das minhas cobertas vendo um filme ou série na TV acompanhada por um balde de pipocas cobertas por manteiga. No fim das contas, não tem jeito: vou ter que me juntar a tantas outras jovens que estão aqui. Percebo que todas se prepararam com tanto cuidado para este evento. É como se estivessem em uma competição silenciosa para ver quem brilha mais, quem exibe o vestido mais deslumbrante. Uma senhora se aproxima e nos conduz até as mesas, apontando para a nossa, que está identificada com uma placa exibindo nosso sobrenome. Tudo neste lugar é de uma beleza estonteante, desde as rosas brancas entrelaçadas com flores em tons alaranjados até as toalhas ricamente bordadas. O pedestal que sustenta o arranjo é de cristal e mede cerca de cinquenta centímetros. A louça é tão delicada que dá até um certo receio de tocar! Os talheres brilham como se fossem espelhos, verdadeiras obras de arte! — Coloque um sorriso nesse rosto, Malva! — uma cutucada nas minhas costelas quase me faz perder o equilíbrio nos meus saltos finos. Logo entendo o motivo do pedido feito ppr minha mãe; dona Gemma Falzone está se aproximando. Forço um sorriso quando a esposa do homem mais influente da Sicília se aproxima e nos cumprimenta. — Sejam muito bem-vindos, meus queridos! — não posso deixar de admirar a elegância dela, com seus cabelos claros e olhar penetrante. Seu vestido azul contrasta maravilhosamente com seus olhos; a peça, cheia de camadas, se move graciosamente enquanto ela caminha, dando a impressão de que está flutuando, e não apenas andando. — Nós é que agradecemos pelo convite! — meu pai responde com respeito. _ Parabéns pelas bodas! Como sempre, suas recepções são impecáveis! - minha mãe exclamou, cheia de entusiasmo. A grandiosidade do evento é inegável. _ Obrigada, minha querida! Você é sempre tão encantadora! - Gemma desvia o olhar para mim - Mas que bella ragazza! - diz com um sorriso sutil. _ É a Malva, nossa filha, senhora Falzone? Lembra dela? - meu pai pergunta em um tom baixo. _ Claro que sim! A pequena que adorava correr pelo meu jardim! - é tem isso também, por aqui os jardins são enormes e eu amava brincar que estava perdida na mata - Sei diventata una bellissima donna! ( Tornou-se uma linda mulher)- A timidez me envolve, mas não consigo deixar de sorrir e agradecer à anfitriã. _ Malva está deslumbrante! - meu pai repete o elogio da senhora Gemma, olhando para minha mãe como se a afirmação da matriarca Falzone fosse um marco - Minha filha é uma jovem responsável e estudiosa. Só nos enche de orgulho! - Não sei se estou corando de vergonha ou de timidez ao ver meu pai quase colocando uma placa em meu pescoço com os dizeres: "pronta para casar!" _ É claro que não poderia ser diferente, sendo filha de Giovanna e Orazio, não poderíamos esperar menos da menina! - Oi?? Como é?? Não ouvi direito?? Ouvi??- Sintam-se à vontade, preciso recepcionar alguns convidados que estão chegando. - Sua voz é suave e acolhedora - Um prazer revê-la, Malva. - diz antes de se afastar em outra direção. _ Vamos nos sentar. Certamente Cosimo aparecerá a qualquer momento. Como é costumeiro, nos reuniremos para dar algumas pinceladas sobre assuntos de negócios. Então, eu peço as duas polidez. - meu pai quer a imagem da família perfeita. Tomamos nossos lugares à mesa, que se encontra à beira da piscina externa. Escolhi uma cadeira afastada do espelho d'água, na esperança de evitar qualquer "acidente" que me deixasse encharcada. Sabendo como sou, tudo é possível. Melhor prevenir do que remediar. Meus olhos se fixam em Cosimo, que está cercado por seus homens; como sempre, ele se apresenta imponente, bem vestido, com uma expressão que revela poucos amigos. Seu olhar é afiado e atento, como o de uma águia que observa de longe, um verdadeiro lobo velho do clã, como meu pai costuma chamá-lo. Então, percebo quando, com um leve gesto, Cosimo sinaliza para que um de seus seguranças se aproxime da nossa mesa. Existe essa regra: ninguém pode se dirigir ao Don sem que ele o convoque. Se ele quiser falar com você, chamará; caso contrário, nem pense em se aproximar, pois isso é uma ofensa gravíssima que pode acarretar sérias consequências. — Com licença! — olho para o moreno alto, de ombros largos e olhos cor de café. Contenho um grito de dor ao receber um beliscão que quase me faz chorar. — Senhor Orazio, o Don pede sua presença. — Sua voz é firme e as veias salientes de sua mão esquerda demonstram sua força. — Ah, sim, agradeço por me avisar, Lino. — Então, o nome dele é Lino! Lino de quê? Dona Giovanna crava suas unhas em meus braços, e olho para minha mãe, que está visivelmente alarmada. Seus olhos brilham com raiva. — Talvez eu demore. — meu pai diz, lançando um olhar cheio de advertências para a mulher que parece pronta para me devorar viva. Os dois se afastam. — Você está perdendo a razão, garota! - olhando abertamente para um m****o masculino do clã! Quer que pense o que de você? E se ele tiver esposa e ela se queixar do seu comportamento com o Falzone, hein? Já pensou nisso! - minha mãe ralha baixinho com a voz áspera. _ Não tem, ele não usa aliança! - respondo massageando a área afetada pelos ataques de fúria da dona Giovanna. _ Não acredito que reparou nisso?! Nem pense nisso Malva! Nem pense! - fala abrindo um sorriso forçado para que ninguém perceba que estou sendo chamada atenção. _ Pensar em quê? Eu só vi! Não é algo que eu não possa dizer que não tinha como não ver! - falo, esbarrando o meu cotovelo na taça que cai por cima dos talheres e faz aquele barulho de vidro sendo quebrado. Algumas pessoas olham na nossa direção. Fico desconcertada. _ Tenha mais cuidado, Malva! - minha mãe pede, olhando para o desastre que acabei de cometer. Penso em erguer-me e ir atrás de um garçom para arrumar a cagada que fiz, no entanto não é preciso porque um surge como se tivesse descido do céu ou emergido de um buraco do chão. Pronto essa festa já está se iniciando muito boa para mim! O garçom da mesma forma que chega, ele saí sem falar um A. _ Veja, Malva. Lembra deles? Os herdeiros do Falzone. Você era muito pequena quando os viu pela última vez, talvez não se recorde muito. - Dona Giovanna olha discretamente na direção onde três homens conversam afastados do maior grupo onde Cosimo está. Porém, mesmo dentro da grande fortaleza que isso aqui é - fortaleza n***a como meu pai denomina- os seguranças estão sempre atentos e os três homem estão cercados por quatro soldados muito bem armados. A última vez que avistei os filhos do Don foi quando completei dez anos. Era uma reunião familiar em um imenso salão aqui em Palermo. Não consigo esquecer os três beliscões que minha mãe me deu por fazer barulho com o talher ao arranhar o fundo da porcelana enquanto tentava cortar um pedaço do meu bife. Depois disso, meu pai decidiu que eu só participaria de eventos quando estivesse mais madura e soubesse me comportar com elegância. Oito anos se passaram e aqui estou eu, na cova dos leões. Os herdeiros de Cosimo se tornaram homens tão cruéis quanto o pai. Eles forjaram seus nomes através de ações brutais. Costumo escutar as conversas dos meus pais atrás da porta; não me considerem uma fofoqueira, apenas busco estar informada, já que muitos assuntos são ocultados de mim. Faço isso porque meu maior medo é que me arrumem um noivado e eu seja pega de surpresa! Isso nunca! Acho que incendiaria a Itália inteira! Ao ouvir as conversas dos meus progenitores, descobri que o mais velho é o mais violento, o do meio é um masoquista, e o caçula é a p***a de um psicopata que detesta ser tocado por qualquer um. A família é uma desgraça só. No submundo, eles são conhecidos como a Maledetta famiglia (família maldita), e Ettore, primogênito da diaba e do d***o, é a encarnação do capeta na terra, o próprio Maledite em forma humana. Meu pai relatou para a minha mãe que ele mesmo quase não aguentou ao ver o Maledite picotar dois homens vivos. _ Ettore parecia um robô! Não vi sentimentos nenhum sem sua expressão conforme descia o machado nos membros dos homens que deviam ao Cosimo. Giovanna, nunca tive medo de coisa alguma, mas hoje eu senti de Ettore. Ele é violento, quebrou as costelas dos indivíduos aos socos. Decepou as mãos dos infelizes enquanto degustava de uma dose de bebida. - escutei o relato inteiro e me lasquei, eu tinha quatorze anos na época e fui dormir com o r**o que não passava nem fiapo de vento! Para piorar caia uma chuva absurda com direito a relâmpagos e trovões. Meu coração bateu na guela, nos pés, na barriga, menos no lugar certo. Tudo pelo medo de o Maledite vir me pegar. Desvio o meu olhar, antes que receba mais beliscão. _ Eles são de causar arrepios, mãe !- profiro mergulhada nas lembranças das palavras que ouvi. _ Causando ou não arrepios; percebe que a maioria das moças que estão aqui querem ser notadas e escolhida por eles? - Que façam um bom proveito da trinca dos infernos! _ Nem me recordava dos rostos deles. - sou sincera, como era só uma menina e não sabia muito sobre nada desse universo diferente que pertencemos, as poucas lembranças das fisionomias dos herdeiros foram sendo apagadas da minha memória. Restou somente as histórias que meu pai contava e conta para minha mãe. _ Mudaram, minha filha, estão mais encorpados e para delírios da mocinhas, ainda são solteiros. - meu não! Passo os capetinhas de bandeja para qualquer uma! - São alvos cobiçados! - Dona Giovanna exprime olhando para os responsáveis por perpetuar o nome Falzone pela face dessa terra. - Ettore, Felippo e Nero as joias da coroa da Cosa Nostra. Meu corpo treme ao ouvir o nome deles. Continua....
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