Joias da Coroa part2

1611 Words
Malva Denaro O tempo avança e, entre iguarias requintadas e sofisticadas, além de bebidas sem álcool – se eu ousar provar uma gota de álcool, meu pai me estrangula – minha mãe decide que é hora de cumprimentar algumas damas da máfia, esposas e filhas de outros caporegime. Sou obrigada a acompanhá-la, para mostrar que sou educada e sei me comportar em público. — Olá, Giovanna, decidiu nos brindar com a presença da sua filha? — Pronto! Já não gostei dessa ruiva com cara de quem não tomou banho! Seus olhos castanhos me avaliam de cima a baixo, e logo seu nariz se torce em desdém. — Como vai, Eleonora? — minha mãe solta aquele sorriso forçado que denuncia sua vontade de atacar alguém quando fica irritada. — Malva tem uma agenda muito cheia, por isso sempre se ausentou dos eventos familiares. — Que mentirosa! Ela é quem não queria que eu a fizesse passar vergonha; ela e meu pai! Olhei para minha mãe, chocada com a audácia da afirmação. — É evidente que a etiqueta não foi um dos itens dessa agenda — a ruiva dispara com sarcasmo, e algumas mulheres riem! Elas estão rindo de mim! Que grupo de filhas de uma... olha! — Vou voltar para o meu lugar, mãe, o ar aqui está insuportável, fede a carniça! — se é para causar, então que comece! Recebo todos os tipos de olhares antes de dar as costas e sair. Ninguém vai me menosprezar! Sento à mesa, com o sangue fervendo. Quem pensa que na máfia todos são unidos, está muito enganado; na verdade, cada um só pensa em si mesmo. Pisam um na cabeça do outro se preciso for para ficar bem visto pelo líder. Entre um gole de suco e outro, a urgência de ir ao banheiro se torna incontrolável. Algo sempre acontece quando estamos entediados e decidimos encher o estômago como se isso fosse a solução. Procuro pela minha mãe, mas para o meu desespero, ela não está à vista. Vasculho o ambiente com o olhar, mas nada. Sem muitas alternativas, resolvo partir sozinha em busca de um toalete. Levanto-me rapidamente, a bexiga ardendo por conta da retenção. Concluo que os banheiros só podem ser os da mansão, já que aqui fora, onde a festa acontece, não há sinal de nenhum. Caminho apressada, levantando a barra do vestido para não tropeçar e cair de cara na grama. Já pensou na cena? O Senhor Orazio ficaria bem mais envergonhado do que eu! Formulo um plano na minha cabeça para abordar algum funcionário e perguntar onde posso encontrar um banheiro. Aqui fora tudo parece igual, mas a casa pode estar diferente; quem sabe fizeram reformas? Não tem erro, Malva, pergunta, usa e sai rapidinho. Vai ser fácil, não há motivo para ficar nervosa. Estou nervosa? Claro que não! É só... Bum! Colido com algo duro e... meu Deus! Quase vou ao chão, mas mãos firmes me seguram pelos ombros. _ Pe... perdão, eu não vi e... Minhas palavras se perdem enquanto levanto os olhos e me deparo com o Don da Cosa Nostra. Meu coração acelera, meus olhos se arregalam! Eu esbarrei no Don Cosimo Falzone! Se meu pai souber, coitada de mim! _ Desculpe! Eu não o vi, o vestido da barra... não, quero dizer a barra do sapato foi no vestido....- Ou droga! porque eu me enrolo toda quando fico nervosa?! Sinto que meu nervosismo é tão evidente que o senhor Falzone deve estar percebendo! E não é para menos, com aqueles olhos azuis que mais parecem lagos congelados! Não sei como não estou completamente mijada de medo! — Calma, ragazza — ele diz ao me soltar. Seus olhos oscilam entre uma severidade inquietante e uma astúcia cheia de desconfiança. Estou prestes a desmaiar! — Filha de quem você é? — Ai, lascou! Ele vai contar para meu pai sobre essa situação constrangedora. Seus olhos se estreitam, e tenho a impressão de que estou mais pálida do que o vestido que visto. — Orazio Denaro, Don Falzone — respondo, recuando dois passos, seguindo as normas do clã. Um m****o nunca deve se aproximar demais do líder. E, de jeito nenhum, chame o Don pelo primeiro nome; isso é um privilégio reservado apenas à esposa e aos filhos. — Denaro, sim! — O homem fixa o olhar no vazio, como se estivesse buscando algo em sua memória. Então, ele volta a me encarar. — Seu nome? — Meu Deus, acho que vou ter um colapso! — Malva, senhor — respondo, mais tensa do que um fio de alta tensão. — Está gostando da festa? — Ele parece querer testar meus nervos, que já estão no limite! — Sim, Don, agradeço pelo convite — digo, aliviada por causa da saia longa do vestido; se não fosse isso, ele veria meus joelhos tremendo. O homem, com uma expressão impassível, me observa por alguns segundos que parecem uma eternidade. — Cuidado ao andar, Malva. Você pode se machucar — foi um aviso ou uma ameaça? Ele se afasta, e eu não sinto as minhas pernas. Respiro fundo, reunindo coragem, e adentro a casa rapidamente. Meu objetivo é a cozinha, um espaço repleto de funcionários em plena atividade. Sigo o som das vozes, que são muitas. Lembro que, em dias normais, a equipe já era numerosa, e com o evento, esse número deve ter dobrado. Logo avisto uma imensa porta de vidro transparente e consigo ver as pessoas se movendo apressadas lá dentro. Mulheres transitam com bandejas cheias, enquanto outras chegam com as vazias. — Com licença! Alguém poderia me dizer onde fica o banheiro? — Falo, mas ou sou muito tímida ou simplesmente não me notam parada na porta. Será que me tornei invisível sem perceber?! Uma senhora passa por mim e eu me viro para ela. — Oi! A senhora pode… — Mas ela me ignora como se eu fosse um mero saco de batatas! Que raiva! Queria gritar para ver se alguém me dá atenção! A situação se torna crítica; a vontade de ir ao banheiro aperta e eu começo a fazer a famosa dancinha do xixi. Que situação, meu Deus! Decido então que vou revirar a casa sozinha em busca de um banheiro. Mas, de repente, esbarro com uma bandeja. O som do vidro se estilhaçando ecoa pelo ambiente. Dou um pulo para trás, assustada, e coloco as mãos na boca, observando a destruição das taças. Por sorte, estavam vazias. Nesse momento, todos na cozinha se viram para mim. É sempre assim: só chamamos atenção quando algo catastrófico acontece! — Scuza-me! Peço desculpas, envergonhada. Um dos garçons me lança um olhar fulminante. — Cazzo! Ginno! Quebrou os cristais! — brada um homem ao se aproximar de mim. — Essa senhorita desastrada esbarrou em mim! Não pude fazer nada! — justifica o garçom, visivelmente nervoso. Fico com o rosto colado no chão, ciente de que a culpa é toda minha por não ter prestado atenção ao tentar sair. Os olhos escuros do homem, que veste um terno grafite, se encontram com os meus. — Perdão, senhorita, mas o lugar de convidado não é na cozinha. — Olha só! Estou levando um fora! Pode uma coisa dessas?! — Eu estou aqui há um bom tempo, pedindo informações sobre onde encontrar um banheiro, e ninguém teve a decência de me ajudar. — Estou indignada com a situação! — As damas devem usar o banheiro do segundo andar, porta à esquerda no final do corredor. Os toaletes do térreo são reservados apenas para os cavalheiros. Ordens da senhora Falzone. Minha boca se abre em um "O" perfeito. Como eu iria conseguir subir aquela escada com a bexiga quase estourando? — Obrigada! — Sem alternativas, deixo a cozinha. Penso se poderia me aliviar em um dos jardins, escondida atrás de um arbusto. Mas assim que a ideia surge, ela se dissipa como fumaça. A quantidade de câmeras que capturariam minha derradeira cena de estar com o buzanfam ao vento não dá para contar nos dedos! Ao chegar na imensa sala, praguejo em voz baixa. A escada é colossal, com mais de vinte degraus, já que o pé direito da sala é altíssimo. Todo castigo para corno é pouco! Eu nem tenho um namoradico para dizer que estou levando uns galhos, mas a falta de sorte está sinistra. O que mais pode acontecer? Subo cada degrau chamando Jesus de Genésio tamanho é o meu desepero. _ Minha mãe queria que eu colocasse uma cinta para afinar ainda mais a minha cintura! - penso que nesse momento eu estaria mais do que perdida! - falo sozinha. Quando chego no topo é como se eu tivesse vencido uma competição de resistência. Disparo pelo corredor como se tivesse praticando marcha rítmica. _ Ai, Jesus! Ai, Jesusinho! Ai, minha nossa, nossa, nossa! A coisa tá feia! Adentro ai banheiro feito um furacão daqueles que assolam a costa americana e tem sempre nome de mulher: Arlene, Cindy, Emily, Irma, Katia, Maria, Ophelia, Rina, Tammy, Whitney. A lâmpada acende sozinha, sensor de presença, corro na direção do vaso. Nunca fiquei tão feliz ao ver um! Porém é a hora do contorcionismo, para poder mijar sem molhar o vestido e se equilibrar nos saltos. Eu que não encosto a minha pretheca na borda desse vazo. Vai que tem a miséria de uma bactéria só esperando para fazer aquele estrago na xexeca de alguém? A minha que não vai ser! O alívio vem conforme desprezo os 95 % da de água e 3% de uréia (composição da urina). O ar de satisfação toma minha face. Como é bom fazer xixi! Aviso: por hoje é só amanhã retornarmos com mais Malva! Bjs!!!
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