Mas os meus irmãos, tinham planos diferente dos meus.
Quando chegamos do cartório, após a venda do terreno, cada um com seus saldos bancários no positivo, a verdade é que a minha conta parecia ser a única a ter recebido tanto dinheiro, Mário não mudou nada, e Zaya, exceto pelo cabelo assanhado, um pouco de unhada que levou da nossa irmã mais nova, após se atracarem até pelo chão, ela confirmava as minhas suspeitas, por fim, a minha irmã, já conhecia dinheiro, e aqueles cento e cinquenta mil, não parecia muita coisa.
Não, de fato, não, a ficha só caiu, quando pela tarde, a minha irmã subia na escada de madeira, pendurando uma placa de venda na sua própria casa, de saber como havia comprado, poucos sabiamos, na verdade era mais rumores de que havia sido Marcos que lhe deu. Eu queria tanto ter um Marcos na minha vida, nem que fosse de passagem, como foi na dela, lhe segurava, e nunca o deixaria ir.
Mas Zaya não, depois que ele veio a ultima vez, ela não demonstrou nenhum interesse sequer em ninguém, nenhum homem.De Robson, todos já percebiamos, que ela já estava cansada, aqueles dois não tinha mais volta, nem mesmo os filhos os queriam juntos.
— Tu vai vender a casa? E vai pra onde? — Gritei, mais que entorpecida pelo sono e pela péssima supresa, ainda na ladeira, mas a minha irmã, inquieta, deu de ombros, bateu os pregos na madeira, prendendo a placa. — Não sei, Bell, pra onde o vento me levar. — Disse com firmeza, embora tenha colocado a placa, dias se passaram, e no fim de mundo que viviamos, poucas pessoas tem dinheiro, e uma casa daquelas então.
Mas depois de pedir demissão da escola, Zaya não sossegou, nem eu, comecei a procurar casa para comprar, alugar, fosse o que desse.
— Pediu demissão, quer vender a casa, eu posso saber o que vocês quer da vida? — Perguntei me sentindo perdida no meio de Mário e Zaya, o meu irmão riu, ele faria tudo que ela quisesse. — Ainda não sei, Bell, mas aqui eu não quero ficar, já ouviu o que o seu Gilmar esta dizendo sobre a tua do meio? — Meus olhos ainda tentavam acompanhar o que estava no caderno, mas com a pouca leitura, parecia impossível, me arrenpedi de não ter ido pra escola quando deveria.
— Não sei, e nem quero saber. — Respondi seca, nada vinha de bom pra nós, eu me encafifava sobre o que fazer com cento e cinquenta mil na conta, sempre vivi na pobreza, e a cada meia hora as minhas pernas, juntamente deslumbrada com a barriga me levava ao mercado.
— Pois deveria! Ficar calada é pior! — Mário retrucou mexendo umas folhas, eles eram mais esperto, Mário é o mais velho, conseguiu emprego no centro, e Zaya, tinha ido pra o Rio, conhecido gente, eu sempre vivi a mesma vidinha de sempre. — Não vou falar nada, na hora que eu ouvi qualquer coisa, quebro a cara de quem falar. — bufei, me sentindo excluida.
Foram poucos dias, para perceber que eles estavam montando um negócio de quentinhas, e como uma intrusa, também entrei, apesar de todo esforço, poucos vizinhos comprava, quem procurava era mais gente de fora, de longe, dois meses se passava, e Zaya de novo estava inquieta, arrumando caixas, amontoando pelos cantos da casa, ela ia embora, eu comecei a fazer o mesmo, arrumar caixa também.
Eu grudei nela, e Mário, já parecia ser sua sombra, pouco se falava, eu percebi, o negócio entre eles parecia funcionar mentalmente, só poderia ser. Com a ida das marmitas pra o centro da cidade e até pra roças, o come quieto de Mário chegou para o negócio, ele entregava de moto. Mas era outro desgraçado com sede de ir embora, dizia que não dava para ficar na cidade, colocava defeito nas estradas, em tudo.
Foi no fogo dele, que os meninos se animaram para Minas, escolha de cidade, casa. — Não, eu quero uma casa com quatro quartos, ah... não? — Engoli em seco quando cheguei de mais uma entrega, e ouvi Zaya falando. — Não, não me importo com estetica, é claro que eu não vou colocar meus filhos, meus irmãos e sobrinhos em qualquer lugar, mas...— Foi nesse momento que eu percebi que em nenhum momento, ela queria fugir, que ela iria me deixar, dessa vez, ela me levaria junto, eu fiquei parada na porta da cozinha perplexa, enquanto Mário fechava umas quentinhas, Dadai lavava louça.
— ... mas, não me importo, e acho que eles também... — O olhar para mim e para Mário, foi a conclusão. Ela não nos deixaria, não mais, eu neguei, iria para qualquer canto, até um chiqueiro com ela, com ele, mas os negócios com Zaya, era para ontem, era um dia fechando contrato de casa, mausoleu na verdade, para no dia seguinte estar acordando cedo, embalando coisas nas caixas, Mário arrumando caminhão de mudanças.
Eles viviam uma agitação que a minha vida não tinha, e naquela mesma semana, com lágrimas nos olhos, eu e mais três filhos entramos num ônibus qualquer, eu me senti sem medo, medo algum, porque no banco da frente daquele ônibus, quase lado a lado, os meus dois irmãos mais velhos estavam lá.
Numa tentativa perigosa, chegamos a Minas, o meu coração não sossegava, a ideia de estar num lugar diferente, ter saido de onde vir, poder recomeçar. Os dois não pararam, e nem eu, porém desta vez, eu queria algo meu, porém, o que? Eu não conhecia Isabel, conhecia uma Bell, a Bell faz tudo, a Bell descarada, a Bell sem jeito, e mais. Mas, o que eu gosto?
Zaya gosta de cozinhar, ela ama, Mario de arrumar, era estranho, vê-lo arrumando tudo, a toda hora, e até Dadai já tinha seus gostos, levei meses me perguntando se eu gostava daquilo que estava fazendo, o que eu gostava de fazer, não tinha futuro, ainda mais sendo mãe de três, o desejo me consumia, me sondava, a vontade de ter alguém como uma fome.
Mas os mineiros pareciam ser pessoas mais distantes, eu me arrumava para chamar a atenção de um qualquer, por desejo, por interesse, indo até mesmo no mercado maquiada, arrumada pronta para qualquer aventura, enquanto a minha irmã escolhia e buscava cursos para melhorar na cozinha, Mário voltou aos estudos, seu plano era cursar administração.
Achava uma perca de tempo, depois de velhos tanto ele como Zaya querer estudar, não dava certo para quem tinha começado desde cedo, imagina para quem está velho? Com as minhas andanças, conheci Gilmar, um policial gato, sempre pegava quentinha com a gente, eu passei a recebê-lo, assanhada, fogosa e ele também cheio de si, mostrava-se interessado, satisfazendo os meus desejos mais com os dedos e língua, em meio ao seu expediente, já que o seu brinquedo, parecia estar danificado, não era de todo m*l r**m, o nosso rolo durou alguns meses, até que a sua mulher, que eu nem sonhava que ele fosse casado, passou a me perseguir.
Mas a miserável tornou não só a minha vida, como a dos meus irmãos um verdadeiro inferno, não podia sair pra canto nenhum, e logo a cidade que a gente tava parecia com o lugar que tanto se queria fugir, todo mundo apontava o dedo para a amante descarada, a irmã dela e o irmão até os sobrinhos, começaram a serem perseguidos.
E outra vez, eu tive medo de ser abandonada, mas os meus irmãos depois de me chamarem atenção, como uma garotinha de seis anos, novamente embalaram as caixas.
Saímos morando de canto em canto, Zaya começou a se cuidar, e Mario logo conheceu outro namorado, em meio a solitude e a vergonha de ter decepcionado os meus irmãos, eu me entretia como poderia, ser os tais danos.