CAPÍTULO UM

1601 Words
Os passos de Audrey ficavam cada vez mais vacilantes à medida que percorria as ruas agitadas de Boston. O medo de ser pega a massacrava, o que fazia suas pernas permanecerem firmes, não sabia ao certo de onde havia conseguido tanta coragem para fugir daquela maneira, porém sabia muito bem que sair daquele jeito depois de tanto tempo sob o domínio de alguém, era um ato suicida, mas não sentia capaz de ignorar a chance de recomeçar longe de todo caos que sua vida se transformou, então firmando um pouco mais seus passos apressados, Audrey continuou sua fuga, permitindo se acreditar que conseguiria ser livre.  Avistando a casa que havia entrado apenas uma vez na vida, a moça deixou que seus passos diminuíssem significativamente, logo um suspiro pesaroso saiu por seus lábios, sentia se exausta, mas não ponderou descansar, um minuto desperdiçado poderia lhe por de volta a vida que um dia jurou ser perfeita, a vida que não desejaria para ninguém. Ignorando todo o seu senso que dizia ser errado invadir uma propriedade daquele jeito, Audrey abriu o portãozinho que protegia a casa, e simplesmente caminhou em direção à entrada da casa, sua mão alcançou a madeira da porta e ali distribuiu batidas intensas. Uma mulher esguia e um tanto descabelada abriu a porta um pouco zonza, tentando identificar a pessoa à sua frente. E só depois de um tempo, soube de quem se tratava.  — Audrey, o que faz aqui? O que aconteceu? — ela a interrogou, olhando-a assustada, e com a voz trêmula por ter sido despertada pelas batidas na porta, perguntando-se quem em sã consciência bateria na porta de alguém em plena madrugada. Por mais que as duas tivessem uma amizade de anos, certas escolhas que Audrey fez, abalou completamente a relação delas, fazendo com que cada uma seguissem um rumo. Não haviam se afastado completamente, porém a bela amizade que um dia existiu, já não existia mais, e agora ambas sabiam pouquíssimas coisas a respeito uma da outra, aquele fato era assustador. — Samanta... Eu... eu preciso de você. — A cabeça de Audrey virou para trás, procurando algum vestígio dele, mas, não encontrando nada, voltou seu olhar para a amiga, deixando uma lágrima solitária descer por sua face. — Eu Preciso ir embora, eu preciso fugir, mas não tenho nada, deixei tudo para trás. — As lágrimas, que tanto segurou durante o dia, desceram sem qualquer reserva. Ela nunca havia sentido tanto medo, não como sentia naquele momento, seu peito subia e descia em uma velocidade preocupante, como se a qualquer momento fosse explodir.  — Entre. Descanse por algumas horas, depois conversamos e veremos o que podemos fazer. — Samanta disse ao tentar puxar a amiga para dentro, mas Audrey afastou-se de suas mãos, totalmente aflita. A cabeça de Audrey balançou freneticamente em negativo. Havia algo dentro dela que sabia que ele estava próximo o suficiente para levá-la de volta à sua tormenta. Sabia que se o visse, voltaria atrás, por mais que uma parte sua desejasse desesperadamente afastar-se dele, havia uma pequena parte sua que sempre acreditava nas desculpas, no amor dele. E por mais que aquela parte fosse bem menor, todas as vezes que se via diante dele, ela ganhava. — Tem que ser agora, Sam — Audrey usou o apelido da adolescência da amiga — Ele vai me achar. — A voz de Audrey saiu exasperada, o medo era perceptível em sua face; seus olhos a condenavam e sua expressão era cansada, digna de pena. Se Samanta não lhe ajudasse, não sabia o que seria dela, não sabia para onde ou quem recorrer. Samanta fechou os olhos tentando entender o que estava acontecendo, mas nada plausível passou por sua cabeça. Desde que Audrey decidiu mudar de cidade com Edward, Samanta sabia pouquíssimas coisas a respeito da relação deles, e mesmo acreditando que desde o princípio Edward fosse toxico para Audrey, nunca se atreveu dizer nada, por que no começo não queria tirar a amiga da bolha de felicidade que a mesma parecia estar vivendo, e depois de tudo... Samanta não se sentiu no direito, dever de opinar na vida daquela que virou apenas uma antiga amiga de adolescência.  — Tenho uma vó em uma cidadezinha perto daqui, não tão, mas dá para chegar lá em poucas horas. Posso te levar até a estação, lá você pega o próximo trem. — Samanta propôs um pouco incerta, insegura. Um sorriso contido desenhou os lábios de Audrey, que logo se jogou em seus braços, que se mantinha assustada diante da situação. Samanta a apertou em seus braços, tentando acalmá-la. A curiosidade em saber o que estava acontecendo com a mulher a deixava angustiava, mas se Audrey ainda tivesse alguma coisa do que acostumava ser, sabia que ela não contaria, não naquele momento e estado, então apenas deixou que Audrey encontrasse aconchego em seus braços, por que apesar dos pesares, ela ainda a amava demais. — Vem, toma um banho enquanto pegarei algumas coisas para você. Tenho que avisar Josh, mas prometo te levar o mais rápido possível.— Samanta deu um pequeno passo para trás, abrindo caminho para Audrey adentrar à casa. *** — Obrigada, muito obrigada. — A voz de Audrey saiu emocionada, abraçando forte Samanta. As duas estavam na plataforma da estação de trem. Audrey seria eternamente grata pelo que a amiga estava fazendo por ela. Uma voz ecoou pela estação anunciando que o trem logo partiria e que todos os passageiros deveriam embarcar. Audrey olhou para a amiga e deu um último aceno antes de adentrar ao vagão, implorando a Deus, ou qualquer outro ser celestial, que colocasse paz em seu coração e que a cidade de Newton fosse um recomeço. Audrey sentou-se em um dos bancos que Samanta milagrosamente conseguiu de última hora, e fechou os olhos deixando que lembranças invadissem sua mente, juntamente com a culpa e raiva de si mesma. — E quanto que é um coração mais outro coração? — a pequena Audrey perguntou para o pai que vinha atrás da filha saltitante. Era quase impossível acompanhá-la, a menina tinha tanta disposição que às vezes o consumia mais rápido do que um dia intenso de trabalho, mas o homem fazia de tudo para mimá-la e ela amava os passeios que os dois faziam todos os sábados, era um ritual do qual nenhum dos dois abria mão. — Hum, deixa eu pensar. — Ele assumiu uma expressão engraçada, fingindo estar pensando enquanto a menina o observa com os olhinhos brilhando, esperando empolgada pela resposta que ela pensava saber. — É igual o amor. Isso, amor é o resultado, minha pequena. — O homem pegou a filha no colo e começou a gira-la, ali mesmo, no meio do Central Park. A menina gargalhava atraindo os olhares e sorrisos de admiração de todos que presenciavam a cena. — Não papai, mas se eu tenho um coração e eu pegar o seu, eu ficarei com dois, assim ó. — Ela levantou dois dedos minúsculos mostrando o resultado e mantendo sua expressão pensativa o que fez com que o pai a amasse mais, se isso fosse possível, é claro. Afinal, o amor que ele tinha pela filha era indescritível, imensurável e com certeza até o infinito perderia para tamanho sentimento que o homem carregava dentro de si por aquela criança. — Isso aí é em exatas, filha, e eu respondi em humanas. — O pai sorriu para a filha que arregalou os olhos, sem entender o que o homem queria dizer com humanas e exatas. — E o que é isso, papai? — Ela e sua curiosidade, o homem murmurou para si mesmo, balançou a cabeça em negativo e sorriu. Nem ele sabia explicar, mas tinha certeza que quando se juntam dois corações, o resultado seria o amor, a excelência para a plenitude humana. — Um dia você vai entender, minha menina. Agora, se você não correr muito rápido, rápido mesmo, eu vou te pegar. — Ele a colocou no chão. Audrey levou suas mãozinhas às bochechas rosadas com uma expressão assustada, mas logo sorriu sapeca e em questão de segundos começou a correr. Ben a olhou por um tempo tentando eternizar aquela imagem em sua mente, e depois de observar como a sua menina amadureceu durante o tempo que a mulher se fora, ele corre atrás dela, atrás do seu grande amor, que ele, no fundo, sabia que lembranças como aquelas os dois guardariam para sempre, bem lá no fundo da alma, mesmo mediante as armadilhas que a vida impusesse.  O barulho do freio do trem retirou Audrey de seus devaneios, fazendo-a perceber eu restava poucos passageiros no vagão.. Olhando para a frente, observava uma senhora que, mesmo carregando uma expressão cansada, lhe ofereceu um sorriso gentil. Ela imediatamente devolveu a gentileza, e logo abaixou a cabeça, tentando reprimir a onda de emoções que a envolvia a cada momento que olhava para as pessoas a sua volta. Era como se todas estivessem ali para pegá-la, por mais que a certeza de que ninguém sabia onde ela estava, com exceção a amiga, que prometera não contar a ninguém sobre seu paradeiro. Ainda assim, Audrey se sentia insegura com todos os olhares, desde os das crianças até os animais, era como se alguém fosse capaz chegar até ela e interromper sua fuga por uma vida melhor, levando-a novamente para vida que há alguns anos ela jurou ser perfeita. — Newton-Massachusetts. — Uma voz grossa ecoou pelos alto-falantes do vagão, fazendo Audrey levantar com uma pequena mala de mão que Samanta havia lhe dado. Mesmo sentindo todo seu corpo tremer, Audrey suspirou enfim, aliviada.    
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