Disputando

928 Words

Os dias seguintes ao acidente foram, ao mesmo tempo, um alívio e um incômodo. Eu sobrevivi. Meu corpo respondeu bem. Os médicos estavam otimistas quanto à recuperação, e, em breve, eu poderia deixar o hospital. Mas, emocionalmente, tudo parecia cada vez mais frágil. Letícia ficou. Não apenas ficou — ela passou a ocupar uma presença constante e silenciosa no quarto. Chegava cedo, sentava-se ao meu lado, lia em voz alta quando o tédio era demais. Preparava meu café na garrafinha térmica da cafeteria do hospital, ajeitava o lençol, penteava meu cabelo com os dedos quando eu dormia. Ela não dizia muito. Só estava lá. E isso... doía. — Tá com dor? — ela perguntou certa manhã, vendo meu maxilar travado enquanto tentava me ajeitar na cama. — Não da pancada — murmurei. — De outras coisas.

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