As manhãs voltaram a ter cheiro de café recém-passado e barulho de passos no piso de madeira. Daniel, ainda com o braço engessado e a expressão meio ausente, descia as escadas devagar, mas já respondia aos “bom dia” da nossa mãe com um aceno de cabeça. Era pouco, mas era alguma coisa. Aos poucos, fui voltando a frequentar mais a casa dos nossos pais. Às vezes, apenas pra almoçar. Outras, pra sentar no sofá ao lado dele e assistir algum documentário entediante, daqueles que só o Daniel aguentava até o final. Ele não falava muito. Mas eu percebia. Às vezes, sentado à mesa da cozinha, ele girava devagar a aliança de noivado no dedo, encarando o vazio como se pudesse extrair alguma resposta da prata polida. E ficava ali. Imóvel. Em silêncio. Certa vez, estávamos na garagem. Eu consertava um

