A presença de Daniel começou a pesar. No começo, eram gestos pequenos — uma mão na cintura de Letícia quando ela se afastava, um beijo no rosto quando ela tentava sair da conversa, uma piada boba dita alto demais pra lembrar a todos que ela era dele. Mas com o passar dos dias, aquilo virou rotina. Insistente. Quase desesperada. Na sala, ele a chamava de “meu amor” repetidas vezes, mesmo quando ela não respondia. Na cozinha, fazia questão de servi-la, como se isso provasse algo. À noite, batia na porta do quarto dela com garrafas de vinho e promessas de carinhos que ela recusava com desculpas frias — dor de cabeça, cansaço, sono. Eu fingia não ver. Mas via tudo. E Letícia também fingia não notar meus olhares, mas respondia com os dela — rápidos, furtivos, carregados de tudo que a boca n

