A estrada até Naples, na Costa Oeste da Flórida, era longa o bastante para que eu repassasse toda a minha vida umas três ou quatro vezes. Dirigia com o vidro fechado, o som desligado e o coração pesado, como se cada quilômetro percorrido me levasse de volta a uma versão antiga de mim mesmo, uma versão que eu queria resgatar — ou ao menos entender. Naples foi uma das primeiras cidades onde morei quando cheguei nos Estados Unidos, anos atrás, ainda tentando escapar da vergonha no Brasil, do julgamento dos meus pais, do fracasso precoce. Foi ali que comecei a trabalhar como garçom, ali que conheci os primeiros sócios, ali que montei meu primeiro bistrô. E foi ali também que fiz os primeiros amigos de verdade — ou pelo menos, pensei que fossem. Cheguei à cidade no início da tarde, estacionei

