Na manhã do décimo dia, acordei com os olhos secos. Nem lágrima vinha mais. Era como se meu corpo tivesse se exaurido, como se toda emoção tivesse sido drenada, como se não houvesse mais energia sequer para sofrer. Fiquei ali, imóvel, encarando o teto do quarto do hotel, o mesmo teto branco, sem graça, que já me era mais familiar do que o céu. O telefone continuava mudo. Claire não respondeu nenhuma das minhas mensagens. Nem uma curtida em algo, nem uma visualização. Eu tinha sido desligado da vida dela como um aparelho fora da tomada. Foi nesse estado entorpecido que uma lembrança me pegou de surpresa, como um estalo doloroso no fundo da cabeça. De repente, voltei anos no tempo, como se estivesse dentro de mim mesmo, com dezoito anos, sentado na beira da escada de mármore da casa dos me

