O almoço de domingo sempre foi sagrado na casa dos meus pais. Era aquele momento de mesa cheia, barulho de talheres, risadas forçadas e conversas sobre tudo — e nada. Mas naquele domingo, o ar parecia denso, como se cada palavra estivesse pisando em ovos. Claire, como sempre, estava linda. Vestido leve, cabelos presos num coque bagunçado, rindo das piadas do meu pai e ganhando de lavada no jogo de dominó com minha mãe. Eu observava tudo com aquela sensação boa no peito de quem está, enfim, no lugar certo. Ou quase. Letícia se sentou à mesa tarde, com o celular na mão, digitando alguma coisa sem parar. Daniel já estava no seu terceiro copo de suco quando comentou: — Você vai conseguir largar o celular hoje ou ele vem com você pro altar também? Todos riram. Letícia levantou os olhos, deu

