Claire estava sentada no sofá da sala quando entrei. Cruzava as pernas com elegância, o vestido branco de linho caía perfeitamente sobre sua silhueta delicada, e o cabelo loiro, impecável, caía sobre os ombros em ondas suaves. Ela girava lentamente uma taça de vinho entre os dedos, distraída com uma conversa animada entre Letícia e minha mãe. Já nos havíamos sido apresentados naquele dia, mas mesmo assim, quando entrei, ela olhou como se estivesse me vendo pela primeira vez.
— Logan… — ela disse, com aquele sorriso torto e confiante. — Just in time. A Letícia estava contando sobre o tom pastel das flores do casamento. Você, como padrinho, também tem voto nessa estética?
— Eu não entendo nada de flores — respondi, me aproximando. — Mas, se forem bonitas e não me fizerem usar algo rosa-choque, tudo certo.
Ela riu. Não um riso discreto — mas um riso alto, verdadeiro, que arrancou olhares da sala. Claire não sabia passar despercebida, e parecia que nem tentava.
— Aposto que rosa-choque até combinaria com você, sabia? — Ela me lançou um olhar travesso. — Tem cara de quem esconde um lado divertido por trás desse terno invisível.
— Eu? Divertido? — me sentei na poltrona ao lado. — Talvez um dia você descubra.
Ela girou os olhos, teatralmente.
— Espero que não demore muito. Eu adoro desafios difíceis.
Letícia lançou um olhar de aviso para Claire, meio envergonhada.
— Claire…
— O quê? — ela rebateu, sem nem fingir inocência. — É só conversa. Além do mais, o Logan é solteiro. Eu também. Nada demais em uma troca de charme.
— Eu continuo na sala — eu disse, secamente, mas com um leve sorriso no canto da boca.
Claire piscou, tomando mais um gole de vinho.
— Que ótimo. Adoro homens que sabem se defender com classe.
Apesar do comportamento atrevido, havia uma leveza em Claire que me desconcertava. Ela não forçava charme, não forçava presença. Era como se ocupasse os espaços naturalmente, dominando a cena sem precisar de esforço. Rica, chique, com um ar europeu misturado ao deboche californiano, ela era o tipo de mulher que você não esperava encontrar numa cidade pequena no interior do Brasil — e muito menos envolvida com os preparativos de um casamento familiar.
Mais tarde, quando Letícia saiu da sala com minha mãe para ver os ajustes no vestido, Claire se levantou e veio até onde eu estava. O salto alto não tirava sua leveza — andava como se flutuasse.
— Preciso confessar uma coisa, Logan — ela disse, parando à minha frente. — Fiquei bem curiosa sobre você desde que cheguei.
— Curiosa como?
— Letícia só fala do irmão perfeccionista, sério e distante que voltou depois de anos. Mas você não parece tão distante assim… — Ela se inclinou, provocando. — Só um pouco entediado.
— Não é tédio. É excesso de informação.
— Ah, então você não é frio, só está sobrecarregado? — Ela fingiu anotar no ar. — Interpretação atualizada.
Soltei uma risada baixa.
— Você é sempre assim… incisiva?
— Só quando gosto da companhia. E quer saber? — Ela se aproximou ainda mais, olhando nos meus olhos. — Eu gostei. E olha que não costumo me encantar com homens que parecem saídos de um editorial da Forbes.
Ela se afastou devagar, sem tirar os olhos dos meus.
— Te vejo no ensaio dos padrinhos, Logan. Não se atrase. Quero ver se você anda tão bem de terno quanto imagino.
Claire virou as costas com elegância e foi em direção à varanda. E, pela primeira vez desde que voltei, eu fiquei parado ali, rindo sozinho e pensando… que raio de furacão era esse que tinha acabado de entrar na minha vida?
Naquela noite, depois que todos subiram para os quartos, fiquei alguns minutos a mais na varanda, encarando o céu escuro pontilhado de estrelas. A casa estava em silêncio, exceto pelo som distante de grilos e o leve sopro do vento balançando as folhas das árvores. Segurei uma taça de vinho nas mãos, ainda pensando em Claire. Ela era… imprevisível. Uma presença inquietante, intensa e, de certa forma, encantadora. Era o tipo de mulher que dizia o que pensava, que não tinha medo de provocar e que parecia ter um radar afiado para detectar qualquer brecha na armadura de quem a cercava.
Era estranho, confesso. Depois de tudo com Letícia — com a forma como nossa história terminou, e com o modo como ela agora caminhava em direção a um altar com meu irmão —, eu não esperava ser mexido assim por ninguém. Mas Claire… Claire me olhava como se já soubesse demais, como se estivesse disposta a descobrir o resto, mesmo que isso significasse remexer em feridas que eu mesmo evitava.
Na manhã seguinte, todos estavam na correria. O ensaio para a cerimônia aconteceria na igreja local e a maioria dos padrinhos já havia chegado na cidade. Daniel estava mais empolgado do que eu já o tinha visto em anos — abraçando, rindo, elogiando a decoração, beijando Letícia com carinho a cada cinco minutos. Eles formavam um casal bonito, impossível negar. E Letícia… bom, ela parecia feliz. Isso doía, mas também aliviava. Talvez ela tivesse encontrado com ele o que não conseguiu comigo. Talvez eu mesmo nunca tivesse oferecido isso.
Quando chegamos à igreja, Claire já estava lá. Usava um vestido verde escuro justo no corpo, elegante, com um laço marcando a cintura e o cabelo preso em um coque bagunçado propositalmente perfeito. Assim que me viu, sorriu como se tivesse ganhado o dia.
— Logan! Finalmente! Pensei que ia se atrasar só pra me provocar.
— Cheguei no horário — respondi, me aproximando. — Você que parece ter saído direto de um tapete vermelho.
Ela riu e me deu o braço.
— É o mínimo. Serei sua dupla no altar, lembra? Quero que todos olhem pra gente e pensem: "meu Deus, que padrinhos maravilhosos!"
— Um pouco de modéstia ia bem — brinquei.
— Logan, querido… se tem uma coisa que aprendi, é que falsa modéstia é um desperdício de carisma — disse ela, lançando um olhar lateral afiado.
Durante o ensaio, Claire se atrapalhou com os passos, tropeçou no tapete e riu tanto que contagiou metade dos padrinhos. Pedia para repetir o caminho do altar porque, segundo ela, “aquele ensaio tinha que ser digno de um filme”, e a cada nova tentativa, inventava um drama diferente. Em um momento, se virou para mim e sussurrou:
— Imagina a gente casando assim, com esse exagero todo. Ia ser um evento e tanto, hein?
— Claire… a gente se conhece há dois dias.
— E daí? Isso nunca impediu ninguém de casar em Vegas.
Balancei a cabeça, sorrindo, tentando não rir alto. Claire era um furacão, e eu estava no meio do olho dele.
Depois do ensaio, todos foram para um almoço oferecido pelos pais de Letícia. A casa estava cheia, e Claire se entrosava com todo mundo como se fosse da família há anos. Ela falava português com um sotaque sutil e charmoso, misturava expressões americanas com gírias brasileiras e, de alguma forma, fazia todos se sentirem à vontade.
Durante o almoço, sentou-se ao meu lado e começou a me cutucar discretamente por baixo da mesa com o salto.
— Vai continuar me ignorando ou vai admitir que sou a melhor companhia desse casamento?
— Você tem uma autoestima invejável — murmurei, tentando disfarçar o riso.
— Eu tenho bom gosto. E você está na minha mira, Logan. Cuidado — disse, piscando.
E naquele momento, olhando para Claire, ali ao meu lado, cheia de vida, rindo com a boca cheia e jogando charme descaradamente, percebi o quanto minha vida tinha ficado sem cor nos últimos anos. Claire era tudo que eu não esperava. Mas talvez… fosse exatamente o que eu precisava.