O Vizinho
Eu tinha apenas dez anos quando eu conheci o Roberto, o garoto mais incrível, divertido e legal do mundo inteiro. Ele era um ano mais velho que eu, e vivia rodeado de diversas garotas. Eu, embora tivesse aparência de menina, por ter sorriso um pouco feminino, e cabelo caído nas orelhas, nunca havia gostado muito de andar com as garotas, achava elas sem graça e frescas. Preferia brincar de carrinho com os meus amigos, e jogar bola, como qualquer outro garoto da minha idade.
Mas, desde que eu conheci o Roberto passei a lhe observar pela janela do meu quarto que dava de frente pra rua. Ele era loiro, de olhos azuis, tinha os olhos mais fascinantes que eu já havia visto, tinha um certo brilho no olhar, o que chamou a minha atenção. Queria ir falar com ele, mas nunca tive coragem, até porque ele sempre estava com as garotas, e a minha timidez não deixava eu me aproximar dele, e se ele não gostasse de mim? E se me achasse chato? E se ele só fosse amigo de garotas?
E assim foi dia após dia, e eu observando ele da janela do meu quarto, desejando ter sua amizade, mesmo achando que aquilo nunca aconteceria. Certo dia chegou a Julia, minha irmã que era dois anos mais nova que eu, perguntando o que eu tanto via pela janela, então envergonhado, eu respondi:
- Nada, estou apenas olhando a rua, será que eu não posso nem fazer isso?
E saí dali chateado.
Já era noite, meus pais estavam trabalhando, e só voltariam de madrugada, como acontecia volta e meia, assim eu e minha irmã ficávamos sozinhos em casa assistindo algum desenho na tv.
- Sabia que eu descobri o seu segredo. – Disse minha irmã, para meu desespero.
Ao ouvir aquilo eu suei frio, gelei, e quase desmaie. Minha irmã sabendo de tudo, como assim? Ixi, ferrou, ela iria contar para os nossos pais, que me colocariam em um colégio interno na Suiça, ai, eu estava lascado!
Eu morrendo de medo, perguntei:
- Que segredo?
- Que você está afim de uma garota, e aposto que até já sei quem é. Deve ser a garota nova do bairro, ela é bem bonita mesmo. - Deu um sorriso travesso, e eu respirei aliviado.
Ao ouvir aquilo eu ri como eu nunca havia rido em toda a minha vida, acho que eu nunca tinha escutado uma piada tão boa como aquela. Eu a fim de uma garota? Ah, por favor, isso jamais aconteceria, nem daqui há 50 séculos.
- Do que você está rindo? – Julia me perguntou meio aborrecida.
- Do que você acabou de dizer. De onde você tirou tamanha besteira? – Eu perguntei sem conseguir parar de rir.
- Ah eu não nasci ontem, assim que você saiu do quarto eu fui na janela e vi algumas garotas brincando com um menino, muito bonito por sinal, e aí eu concluí que você só podia estar gostando de alguma menina, como da menina que se mudou semana passada aqui pro bairro.
- É, estou gostando sim, mas por favor não conta pra mamãe e pro papai porque eu morreria de vergonha. - Menti pra ver se ela me deixava em paz.
- Não se preocupe, esse será o nosso segredinho. – Respondeu minha irmã ao piscar o olho para mim.
Alguns dias já haviam se passado, e tudo continuava igual, eu observando o Roberto da janela do meu quarto, e ele sem perceber a minha presença. Até que um dia ele estava brincando de esconde – esconde com suas amigas, e ele se escondeu em cima de uma árvore. Fiquei observando a sua coragem para subir naquele galho tão alto, pois eu não teria essa coragem toda, pois sempre morri de medo de altura, e enquanto eu admirava sua coragem, ele me viu pela primeira vez, e eu me abaixei morrendo de vergonha, fiquei um pouco abaixado, e ao me levantar ele continuava olhando para a minha janela, e ao me ver abriu um terno sorriso, o sorriso mais lindo que eu já havia visto, e durante alguns segundos nossos olhares ficaram se cruzando, até a minha mãe aparecer me chamando para o almoço, por que ela tinha que aparecer justo nesse momento?
Não conseguia entender o que estava acontecendo comigo, eu era uma criança, e isso normalmente não acontece com as crianças. Eu era menino, e ele também, será que aquilo estava certo? Eu achava que não, pois papai era homem, e mamãe era mulher, talvez assim que as coisas devessem ser, homem com mulher, e mulher com homem. Mas por alguma razão que eu não conseguia entender, eu percebia que eu era diferente dos outros garotos da minha idade, minha cor preferida era o rosa, e eu adorava brincar de bonecas com a minha irmã, e meu filme preferido era Branca de Neve, e por mais que eu jogasse futebol com os meus amigos, eu não gostava muito de esportes, jogava muito m*l, eu brincava de carrinho com eles, mas preferia as barbies da Julia. É, talvez de fato eu era diferente dos outros garotos da minha idade.