Começo de tudo
NARRAÇÃO DE YARA...
Prazer, me chamo Yara e a partir deste momento viveremos juntos minha história.
Meu nome foi dado por referência indígena, uma vez que assim que meus pais me viram meus traços tão particulares e típicos dos indígenas, se destacaram. Desde pequena cresci como a “Rainha da Casa”, fazendo referência à “Yara – Rainha das águas”. Conforme fui crescendo, o significado do meu nome foi fazendo ainda mais sentido. Todos sempre me admiraram pela minha beleza deslumbrante, meus cabelos longos pretos, meus olhos negros como de jabuticabas destacados sobre minha pele morena, e meu corpo todo torneado como de uma verdadeira sereia.
Cresci numa cidadezinha no interior do Pará. De família muito humilde, sempre tivemos que batalhar muito para conquistarmos as coisas, e a vida nunca foi muito justa conosco. Meus pais sempre trabalharam muito e por várias vezes os vi renunciando a um pedaço de pão para que eu pudesse me alimentar. Desde pequena aprendi que o esforço é a única forma de conquistarmos as coisas, portanto, nem sempre aproveitei a infância como muitas crianças, ou a juventude como minhas amigas. Muito menos vivi as aventuras e paixonites como minhas amigas viviam, e olha que não era por não chamar a atenção pois isso todos diziam que eu fazia e muito por onde passava. A verdade é que nunca dei muita importância a isso.
Morar na casa dos meus pais que são um tanto rigorosos e religiosos não tem sido fácil, e para completar as coisas para o meu lado parecem ainda mais difíceis. Sem experiência profissional não tenho conseguido um mísero trabalho que seja para nos tirar dessa vida. O amor que tenho pelos meus pais é gigante e eu me sinto como sendo a única com forças físicas para lutar por dias melhores.
Tenho 24 anos e sem emprego, cada dia mais tenho que conviver com meus pais deixando claro que eu já deveria ter me casado e tomado o meu rumo. Assim como muitas famílias humildes, os pais acreditam que sem oportunidades a única forma de ter uma futuro melhor é se casando e gerando filhos, garantindo assim pelo menos uma casa, roupa e proteção.
Basicamente eu já deveria alçado voos e ido em busca do meu destino.
Mas parece que nada está cooperando para isso acontecer e eu só oro para que dias melhores cheguem e minha história possa começar a ser escrita por mim mesma.
Foi numa noite calorosa que recebi a ligação de uma antiga amiga. De imediato me surpreendi já que Bia se mudou de cidade há alguns anos, buscando um futuro melhor e desde então perdemos contato.
Assim que vi seu nome no identificado atendi receosa.
- Yara?!!! - Uni as sobrancelhas me perguntando se ela estava bêbada.
- Oi? Bia? É você amiga?
- Yara! Como está minha amiga? Quanto tempo e que saudades tenho de você.
- Bia, Estou bem... Nossa quanto tempo mesmo, pensei que nunca mais escutaria sua voz!
- Jamais! Você sempre morou no meu coração. É que precisei de um tempo até me organizar direito por aqui, mas Yara eu tenho uma proposta para você. Se bem me lembro, nosso maior sonho era mudar de vida, crescermos, portanto, assim que a oportunidade apareceu a primeira pessoa que me lembrei foi de você. Ainda precisa de trabalho e um bom lugar para ficar? - Meu coração disparou e olhei para a sala, onde meus pais estavam sentados no sofá assistindo ao culto pela televisão.
- Preciso. - Disse sem hesitar!
- Então arrume suas malas e venha me encontrar! Venha dividir o apartamento comigo. Tem um trabalho em uma boate e eles pagam bem! Muito bem na verdade. E não pense que é prostituição, pelo amor de Deus! Eu não te colocaria em uma furada dessa! Nós somos treinadas para dançar e entreter os clientes, mas nenhum homem pode nos tocar. O único segredo é saber dançar de forma sensual e garantir a diversão desses homens pela noite! Eu havia me adiantado e mostrado uma foto sua para meu patrão e ele perguntou se você não aceitaria esse trabalho. Você tem todos os requisitos para trabalhar nessa boate luxuosa. Bom! É pegar ou largar... - Olhei meus pais novamente e certamente eles seriam totalmente contra se soubessem qual seria meu trabalho. Mas respirei fundo. Conheço Bia desde os meus 11 anos e confio nela de olhos fechados.
- Aceito. - Seja o que Deus quiser.
- Perfeito!!! Meu patrão irá arcar com toda sua despesa de viagem. Fique de olho nas mensagens que te enviarei com o horário de embarque, número de voo e tudo mais. Te esperarei! Te amo amiga! Ficaremos rica!!!
Depois que desliguei a chamada, fui até aos meus pais um pouco nervosa...
Primeiro, eu sabia que iria mentir para eles e segundo, eu odiava mentir, mas eu não aguentava mais os olhares de cobrança deles e ainda corria o risco de me arranjaram um casamento com alguém da igreja, e se tem uma coisa que eu não suportaria é um casamento sem amor, por obrigação.
- Mãe, pai? - Consegui a atenção dos dois quando eles pararam de assistir a TV. Seus olhares se fixaram em mim.
- Eu consegui um emprego. - Disse esfregando meus dedos um no outro e controlando o nervosismo. Meu pai foi o primeiro a sorrir e logo mamãe abriu um sorriso colocando as mãos no peito emocionada pela notícia.
- O Senhor escutou as nossas orações! Graças à Deus Yara! E onde é esse trabalho? - Meu pai se levantou animado colocando as mãos na cintura interessado na conversa.
- B-bom. Se lembra da Bia? Ela me ligou e disse que tem um emprego no Rio de Janeiro. Podemos dividir o apartamento. - Falei receosa pois sabia o quanto meu pai não gostava da rebelde da Bia, ou como ele a chamavam de “a má companhia"
- Bia? Não seria aquela sua amiga que fugiu de casa depois de ficar brigada com seus pais?
- Essa mesmo pai. Hoje ela está muito bem, disse que o salário é bom. - Meu pai me olhou um pouco incomodado.
- Que tipo de trabalho é esse?
- Garçonete. Mas pagam muito bem, é em um restaurante de luxo no Rio de Janeiro. - Engoli em seco mentindo ainda mais.
- Tem certeza de que isso é bom? - Minha mãe perguntou preocupada.
- É sim! Posso mandar uma quantia todo mês para ajudar com os remédios e as despesas da casa. - Sim. O motivo da preocupação por não ter um emprego é que mamãe tem problema de coração e não temos plano de saúde. O salário do meu pai m@l cobre as despesas com as contas da e alimentação. Por mais que mamãe esteja preocupada com minha partida, eu pude ver alívio nos olhos do meu pai. Ele não estava aliviado porque eu partiria, mas sim porque iria ajudar com os remédios da minha mãe. Por diversas vezes o peguei chorando escondido pela noite na varanda. O medo dele é o mesmo que o meu. Perder o nosso tesouro, minha mãe. Sorri e acariciei o rosto da minha mãe na intenção de lhe trazer calma.
- Vamos ficar bem. Confia em mim? - Ela relutou, mas por fim confirmou com seus olhos cansados.
- Partirei na parte da manhã. Pai cuide da mamãe enquanto eu estiver fora. - Segurei na mão no meu pai na esperança de que ele fizesse o que pedi.
Foi uma noite difícil. De despedidas, choros, mas por fim fui para meu quarto e arrumei minhas malas ansiosa. Pouco tempo depois recebi a mensagem da Bia com os dados de embarque.
Na verdade, eu m@l consegui dormir aguardando o nascer do sol. O meu vôo seria o primeiro e eu precisaria sair bem cedo para dar tempo de chegar tranquila no aeroporto.
Saí de casa antes do sol nascer, sem fazer barulho justamente para não precisar me despedir novamente dos meus pais, despedidas me deixam deprimida.
Com algumas economias que tinha consegui chamar um táxi e em minutos cheguei no aeroporto.
Estava nervosa demais! Nunca havia pisado dentro de um avião. Eu nunca havia viajado sozinha! Sempre fui muito bicho do mato e a nossa condição não nos permitia esse tipo de diversão. Então já pode-se imaginar como foi difícil me encontrar dentro daquele aeroporto e precisei de algumas informações até conseguir embarcar no avião certo!
Um pequeno pavor se estendeu dentro do meu peit0 quando o avião levantou voo. Meu instinto foi de agarrar no braço da poltrona cravando minhas unhas e suando frio.
Por sorte não demorou até o avião estabilizar no ar tornando a viagem mais calma.
Mais algumas horas e eu chegava no aeroporto do Rio de Janeiro. Peguei minha mala com poucas roupas que trouxe e me dirigi para a área de desembarque. De imediato vi minha amiga se sacudindo próximo da porta de saída, segurando um papel escrito: "YARA TEIXEIRA". Sorri e me animei me sentindo menos perdida e menos assustada naquele ambiente.
Corri até ela e nos abraçamos forte!
Bia é linda! Possui olhos verdes, cabelos cacheados até o bumbum e é magra, mas com o corpo bem definido. E pelas lembranças que tenho dela vejo que andou fazendo bastante academia já que seu corpo adquiriu mais curvas e definições. Se não fosse seu rosto eu teria dificuldade de reconhecer aquela menina franzina que conheci no Pará!
Ela segurou minhas mãos e me olhou de cima para baixo.
- GAROTA?! Você está linda!!! Olha esse cabelo! Nunca vi tão cumprido e brilhoso! - Ri constrangida já que ela falava bem alto e muitos olhares direcionaram para mim para checar se Bia tinha razão.
- Vamos! Meu patrão nos espera! Ele quer te entrevistar e ver se você se encaixa no perfil. Mas eu tenho certeza de que ele vai aprovar. Só não fale muito pois Matheus Millani é rigoroso e ignorante com quem fala muito, e nunca o chame de Matheus! Em hipótese alguma pois ele odeia i********e com os funcionários. Ele só aceita ser chamado por Sr. Millani. Foca nisso, Sr. Millani.
- Certo. Sr. Millani. - Disse sentindo meus dedos suarem assim como a garganta secar.
- Isso! Vamos logo porque ele odeia atrasos! - Bia segurou em minha mão firme e praticamente me arrastou pelo saguão do aeroporto.
Bom, seja o que Deus quiser!