O dia transcorreu sem mais nenhum aborrecimento, Laura estava analisando uma determinada matéria, enquanto saboreavam seu café, quando Ivete entrou.
– Com licença, senhora.
– Ah, que bom que apareceu, Ivete, preciso da sua opinião.
– Minha opinião, senhora? – surpreende-se Ivete. – Em quê?
– Olha só essa frase: "As mulheres não necessitam de um homem nem mesmo para ter um orgasmo."
– Oh, Minha Nossa! – disse Ivete com um certo rubor.
– Que você acha? Forte demais?
– Bem, senhora… Depende do contexto. Algumas achariam forte, outras encarariam numa boa. Eu, por exemplo, não n**o que já usei um "brinquedinho" uma vez ou outra, mas acho que nada substitui o original! – disse ela se abanando. – O que eu não daria pra ter aquela pegada forte, beijos de tirar o fôlego, uma noite romântica que começasse num jantar e terminasse numa bela… – ela faz uma pausa quando percebe que se deixou levar demais.
– E terminasse com o quê, Ivete? Agora fiquei curiosa. – disse Laura sorrindo com os braços cruzados.
– Sobremesa! Eu ia dizer sobremesa, senhora. – disse Ivete sem graça. – Ah, sim. Seu sobrinho ligou.
– Ligou pra cá? Como assim?
– Ele disse que ligou várias vezes para o seu celular e só dava desligado.
– Sério? – disse Laura pegando o celular da bolsa. – Droga! Descarregado!… Mas o que ele disse, Ivete?
– Disse que a senhora fosse recebê-lo no aeroporto.
– Meu sobrinho está chegando?! – disse Laura com um sorriso de orelha à orelha.
– Sim, senhora. Ele chega no vôo das 4h:30mPM.
– Que ótimo!… Ivete, me faça um favor, diga ao Armando que hoje eu não volto mais à tarde, sim? – disse ela pegando sua bolsa e saindo.
– Sim, senhora. Mande lembranças ao senhor Ricardo.
– Pode deixar.
Laura saiu eufórica. Ricardo era filho de sua falecida irmã, Amélia. Antes de morrer, sua irmã lhe pediu que cuidasse de seu filho e que o amasse como se fosse seu. Laura tem cumprido bem essa promessa, mesmo a contragosto de seu cunhado Arthur, com quem nunca se entendeu.
Ela chegou no aeroporto no horário combinado. Laura estava impaciente, não via a hora de rever seu sobrinho. Foi então que ele surgiu.
– Tia Laura!
– Ricardo, meu querido!
Os dois dão um longo abraço, afinal, foram cinco anos longe um do outro.
– Meu Deus! Olha só você, está um homem! – disse Laura.
– A senhora continua linda, tia. Uma gatona!
– Não seja debochado, garoto! – disse ela dando um tapinha no braço de seu sobrinho. – Minha Nossa! Como o tempo passa, meu filho! – ela acaricia seu rosto.
– Nem fale, tia. Senti tanto a sua falta.
– Eu também, meu querido.
Eles se abraçam novamente.
– Vamos, tia. Tenho tanta coisa pra lhe contar.
– E eu quero saber tudinho! – disse ela.
Eles saíram do aeroporto e foram direto para o apartamento de Laura, que era como a segunda casa de Ricardo. Aliás, ele sempre se sentiu mais em casa quando estava no apartamento da tia, do que na sua própria casa com seu pai.
– Entra, querido. … Lupe!… Lupe! Venha ver quem chegou! – disse Laura.
Lupe era a secretária do lar de Laura. Era a pessoa em quem ela mais confiava, principalmente porque sem Lupe, o apartamento de Lupe era um caos.
– Ai, Virgenzinha! Menino Ricardo! – disse ela toda contente.
– Lupita, minha flor! – disse ele abraçando-a e levantando-a do chão. – Como eu senti sua falta, minha Lupita!
– Olha só pra ele, dona Laura! Tá um homem feito!
– Foi exatamente o que eu disse, assim que o vi, Lupe. – disse Laura. – Lupe, prepare o quarto de hóspedes pro Ricardo e faça algo bem gostoso pra ele comer como só você sabe fazer!
– Com certeza, senhora!
– Eu senti tanta falta dessas mulheres, meu Deus! – disse Ricardo abraçando as duas e olhando para cima, como se agradecesse aos céus por estar em casa.
– Ele continua o mesmo brincalhão de sempre, não é senhora? – disse Lupe.
– Esse aí, Lupe… Não muda nunca.
Ricardo tomou um banho, provou da comida de Lupe – a qual sentiu uma saudade imensa –, descansou um pouco e depois foi conversar com sua tia, contar as novidades.
– E então, querido?… Como se sente sendo quase um executivo?… Seu pai vai explodir de orgulho!… Eu sei que ele e eu, não nos damos muito bem, mas… Nesse ponto, quando o assunto é o seu futuro, a gente não discute. … E a formatura? Quando vai ser?
Ricardo parecia meio desconfortável com a conversa da tia. Como se alguma coisa tivesse entalada em sua garganta querendo sair.
– Tia, eu…
– O que foi, querido?
– Eu… Bem, eu…
– Fala, Ricardo!
– Eu larguei a faculdade de administração!
Laura o olha incrédula.
– Você o quê?!
– Tia, eu posso explicar…
– Você…?! Você largou a faculdade, Ricardo?!
– Tia, me escuta, por favor…
Laura começa a andar pela sala de um lado para o outro, nervosa e furiosa.
– Como pôde, Ricardo?! … Largar a faculdade! Isso não é coisa que se faça! O que sua mãe ia pensar se estivesse viva!
– Tia, se acalma, me deixa explicar.
– Isso não tem explicação, Ricardo! O que foi que rue ensinei, hein?!
– Que com os estudos não se brinca.
– Exatamente! E agora, você me vem com essa?!… O que o se pai disse?? Aposto que tá uma fera! Por isso não o vi no aeroporto!
– Na verdade,… Ele ainda não sabe. Por isso que e não o avisei que estava voltando.
– O que?!
Agora, Laura estava uma pilha de nervos.
– Ricardo, pelo amor de Deus! Seu pai vai te matar!… E depois vai me matar, achando que eu aconselhei você a fazer isso!
– Tia, pára. – disse Ricardo fazendo Laura parar de andar de um lado para o outro. Senta e se acalma. Agora me deixa te explicar.
– Está bem. – disse ela respirando fundo. – Fala.
– Eu não larguei a faculdade de vez.
– Mas, então…?
– Eu só não estou concluindo o curso de administração.
– Você trocou de curso?
– Sim. A senhora está falando com um futuro fisioterapeuta. – disse Ricardo com um sorriso de satisfação.
Laura não pôde conter sua surpresa, porém já estava mais calma, afinal, seu sobrinho não tinha largado a faculdade, de fato.
– Certo. … Mas, pelo que me lembro, você fez uma prova para entrar na faculdade de administração, não foi? – pergunta ela.
– Sim, tia. Mas a senhora sabe, que só fiz isso pro meu pai largar do meu pé. … Logo que entrei na universidade, fiquei sabendo que, se o estudante conseguisse passar dois semestres com notas acima da média, ele poderia trocar de curso. E foi o que fiz.
– Tá certo, filho, eu entendi. Mas por que fisioterapia?
– Porque eu quero poder ajudar na qualidade de vida das pessoas, tia. Qualquer pessoa, principalmente as mais necessitadas. … Minha mãe me ensinou isso, que a gente sempre precisa ajudar o próximo, como pudermos.
Laura enxugava as lágrimas que rolavam pelo seu rosto com as palavras de seu sobrinho. Ele era muito parecido com sua irmã, Amélia.
– Que foi, tia? Por que tá chorando?
– Porque sua tia é uma "manteiga derretida"! Anda, vem aqui. – disse ela abraçando seu sobrinho. – Você me enche de orgulho, sabia?
– Acha que minha mãe se orgulharia?
– Sua mãe?… – disse ela o olhando. – Ela ia inflar feito um balão de tanto orgulho desse filho maravilhoso que ela tem!
– O problema vai ser o Seu Arthur. – disse Ricardo apreensivo.
– Tem razão. … Mas eu converso com ele. Ao menos, tentarei não é?
– Não vai ser fácil.
– Eu é que sei! – suspira Laura.
Os dois começam a rir, mas no fundo, Laura sabia que essa conversa com seu cunhado Arthur, não seria nem um pouco amistosa.