Ares
Já estou cheio de problemas para resolver hoje e ainda vem mais essa. Os caras usam drogas e não pagam. Aí eu te falo, eu tenho que matar o viciado ou o traficante que vendeu a droga para ele mesmo, devendo? É claro que eu vou matar os dois. Eles sabem como as coisas funcionam aqui, poxa. Se o cara compra e não paga, quando ele voltar para comprar de novo, tu arranca a mão dele. Já ensinei duas vezes, mano. E eu estou igual a mãe, se eu falar mais de duas vezes, já venho metendo a porrada. Não tenho muita paciência não.
JP: Já chamei o traficante aqui, mas pega leve dessa vez, na moral.
Ares: Pega leve é o c*****o. Eu já passei a visão que não é para vender para viciados e vocês ficam insistindo nessa m*rda. Eu faço o que com esse prejuízo de 10 mil? Enfio no teu c* ou no dele?
JP: Ih, qual foi? Sou eu, João Pedro, teu irmão. Se liga, Arthur. Já falei para você que isso é falta de bucet*. Mas tu fica nessa.
Ares: Faz o seguinte, vai buscar o viciado que me deu a volta antes que eu esqueça que tu é sangue do meu sangue e meta uma bala no meio dessa tua cara.
JP: Tô indo.
Mano, eu tenho 26 anos e assumi essa m3rda aqui aos 18. Meu pai achou que seria bom se aposentar, não sei pra que, ou melhor, eu sei. Ele foi curtir a vida e deixou essa p**a aqui na minha mão. Mas foi até melhor ele ter sumido, porque eu já estava a ponto de me estressar com ele por causa da minha coroa. O cara vivia agarrado em p**a e não deixava a minha mãe viver, vê se pode? Ele achava que a vida era a p0rra de um morango.
Fiquei ali fazendo a contabilidade que não fechava de jeito nenhum, mas era por causa desses dez mil, tá ligado? Esse dinheiro não é nada pra mim, mas se nós deixarmos os caras se criarem, daqui a pouco vagabund0 tá copiando e eu perco a minha moral aqui dentro.
Não demorou muito para o JP entrar com o Vapor e com o viciado que estava me devendo. Os dois ficaram me olhando assustados e eu fui logo falando:
Ares: algum de vocês dois tem a minha grana?
Vapor: pô, chefe, esse caô aí é com ele.
Viciado: não tenho hoje, mas me dá dois dias que eu arrumo.
Peguei minha arma e atirei na cabeça dos dois. Já que eles não têm minha grana, eu não sou obrigado a ficar de papainho gostoso não. Aqui no morro é assim: ou tu tem a solução ou é vala.
JP: mais um vapor pra enterrar.
Ares: é só tu jogar em uma vala qualquer, vai perder tempo enterrando carniça pra quê?
JP: por que tu é assim?
Ares: eu sou do jeito certo, tu que veio errado. Deve ter sido trocado na maternidade, certeza.
JP: vamo almoçar, eu vou mandar alguém limpar isso aqui pra quando tu voltar não ter corpo no chão.
Ares: Vamo.
Quando íamos sair, minha mãe entrou feito um furacão, os vapores vieram tudo atrás, mas ninguém consegue segurar a dona Iara.
Iara: Não acredito que tu matou o filho da dona Maria da padaria.
Ares: Ele vendeu fiado pra viciado, tu queria o que?
Iara: Queria que tu desse um prazo pra ele pagar.
Ares: Mãe, não se mete em assuntos da boca não, pelo amor de Deus.
Quando eu falei isso, ela me encarou firme e me tacou o chinelo.
Iara: Fala direito comigo, tá pensando que eu sou as putas que tu anda ou os teus amiguinhos traficantes? Fica nessa pra tu ver se eu não corto essa tua linda.
Ares: Isso dói, cara, tá doidona.
Iara: No dia que tu me ver doida, tu vai acordar no outro mundo com Jesus te mostrando o túnel. Arthur, vai achando que só porque tu é dono de morro que vai falar de qualquer jeito com a sua mãe e você, João Pedro, por que tu não me ligou? É um banana mesmo na mão desse aí.
JP: Qual foi, coroa? Se eu te ligasse, eu ia ficar na mira dele também.
Iara: Ele só ia ter dois trabalhos: colocar você na mira e tirar. Já te falei que ele não tem poder nenhum sobre você. Ele manda na favela, mas quem manda nele sou eu.
Ares: O que tu veio fazer aqui?
Iara: Vim ver se conseguia salvar o menino, tão novinho, e tu fez isso de novo.
Ares: O morro todo tá ligado como funciona. Eu nunca chamei ninguém pra entrar pro tráfico. Ele veio até mim andando e saiu carregado, pô.
Iara: Tu não tem mais jeito. A cada dia tu fica mais parecido com o coisa r**m do teu pai.
JP: Vamo almoçar em família?
Ares: Perdi a fome.
Iara: Perdeu a fome? Perdeu nada. Pode vir, que eu não sou as tuas piranhas pra tu me dispensar, não, meu amigo. Eu sou sua mãe. Vamo logo que eu tô com fome. E outra, tu vai pagar o enterro do filho da dona Maria porque ela tá mais dura que p@u de tarado.
Ares: ah, e aí mãe.
Iara: ah, e aí mãe. O que Arthur passa logo na minha frente antes que eu te dê umas madeiras.