Capítulo 1
A Poeira do Ranho Dakota
O sol das seis da manhã já cozinhava a terra do Rancho Dakota. A poeira vermelha subia em nuvens pesadas a cada trote, cobrindo o rosto suado dos peões e as camisas de flanela. No centro da ação, com um laço de couro que parecia uma extensão do seu próprio braço, estava Ramires.
Não o Ramires que a mãe chamava de Lúcia, mas Ramires, o rapaz. O melhor cowboy que o rancho já tinha visto.
"Segura firme, Ramires! Esse garrote tá arisco!", gritou Tião, um peão velho, enquanto apoiava a mão enrugada nas costas da figura magra.
Ramires não respondeu com palavras. Apenas bufou, puxando o laço com uma força surpreendente, os músculos dos antebraços firmes sob a camisa larga. O garrote berrou, mas foi ao chão. Ramires amarrou o nó de castração com precisão rápida, levantando-se em seguida para limpar o suor com a manga. Os peões apenas acenaram com a cabeça. Eficiente. Rápido. Inquestionável.
O Senhor Rodrigues, o dono do rancho, observava tudo do cercado, o boné na testa. No rosto dele, a satisfação era palpável, um brilho nos olhos que ele dedicava apenas a um ser no mundo: sua filha.
"Meu cowboy," ele pensava, fechando o punho sobre a madeira. "É tudo que eu queria. O melhor de todos, e ainda por cima é minha garota."
A Duas Faces de Lúcia
Meio-dia no casarão do rancho, e o cheiro de carne de panela substituía o cheiro de suor e gado. Lúcia – que, ali, dispensava a calça cáqui e a camisa de flanela por uma camiseta de algodão e shorts – estava debruçada sobre o fogão, os cabelos castanhos presos firmemente.
A campainha tocou, e um furacão de cores e risadas invadiu a cozinha.
"Lúcia! Estava com saudades da minha caipira favorita!", gritou Sandrinha, jogando a bolsa de grife sobre a mesa de madeira rústica.
Sandrinha era o oposto polar. Linda, curvilínea, com um estilo que gritava cidade grande e uma boca que não parava. Ela pulou nas costas de Lúcia, abraçando-a com força, o perfume caro misturando-se com o cheiro do tempero.
"Sandrinha, me solta! A comida vai queimar!", Lúcia riu, tentando equilibrar a panela.
O barulho fez Zé Trovão, outro peão, espiar pela porta. Ele coçou a cabeça ao ver a cena.
"Que é isso, Ramires? Cê já tá se agarrando com a namorada no meio da cozinha?", ele provocou com um sorriso malicioso. "Essa Sandrinha te gruda que nem carrapato."
Lúcia corou sob a camiseta, mas Sandrinha apenas piscou para o peão, intensificando o abraço.
"Ué, Zé, é meu namorado! Tenho que cuidar bem dele, né? Ninguém aguenta a farra que a gente faz por aí", ela devolveu, sabendo exatamente o efeito que suas palavras iriam causar.
Enquanto Zé Trovão se afastava, rindo e balançando a cabeça com a certeza de um romance escondido, Lúcia deu uma cotovelada suave na amiga.
"Não sabe de nada esse povo," Lúcia sussurrou, aliviada por ter seu segredo coberto pelo m*l-entendido. "E para de me chamar de caipira!"
O Retorno do Pródigo
Em seu escritório na capital, com vista para arranha-céus cinzentos, o Doutor Adrian Santiago encerrou uma ligação, jogando a caneta de ouro sobre a mesa de mogno.
Ele tinha o diploma de direito, o escritório lucrativo, e o terno italiano impecável que os pais queriam. Mas ele não era o homem que Dona Margarete esperava.
A noite anterior fora um borrão: duas mulheres, três boates, e a promessa não cumprida de voltar cedo para casa. Ele sorriu, a imagem da diversão ainda acesa em seus olhos verdes.
"Mulher nenhuma vai me prender," ele repetiu para o seu reflexo na janela, com uma convicção cínica. "E certamente nenhuma fazenda vai me prender."
O celular tocou. Era Dona Margarete.
"Adrian, você tem que voltar! Seu pai não está bem, e a fazenda não pode parar! Você tem que assumir os negócios da família," a voz dela era urgente, cheia de drama.
"Mãe, eu sou advogado. Não sei nem andar a cavalo," Adrian respondeu, sem paciência.
"Você virá," ela decretou. "E não aceito um não. Vou mandar alguém te buscar. E tenho planos para você, Adrian. Planos de casamento com uma moça de família tradicional. Chega de farra."
Adrian revirou os olhos. Um sorriso lento e perigoso surgiu em seus lábios.
"Plano de casamento? Que ótima piada. Vai ser divertido quebrar mais essa promessa," ele pensou.
Naquele momento, dois mundos estavam prestes a colidir. O playboy advogado, que fugia de qualquer responsabilidade, e a cowgirl Ramires, que escondia a sua verdadeira identidade para abraçar a sua.