"Aprendi há muito tempo que, quando se encontra algo pelo qual vale a pena lutar, nunca se desiste."
— Once Upon a Time
A pior parte de viver... é ser punido por algo que nunca foi sua culpa.
Nos olhos azuis de Taehyung, escondiam-se demônios antigos, dores não ditas.
Mas era apenas uma questão de tempo... até que alguém lhe mostrasse o verdadeiro significado de viver.
A existência de Kim Taehyung causava discórdia entre espécies e etnias diferentes. Mas... a culpa era mesmo dele?
— Jin, por favor, me ajuda! — gritava Jungkook desesperado, com o corpo desacordado do lobo-demônio em seus braços.
Seokjin, médico do bando, embora relutante no início, havia criado afeto por Taehyung. Ao vê-lo ensanguentado nos braços do alfa Jeon, sentiu um nó na garganta.
— Leve-o para o quarto. — ordenou, pegando rapidamente seus equipamentos.
Jungkook deitou Taehyung em sua cama com extremo cuidado. O lobo começava a recobrar a consciência, ainda que lentamente.
— Jungoo...— chamou com a voz fraca.
— Meu rei... vou cuidar de você. — respondeu Jungkook, acariciando o rosto do amado.
Em sua mão, segurava a flecha que atingira Taehyung, observando cada detalhe... até que um símbolo esculpido na madeira o alarmou: uma estrela.
A mesma do diário.
— Essa estrela...— murmurou, perplexo.
Taehyung fixou o olhar na flecha e arregalou os olhos.
— Eles me encontraram.
Antes que Jungkook pudesse perguntar, Jin chegou.
— Você disse que ele foi envenenado?
— Acônito. É letal para mim. Se tivesse ingerido, eu só precisaria vomitar... mas assim, direto no sangue, não sei o que fazer. Não sei como descobriram isso. Era o meu segredo...
Nesse instante, Jungkook se lembrou: o diário.
Alguém o havia lido. Um traidor estava entre eles.
— A temperatura dele está normal, 36 graus, mas por que está suando tanto? — perguntou Jin.
— Não está normal. Está em 42 graus. — Jungkook respondeu. — Eu sei, parece impossível... mas ele é a prova viva de que não é.
— Por favor, Jin... cuida dele.
— Vou fazer o impossível pelo nosso lobinho. — sorriu o médico com ternura.
Ligou o soro na veia de Taehyung. O demônio-lobo parecia cada vez mais distante da realidade.
Agora, só restava esperar as toxinas saírem do corpo.
Jungkook permaneceu sentado ao lado da cama, vigilante. Não sairia dali até o amado melhorar.
— Mamãe... — murmurou Taehyung. — Me perdoa. Não queria ser assim...
Jungkook franziu o cenho, confuso.
— Papai... eu estava com tanta saudade.
— Ele está delirando. — Jungkook chamou Jin de imediato.
— O corpo está reagindo ao veneno, é como abstinência. Mas o que me intriga é a temperatura... normalmente, quando há infecção, o corpo aquece para matar o invasor. Só que ao mesmo tempo, a febre pode matar o hospedeiro. O corpo tenta salvar... mas pode destruir.
A boa notícia é: se ele aguentar até o amanhecer, tudo ficará bem. Mas ele continuará delirando até expurgar toda a toxina.
Jin observou as veias negras no pescoço de Taehyung. Seria isso parte do processo?
Estava prestes a sair quando sentiu seu pulso ser segurado.
— Yugyeom... — sussurrou Taehyung. — Me perdoa... eu não consegui te salvar... devia ter me deixado morrer.
Jungkook desabou em lágrimas.
— Estou com saudade do seu abraço... você prometeu que estaria comigo... me perdoa, por favor... — tossiu entre palavras.
Jin estava atônito. Nunca vira o alfa Jeon daquele jeito — devastado.
— Ele está vendo o irmão dele... — explicou Jungkook, com os olhos marejados.
— Yugyeom, eu te amo tanto, irmão... é tão difícil sem você. Mas você voltou...— disse Taehyung, sorrindo em meio à febre.
Jin abraçou Taehyung com delicadeza.
— Está tudo bem, Tae. — sussurrou, beijando sua testa. Taehyung cedeu ao sono.
— Jeon, você precisa comer.
— Não posso deixá-lo. Ele me salvou... ele precisa de mim.
— E como vai cuidar dele se você cair também?
Jungkook, derrotado, cedeu e foi até a cozinha. Já era madrugada.
Minutos depois, a porta do quarto se abriu. Taehyung acordou, grogue, entre sonho e realidade.
— Yugyeom...?
Uma silhueta se aproximava. Tudo era um borrão para Taehyung.
— Não sou seu irmão, príncipe.— disse a figura, sentando-se ao lado dele e acariciando seus fios grisalhos.
— Me desculpa... eu não sabia que me apegaria a você. Só obedeci ordens. Ver você assim... machucado por minha causa... me destrói. Sempre te vi como um monstro, mas te conhecendo, percebi que não era culpa sua. Me perdoe, príncipe.
Depositou um beijo em sua bochecha... e desapareceu.
Jungkook retornou. Algo estava errado.
— Alguém esteve aqui. Mas não senti cheiro algum...
— Oi, meu amor. O Yoongi encontrou o homem da floresta.
— Meus lobos...?
— Estão bem. Hoseok cuidou disso. Não foi fácil, mas deu tudo certo.
— Yugyeom... mata ele... antes que te machuque de novo.
— Meu rei... não sou seu irmão. Sou eu, Jungkook.
— Jungoo...?
— Isso mesmo, bebê.
— Cadê meu irmão...?
— Eu não sei, meu amor... mas estou aqui. Eu te amo.
Taehyung se rendeu ao sono, embalado pelas carícias do alfa. Mas, ao tentar se afastar, Jungkook ouviu algo estranho.
Os olhos de Taehyung abriram-se, escarlates.
— Luceat luna in sanguinem super sepulcrum a rege, et claritas, et ressurgirá ex inferis.
Jungkook arregalou os olhos. Já tinha ouvido aquilo antes. Correu até o diário, abrindo a última página.
"Luceat luna in sanguinem super sepulcrum a rege, et claritas, et resurget ex inferis."
A profecia.
"A lua de sangue brilhará sobre o túmulo de um rei, e desse brilho ele ressurgirá do submundo."
— Profecia...?
— O que diabos é você, Kim Taehyung...?
Ele precisava descobrir. Queria saber tudo sobre seu amado.
E acreditava estar pronto para amar, independente da verdade.
Mas... será que estava mesmo?