AMIGO DO MEU INIMIGO

1313 Words
Eu passei a noite tentando exorcizar a visão daquele homem da minha mente, e tentando retirar de mim os olhares dele. Mas revivia aquela cena na minha cabeça, uma, duas, três, mil vezes. Eu não conseguia decifrar, não conseguia pensar em outra coisa a não ser nele. Um nome, apenas um nome para dar vida aos meus pensamentos. Mais nada! Absolutamente nada! O outro dia chegou e absolutamente ninguém sabia quem era ele, já havia desistido, essa era a verdade. Sem saber o nome dele, ele já me levava a loucura, mais do que isso eu não conseguiria suportar. - Laura, quero você em minha sala... – Disse Amaral, sem nem o mínimo de educação invadindo o meu cubículo. - Está na hora do almoço, então vou ficar devendo essa meu chapa! - Laura, essa é uma ordem! Você entendeu? Ordem! Como era difícil ser uma mulher independente naquele mundo de merda, eu queria jogar um copo de água na cara dele, mas o aluguel me impedia de fazer isso. Me levantei sem vontade, me arrastei basicamente até a sala de Amaral. Talvez mais alguma conversinha furada! - Fala Amaral, o que é tão importante que não podia ter me falado depois do almoço? - Você enviou essa matéria para impressão? Ontem Victor Grecco veio até aqui! Quase arrancou a p***a do meu couro! Eu não sabia do que ele estava falando, eu jamais havia enviado aquela matéria sem consentimento do jornal. - Eu não fiz nada disso! Eu juro! – Disse mostrando minha confusão mental, não era possível que aquilo realmente tivesse acontecendo. - Você cobrou que eu colocasse, e ai no outro dia sai no jornal? Eu nem ao menos me dava o trabalho de abrir o jornal, e certamente se o fizesse eu ficaria feliz ao ver minha matéria! Mas não... Eu literalmente não havia enviado a matéria para impressão! Disso eu tinha certeza. - Amaral eu não fiz isso! Eu não mandei a droga da matéria! Deve ter ido por engano! - Bom, eu não tenho como corrigir isso! Você está demitida! Arruma as suas coisas e vai para casa! – Disse ele com aquele tom arrogante de sempre. - Você está me demitindo porque alguém reclamou! Algum criminoso com certeza ligou para que o fizesse? - Ligou? Eu ficaria feliz se tivesse ligado! O cara veio até aqui! Você não viu? O meu mundo caiu, a verdade é que eu nem ao menos sabia qual era a aparência de algum dos criminosos que eu apontei no meu artigo. Talvez apenas dos mais velhos, ou mais conhecidos. Mas o cabeça do esquema? Não. Eu não acreditava que, o homem que eu havia passado a noite inteira pensando, era parte de um dos cartéis mais sujos do mundo! Na hora senti o meu estômago revirar! Não acredito nem que cogitei pensar nele, só de ouvir aquele sobrenome eu me odiava. - Certo Amaral, eu vou juntar tudo e ir embora. Eu pensei em implorar para ficar, mas isso não adiantaria, nem que eu me humilhasse, ele jamais cederia. Seria uma humilhação desnecessária. Mas quem havia feito aquilo? Quem poderia ter enviado aquela matéria? Por que me prejudicariam dessa forma? Enquanto eu juntava minha coisas, isso martelava na minha cabeça várias vezes. - Oi Laura, posso entrar? “Ahh não” – Pensei no mesmo momento, Ricardo, um editor cheio de mãos bobas, apesar de ser um i****a. Recusei sair com esse cara milhares de vezes, ele vai tentar de novo? - Pode Ricardo, estou de saída como você pode perceber. - Ah sim, então cumpri meu objetivo e hoje vou ficar em paz. – Disse ele sorrindo com uma cara de psicopata - Como assim cumpriu seu objetivo, tá maluco? – Disse encarando ele Eu não me importaria em dar umas porradas nele, eu juro que não! Ele me enchia de repulsa, uma situação muito adequada para aquele homem. - A matéria... foi publicada não foi? - Ah meu Deus, foi você? Vamos agora até a sala do Amaral! Você vai contar a ele que foi você! Eu estava indignada, tudo aquilo porque não conseguiu t*****r comigo? Que homenzinho pedante! - Eu não vou a lugar algum sua p**a orgulhosa! Você não queria publicar a matéria? Ela está publicada... Eu só sinto não ter visto a sua cara quando o Amaral te demitiu! - Por que você fez isso? Sério? – Eu estava indignada, não acreditava como aquele anão de jardim havia me prejudicado tanto! - Eu fiz porquê você é orgulhosa, porquê vive se exibindo aqui pelos corredores, recusando de sair com todo mundo, quem você pensa que é? Agora te coloquei no seu lugar! Vai ter que abrir as pernas por alguns trocados com certeza! Eu fiz o que podia, e enfiei a mão na cara daquele filho da p**a assim que ele terminou a última palavra. Peguei a minha caixa e sai da sala, ele ficou furioso é claro, mas não reagiu, eu não choraria na frente de ninguém, eu não iria me prestar a esse papel ridículo nunca. Então, só conseguia desabar em lágrimas e em nervosismo assim que eu deixei o prédio finalmente. Me encostei no primeiro muro que vi, o dia chuvoso ajudava a minha narrativa desesperada, a verdade é que eu não sabia como eu faria para seguir a partir disso. Eu não poderia voltar com a cabeça baixa para a casa do meu pai, não dava para fazer isso, não naquele momento, não depois de tudo o que ele me disse. Eu tinha que manter as coisas escondidas, até decidir que p***a eu ia fazer da minha vida. Parei de chorar finalmente, recompondo o que sobrou da minha dignidade, e sem saber o que eu faria a partir dali. Mas eu o vi... de longe, mas o vi. Parado, olhando para mim, parecia um sonho, ou um pesadelo, depende do prisma em que se olha. Me encarou com aquele olhar gelado e sombrio, não sorriu, não teve reação alguma, apenas ficou parado me encarando. Eu pensei em ir até ele, perguntar por que havia pedido minha cabeça, mas não tive coragem, porque fiquei petrificada parada ali...Sem reagir. E, enquanto ele caminhava vindo em minha direção, eu senti o meu coração bater perto da boca, tão lindo que eu pensei em verificar se estava enxergando direito e não se tratava apenas de um fruto da minha imaginação. Um terno bem cortado e alinhado, como o do dia anterior, os olhos azuis escuro, e a postura de quem poderia atirar na minha cabeça e simplesmente sair andando sem nem recolher o meu corpo. Mas eu não estava me importando na realidade, estava focada naquele olhar e na forma como ele mexia a boca e mordia os lábios, olhando para mim e caminhando em minha direção. Nunca imaginei um traficante assim! Muito menos vestido daquele jeito! - Olá... – Disse ele com a voz grossa - Oi. – Não consegui falar mais que isso. - Você é Laura Bernessi correto? – Disse ele com olhar confuso. - Sim... eu sou. – Falei com medo - Um aviso, se afaste dessa história, e nunca mais volta na p***a do morro pra espionar, se eu te pegar lá de novo, você não sair com vida, compreendeu? – Disse aquele homem chegando perto demais de mim, senti o hálito dele no meu rosto. - Você é o chefão então? Foi você que pediu minha cabeça? – Disse falando demais como sempre - Por enquanto foi o seu emprego, se continuar vai perder mais coisas. Eu ia atirar na sua cabeça, mas não é que você é gostosinha? Tá avisada! Saiu sem mais nem menos, fazendo as minhas pernas tremerem. Eu havia mexido com mais do que um traficante médio, ou um dono de morro. Agora bati de frente com o dono de um cartel. Porque tão enxerida Laura?
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