mentiras - a cidade perdida
IMPÉRIO DE CINZAS
“Uma mentira contada várias vezes se torna uma verdade”
PRÓLOGO
Sabe qual é o problema de histórias que começam com era uma vez? É que você nunca sabe quem está contando a história
Há muito tempo atras uma cidade em ruinas se emergiu em gloria sob o comando de quatro grandes líderes, cada líder comandava uma tribo e deveria reger uma área da tal cidade, cada tribo dominava uma arché, na qual o poder era contido em um anel:
A tribo do norte acreditava que ter poder sobre o começo lhe dá o direito ao fim, por isso escolheram a água como seu domínio, já que para eles se em tudo há água então a eles pertence tudo (“... a água é o princípio de todas as coisas)
A tribo do sul cria que o poder de conceder e anular a vida lhes fariam invencíveis, afinal vitalidade faz de qualquer simples homem um grande soldado, e logo optaram pelo ar como arché (“... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”)
A tribo do leste acreditava que poder significava ser dono de tudo, onde tudo fosse fornecido por eles e tudo voltaria para eles, sua arché era a terra (... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”)
A tribo do oeste eram os mais ambiciosos, estavam certos que ter o poder de mudar tudo e qualquer coisa lhes daria o direito a decisão final, então escolheram o fogo, já que quando o fogo toca a matéria ela muda e jamais volta a ser mesma (Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio...pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem)
Os líderes eram obrigados a proteger o trono, um tesouro no qual não poderiam possuir pois para tê-lo precisariam ter poderes ilimitados concedidos exclusivamente pelo amuleto de apeíron, no qual apenas o príncipe Rory descendente do antigo rei(o rei que dominara a cidade antes de sua ruina) poderia dominar esta arché, Rory por sua vez se apaixonou por uma moça de uma terra longínqua e decidiu renunciar o trono, portanto foi feita uma profecia que dizia que o antigo príncipe teria um filho homem que herdaria o amuleto de apeíron mantendo a linhagem real em sua família; certo dia um dos quatro regentes ousou sentar no trono, a cidade foi amaldiçoada e todos foram expulsos e tiveram de conviver com forasteiros, ocultando sua magia e a dominando em segredo, a fome e a miséria tomou conta deles, apenas o herdeiro da coroa poderia restaurar a glória ao local.
As esperança daquele povo estava no nascimento da criança real, e depois de uma longa espera sua criança nasceu e o desespero só aumentou, pois diferente da profecia uma garota nasceu e para expressar a amargura e trevas que a decepção de vê-la causou ao pai ele a chamou de Hadria que significa escuridão; os anos se passaram e os cabelos ruivos de Rory já estavam brancos quando nasceu-lhe seu segundo filho, um garoto, que trouxe ao pai orgulho e alegria, por isso o chamou de Felix que significa feliz.
E quem sou eu? Meu nome é Hadria, eu cresci ouvindo contos deste lugar quase fantasioso, meu povo hoje vive na província de Regens, um lugar bem aconchegante que fica entre montanhas a beira de um lago, apesar do clima favorável temos que dividir ao máximo o alimento para que não falte, eu vivo na mansão ad Regem no topo da montanha, mas não se engane eu não levo uma vida de princesa, eu exerço funções domesticas e cuido do plantio, enquanto Rory ensina meu irmão de 14 anos a caçar e a ser um bom rei; o estudo deles é pequeno demais para quem almeja ser grandioso, é tão previsível que é fácil de detalhar:
1- Acordam as 7:07 e vão praticar esgrima e artes marciais
2- As 12:07 eu sirvo o almoço para eles.....PATÉTICO
3- As 13:07 eles vão para caça
4- As 16:07 Felix volta sozinho cansado e eu o sirvo
Já o meu, diria ser um pouco mais complexo, acordo sempre as duas da madrugada e salto o muro da biblioteca da cidade e entro por uma janela quebrada num local quase fantasma onde graças aos livros posso abrir a mente, depois de estudar vou praticar luta no centro da cidade que a esta hora está deserta, volto antes que os dois acordem e adianto minhas tarefas para que mais tarde durante o período do plantio eu possa dar uma escapada e espia-los para que eu possa anotar cada segundo e cada passo deles.
CAPÍTULO 01 – SOL E LUA
Já parou para pensar em qual é o sentido da vida? Por que as coisas são como são?e por que devemos aceita-las ao em vez de tentar modifica-las?
Desde que me entendo por gente este foi meu pensamento, me parece simpático dizer quem eu sou, mas isso comprometeria minha participação no destino do reino perdido, como eu sei sobre ele?
Bom, tudo começou quando tínhamos oito anos, papai era muito próximo da gente, toda noite nos contava histórias sobre suas aventuras de infância, até que um dia ele chegou com uma notícia de que iria trabalhar em uma expedição, ele fez uma festa e convidou a família toda para que soubessem da novidade, todos comemoraram e em meio a uma seção de risos e abraços algo ainda me incomodava, foi quando minha irmã “Sol” (pseudônimo) me chamou de canto e disse:
-Uma expedição! Isso quer dizer que ele vai nos deixar?
- Vai ser pouco tempo ele vai voltar por nós
-Assim espero
Nosso pai reparou no incomodo e tentou se aproximar porem foi impedido por um g***o de pessoas, não me recordo muito bem de todos porem me lembro claramente do tio Sam, tio Marco e vovó.
A festa se estendeu por mais algumas horas, tendo como ponto final a saída dos convidados, Sol e eu subimos até o nosso quarto, embora sejamos gêmeas de nascimento temos a aparência completamente distinta.
Ouvimos os passos de alguém subindo a escada, minha irmã começou a tremer em sua cama, ela podia se assustar com qualquer coisa, uma criatura tenebrosa ou seu próprio reflexo, ela de cara chutou que poderia ser um lobisomem, patético em minha opinião, deveria ser algum dos empregados já que nossos pais estavam ocupados com assuntos que segundo eles não era da nossa conta, mas para ajudá-la disse que iria olhar o que é, ela nem sequer se ofereceu para me acompanhar, segui dando passos lentos evitando qualquer som que pudesse assusta-la e abri a porta lentamente e para minha surpresa e alivio da minha irmã era meu pai, pulei em seus braços e fui envolvida por um forte e apertado abraço de urso, fomos juntos em direção a cama e ele nos cobriu e contou mais uma de suas loucas historias:
- Quando eu era criança eu e meus irmãos costumávamos sair no meio da noite e montar nos cavalos dos vizinhos para ir até a cidade roubar galinhas, e ver se elas podiam voar....
Ficou explicito que nem mesmo ele tinha animo para prosseguir a história, e um silencio envolveu aquele pequeno quarto como se sufocasse lindas lembranças. Normalmente teríamos rido de suas falsas histórias feitas para nos alegrar.
- Sol! Lua! Eu sei que não estão bem, mas eu prometo que vou voltar e vou mandar cartas todos os dias
Apesar de sua tentativa permanecemos caladas, ele se retirou do quarto e desligou o abajur, embora não falássemos sobre o assunto nem eu nem minha irmã dormimos direito aquela noite, na manhã seguinte o papai nos presenteou com um cãozinho ainda filho no qual o chamamos de Aron ( o nome do vizinho que minha irmã achava uma gracinha), ele nos disse que sempre que olhássemos para Aron deveríamos nos lembrar dele, o que soa um tanto esquisito. E em poucos dias veio a despedida mais dolorosa da minha vida, pelo menos foi o que eu achei.
Não me recordo do que aconteceu neste meio período, mas ainda assim guardo sua primeira carta:
“ Minhas queridas, lanço minhas palavras aos mares na esperança de que a maré as leve até vocês, hoje contemplei o impossível com meus olhos, eu acordei depois de um naufrágio em uma ilha onde ao cair da noite o mar reluz como estrelas, aqui é tão belo que parece uma pintura, porem a nevoa cerca sua possível civilização toda vez que me aproximo sinto me cansado e desmotivado, porem sempre que preciso tenho como me recuperar, é como se a ilha me quisesse vivo mas não aqui dentro, espero que um dia possam conhece-la, sinto muito a falta de vocês, se cuidem, com amor , Orion”
Neste período muitas cartas apaixonadas chegavam até nós, porem a amada era a ilha.
Dois anos se passaram desde o dia que ele se foi, porém quando ele voltou a alegria o acompanhou, era o mesmo homem, mas eu já não o reconhecia, ele parecia distante e constantemente irado.
Conforme os dias se passavam mais eu notava o quanto ele havia mudado, ele jamais citou uma palavra sequer sobre a tal ilha que ele tanto elogiava, ele apenas ia até seu escritório e se trancava lá o dia inteiro, teve apenas um dia que eu o segui e ele me deu um presentinho e me falou um pouco sobre a viagem porem ele disse como se fosse um lunático, mas ainda assim houve um dia no qual ele se sentou conosco no jardim e por uma hora voltou a ser o cara do qual u me orgulhava, ele nos presenteou com duas pedras raras jamais vistas antes, uma refletia a lua e a outra o sol, e nós fizemos colares gêmeos com elas.
No dia seguinte nosso pai tinha marcado uma reunião com o pessoal da marinha, minha irmã e eu estávamos ansiosas para saber sobre o que se tratava embora já suspeitávamos que o assunto seria a tal da ilha.
Ao olharmos ao redor vimos um g***o de marinheiros que marchavam em direção a casa, nós os seguimos em direção a sala de reuniões e por mais que nos esforçássemos não podíamos ouvir coisa alguma, quando os homens se retiraram dali e foram tomar chá, invadimos a sala e tentamos desvendar do que se tratava com base nas papeladas, quando ouvimos uma voz desconhecida:
- Devem ser as filhas de Orion, espionando?
Disse um rapaz de aproximadamente dezoito anos, ele estava acompanhado por um outro garoto da mesma idade e os dois pareciam extremamente sérios como se tivessem ordens para não nos deixar saber de coisa alguma.
- Mas é claro que não, nós só estávamos....
- Espionando! Não podemos deixar ninguém saber sobre o que se trata, incluindo a família de Orion, mas se olharem e saírem rápido podemos deixar passar.
Assim foi feito, olhamos rapidamente e ali havia apenas vários mapas hipotéticos da possível localização da ilha.
Não se passou nem uma semana e papai já estava de partida novamente, e sendo assim voltamos a viver em desconforto.