}}}}FAMÍLIA FELINA

1838 Words
TIGRESA, SOL, LUA E BLACK O suave miado dos filhotes enchia o ar com um som quase musical, enquanto o cheiro de leite morno e ração se misturava ao perfume de lavanda que Melina usava para perfumar o apartamento. O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas de linho, criando faixas douradas sobre o tapete e iluminando a cena diante de Blade — uma mulher ajoelhada no chão, com os cabelos ruivos presos de forma descuidada, acariciando uma gata que havia acabado de encontrar abrigo ali. Ele parou na soleira da porta, as mãos nos bolsos e o olhar curioso. A luz suave da manhã dançava em seu rosto, enquanto ele se permitia explorar o momento; a cena diante dele era uma pintura viva de ternura e esperança. — E você já nomeou os novos moradores? — perguntou com um meio sorriso, a voz rouca de quem ainda acordava. Seu tom leve escondia a expectativa de um envolvimento mais profundo na nova fase de suas vidas. Melina ergueu o rosto, uma mecha rebelde caindo-lhe sobre a bochecha, e seus olhos brilhavam como se refletissem a alegria dos gatinhos ao seu redor.— Ainda não, esperei que você chegasse para decidirmos juntos. — A voz dela soava suave, como se daquele momento dependesse uma nova narrativa para a história que estavam construindo lado a lado. Era um instante de decisão que envolvia não apenas nomes, mas uma conexão emocional que transcendeu a mera escolha de palavras. Blade se aproximou, agachou-se ao lado dela e observou os filhotes de olhos semicerrados, pequenos seres de vida que emanava uma inocência cativante. Um deles, com manchas mais fortes, tentou subir sobre os irmãos e soltou um miado valente, como se estivesse reivindicando seu espaço neste novo mundo. A imagem fez seu coração se aquecer.— Essa aqui parece um pequeno tigre — comentou, estendendo um dedo para que o filhote o cheirasse. — Que tal chamarmos de Tigresa?Melina riu, o som leve e cristalino enchendo o ambiente. — Gostei Ela se chamará Tigresa, a nossa primeira filha felina. — Com essas palavras, ela não apenas nomeava um gato, mas também simbolizava o começo de uma nova vida, uma aliança entre eles que agora era compartilhada não apenas no amor, mas na responsabilidade por aqueles que dependiam de sua união. Ele a observou com ternura, surpreso com o quanto aquela frase lhe soava… íntima, como se a maternidade de Melina se projetasse sobre ele, instigando seus próprios sentimentos sobre paternidade.— E os outros? — O veterinário disse que são duas meninas e um menino. — Ela ajeitou a gata mãe, que ronronava satisfeita, envolvida por um amor incondicional. O momento parecia ter um poder mágico, e Melina percebeu que as pequenas criaturas despertaram nela uma p******o maternal que ela não sabia que possuía. — Então, você escolhe o nome do menino.Blade pensou por um instante, analisando o pequeno corpo cinza que parecia tão frágil e ao mesmo tempo forte em sua busca por afeto.— Ele é meio prateado agora, mas vai ficar pretinho quando crescer. — Sorriu, uma ideia divertida cruzando sua mente. — Vai se chamar Black. Um nome que carrega um pouco de mistério e força, não acha?— Perfeito. — Ela o olhou de soslaio, encantada com o tom afetuoso na voz dele, como se cada nome fosse uma promessa de esperança e p******o. — Então faltam as meninas.— Escolha você — devolveu, cruzando os braços, um gesto que refletia não apenas liberdade, mas uma colaboração rica na criação da família que estavam formando. Melina observou as duas pequenas enroscadas uma na outra, uma mais clara, outra mais escura. Ambas tão diferentes, mas igualmente adoráveis, simbolizando a dualidade da vida. Eram como o sol e a lua, representando o equilíbrio que sempre buscaram.— Sol e Lua — decidiu. — Porque uma ilumina e a outra acalma, uma combinação perfeita que representa nossas esperanças e medos. Blade soltou uma risada, apreciando a beleza da escolha, mas também refletindo sobre o que esses nomes significavam para sua própria jornada. — Então somos pais e avós ao mesmo tempo. Uma verdadeira linhagem felina!— É disse ela, sorrindo. — Nossa filha chegou com três filhotes de brinde. Já nem precisamos mais do nosso bebê de proveta. — Melina disse isso em um tom leve, mas a verdade era que havia uma carga emocional nessa decisão, um lembrete de que a vida tomava rumos inesperados. Ele se inclinou, provocador, o olhar brincando com o dela, como se em meio a toda aquela seriedade, eles ainda pudessem encontrar espaço para a leveza. — Negativo, agora que a Tigresa está aqui, mais do que nunca, esqueça que quero o nosso filhote de verdade. Melina sorriu, mas o olhar endureceu. O d****o de Blade refletia um anseio profundo, talvez sua própria insegurança sendo projetada em uma meta concreta. — Então não esqueça: amanhã nós vamos à clínica. Blade levantou as sobrancelhas, surpreso e um pouco preocupado. — Amanhã já?— Antes de você ir trabalhar — confirmou, com a determinação que a caracterizava. — Tomamos café juntos, seguimos para lá, depois você vai para a empresa e eu volto pra casa, fazendo o que for necessário para garantir que tudo isso dê certo.— Combinado. — Ele assentiu, tentando disfarçar o nervosismo ao mesmo tempo que o d****o por essa nova etapa pulsava dentro de si.Um leve silêncio se formou entre eles, quebrado apenas pelo ronronar da gata, enquanto os filhotes palpitam ao seu redor. Blade observava Melina, e uma dúvida o atravessou, reverberando em seu coração como uma sombra. — Melina — começou, hesitante, como se suas palavras fossem feitas de cristal. — Você não tem medo?Ela ergueu o olhar, surpresa pela vulnerabilidade dele, mas sentindo que aquele momento era um convite para compartilhar medos e sonhos.— Medo de quê?— De... tudo isso. — Ele fez um gesto vago, englobando o apartamento, os gatinhos, o casamento, o futuro que ambos carregavam nas costas. — De estarmos tentando criar uma família sem saber se somos capazes, se estamos prontos para tal responsabilidade. A verdade crua que ele temia mais do que a própria falha.Melina suspirou, passou a mão nos cabelos e falou num tom mais baixo, refletindo não apenas seus sentimentos, mas a sabedoria que vinha da experiência. — O medo faz parte, Blade. Mas sabe o que é pior que ter medo? É fingir que não sente nada. — Sua sinceridade transparecia em cada palavra, piercing como uma flecha.Ele ficou em silêncio. A resposta dela o atingiu mais fundo do que gostaria de admitir, ecoando como um mantra em sua mente enquanto ponderou sobre a fragilidade da vida.Na manhã seguinte, o aroma de café fresco e pão caseiro espalhou-se pelo ar, criando uma atmosfera familiar que exalava conforto. O som da chaleira chiando na cozinha misturava-se ao miado insistente dos filhotes pedindo atenção, uma sinfonia de sons que simbolizava a nova vida que estavam criando juntos.— Venha ver, Blade — chamou Melina, com o avental amarrado à cintura, parecendo em seu elemento. — Você precisa aprender. Quando eu não estiver, vai ter que cuidar deles, e quem melhor para fazer isso do que você?Ele se aproximou, ainda sonolento, e coçou a nuca, tentando se adaptar àquela nova realidade que o fazia sentir um misto de curiosidade e apreensão. — Cuidar? Como assim?— Tem que limpar o banheirinho, trocar a areia, colocar ração e água. — Ela falava com naturalidade, mas um sorriso dançava no canto dos lábios, revelando um toque de diversão, uma quebra na seriedade da situação. — Limpar a caquinha? — perguntou, fingindo horror, ainda brincando com a ideia de se tornar responsável por vidas tão pequenas e dependentes.Melina riu, a movimentação delas equilibrando a leveza do momento. — Sim, senhor. É parte do pacote familiar. E lembre-se, essas coisinhas são muito espertas e exigem atenção!Ele ergueu as mãos, rendido e sem volta. — Está certo, está certo. À noite eu cuido. Você de dia, eu à noite. Assim poderemos nos revezar e criar laços em cada um desses momentos — pensou ele, sentindo a excitação de permitir que isso se tornasse parte de seu cotidiano.— Perfeito. Assim é um lar — disse ela, satisfeita, enquanto a aura de companheirismo e respeito permeava o ambiente.Blade olhou para a gata e resmungou, fingindo indignação, mas a verdade era que tudo aquilo o fazia se sentir mais vivo. — Tigresa, você chegou aqui pra me dar trabalho, viu?Melina gargalhou, um som que iluminava o apartamento e os ocupantes felinos. — Acostume-se, Blade Schneider. A vida não é feita só de glamour. Aqui, as pequenas alegrias e os desafios andam de mãos dadas.Ele ficou observando-a, e naquele instante entendeu que o que o atraía nela não era só beleza — era o equilíbrio, a paz que ela transmitia, a forma como a vida se tornava uma aventura ao lado dela.Quando chegaram à clínica, o ambiente estava silencioso e frio, a tensão sutis entre os pacientes e seus acompanhantes. O som distante dos passos no corredor e o leve perfume de álcool e flores criavam uma atmosfera tensa, como se o tempo tivesse desacelerado, e a espera carregasse um peso profundo. Blade segurava os formulários com as mãos trêmulas, tentando parecer confiante, mas a incerteza de sua nova realidade pesava em seu coração.O médico explicou com voz calma, mas o peso das palavras ressoava forte: — A senhora iniciará o tratamento hormonal e o senhor tomará suplementos para fortalecimento dos espermatozoides. Dentro de quinze dias faremos a coleta e a fecundação. — As etapas estavam traçadas, e a realidade estava se moldando ao redor de seus desejos e esperanças, mas isso não tornava a jornada menos assustadora.Melina ouviu atentamente, enquanto Blade sentia o peso da responsabilidade cair sobre os ombros como uma capa de chumbo. Quando saíram, o ar frio da rua os envolveu, e ele soltou o ar num suspiro pesado, tentando processar a nova realidade.— É estranho pensar que o nosso primeiro filho virá assim — murmurou, a contemplação quase filosófica em suas palavras. — Tão planejado, tão… técnico. Onde estava a magia disso tudo?Ela o olhou de lado e respondeu, firme, como se o anseio deles pudesse ser superado pelos laços do amor. — O amor não depende da forma, Blade. Depende da intenção. O sentimento que colocamos em cada passo dessa jornada é o que realmente importa. Ele sorriu, tocando de leve a mão dela, apreciando o calor que a conexão deles emanava, um convite à vulnerabilidade e ao compromisso.— Então, que seja com amor. — A determinação em sua voz soava como uma promessa, um pacto de que enfrentariam os desafios juntos, solidificando a união que estava se formando. Naquele instante, os dois sabiam: o contrato poderia ter sido assinado por obrigação, mas o destino — esse sim — já havia sido selado pelo coração, uma jornada onde o amor superaria todas as inseguranças e revelaria o que realmente significava ser uma família.
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