}}}}FUGA DE FRIDA

1162 Words
O relógio marcava meio-dia quando a notícia chegou à cobertura: Frida havia passado pela triagem, embarcado em um voo internacional e, por enquanto, desaparecido do alcance imediato das autoridades locais. Derek entrou apressado na sala, o telefone ainda no ouvido, os olhos inchados de preocupação. — Sr. Schneider — disse ele sem cerimônia — os agentes de fronteira confirmaram que ela passou pela alfândega. Tinha passagem internacional e conseguiu embarcar. Blade permaneceu imóvel por um momento, a xícara de café cerrada entre os dedos até ranger. Depois, largou o copo sobre a mesa com delicadeza, evitando quebrar algo além da porcelana. — Ela fugiu? — a frase saiu contida, quase como um sussurro. — Sim. — Derek respirou fundo, sua expressão refletindo a tensão acumulada nas últimas horas. — Houve um intervalo entre a ordem judicial e a ação dos agentes da Customs and Border Protection. Ela usou esse tempo, embarcou e saiu do país. Melina, que observava da varanda, voltou lentamente. O vento bagunçava seus cabelos ruivos; seu rosto, pálido à luz da manhã. Aproximou-se sem pressa e pousou a mão no ombro de Blade. — E agora? — perguntou, serena, mas firme, sua voz ressoando com a força de alguém que estava pronta para a luta. Blade reconheceu no tom dela não a rendição, mas a estratégia. Ele assentiu, fechando os olhos por um instante, como se estivesse pesando as consequências daquela fuga. — Agora recuamos um passo para dar dois depois — respondeu, a determinação em sua voz ecoando na sala. — Não podemos transformá-la em mártir. Se realizarmos uma operação midiática agora, ela se tornará um símbolo. Ela quer palco; vamos lhe negar isso. — Vamos rastrear cada transação, cada ligação, cada rota. Utilizaremos perícia digital e cooperação internacional — FBI e parceiros — para desmontar a rede que ela usou, desmascarar seus aliados e expor suas fraquezas. Quando ela pisar em um país sem brechas, nós a interceptamos. Derek arqueou a sobrancelha, a dúvida iminente em seu olhar. — Tem certeza? A Justiça... — — Eu sei o que a Justiça quer — interrompeu Blade, a voz firme, quase desafiadora. — Mas eu também entendo como a opinião pública funciona. Se a pegarmos em cena agora, ela se tornará uma lenda. Se a deixarmos ir e montarmos as provas técnicas, ela voltará algemada sem plateia, e essa será a verdadeira humilhação. Isso é melhor para todos, para nós, para ela, mesmo que não compreenda nesse momento. Melina olhou para ele, e a expressão em seu rosto era de cumplicidade, como se compartilhassem um segredo profundo e emaranhado. — Você propõe caçar com método, não com espetáculo — disse, admirando a sabedoria que Blade demonstrava. — Eu confio. — Não quero que ela retorne à mídia com cartas de “injustiçada”. Quero provas concretas. — Ele segurou as duas mãos dela com força, sentindo a conexão entre eles se intensificar. — Vou puxar as cordas para que ela tropeçe. Derek fez anotações apressadas, sua mente fervilhando com novos planos. — Vou ordenar que a equipe internacional comece a monitorar transações e comunicações. Vamos trabalhar com o FBI, com parceiros da Interpol e com unidades de segurança do aeroporto. Por ora, ela está fora do alcance imediato, mas deixou rastros. Melina sorriu ironicamente, um brilho de astúcia nos olhos. — Então deixamos a serpente correr por ora, para que enrole o próprio r**o e se desgaste. Depois, a pegamos. Blade riu baixo, um som mais aliviado do que alegre. — Perfeito. Ela corre — disse ele — e eu, pacientemente, vou puxar as cordas. --- No aeroporto, Frida sentiu o gosto da vitória temporária como se um novo capítulo estivesse prestes a ser escrito em sua vida. Passou pela área de embarque com o olhar vago, como quem escapou por um triz, um misto de adrenalina e medo pulsando em suas veias. Comprou um café, sentou-se ao lado da janela panorâmica e observou o avião como se contemplasse seu próprio futuro, aquelas asas brancas prometendo liberdade e novas oportunidades. Em sua mente, os planos — chantagens, vendas de material, ameaças — se redesenhavam, virando peças em um jogo perigoso. Ela via as possibilidades se multiplicando diante de si, como um vasto tabuleiro de xadrez onde cada movimento poderia levá-la a um novo patamar de poder e influência, longe do alcance dos que a caçavam. Mas, mesmo nesse momento de aparente triunfo, havia uma tensão interna crescentemente palpável; um sussurro de dúvida que se insinuava em sua mente: seria realmente livre, ou estava apenas adiando o inevitável? A consciência do mundo lá fora, com seus perigos e determinismos, pesava em sua mente enquanto ela se via dividida entre a euforia de sua fuga e a ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela não sabia que deixara rastros eletrônicos: compras com cartão, conexões Wi-Fi públicas e imagens de câmeras que já estavam sendo correlacionadas, um labirinto digital se formando. Enquanto desfrutava do momento de liberdade, equipes técnicas começaram a montar o quebra-cabeça digital, cada fragmento revelando uma parte da verdade que ela não conseguia ver. As conexões foram rastreadas, os locais onde ela se postou no aeroporto mapeados, e seu perfil se tornou um vetor de análise, uma interseção de informações que poderia levá-los até ela. A fuga parecia significativa, mas era apenas o primeiro movimento de um jogo maior, uma jogada ousada que a tornava tanto uma peça quanto uma jogadora no tabuleiro de xadrez da vida. Em cada esquina, ela sentia o olhar invisível de seus perseguidores. Um arrepio percorreu sua espinha, mas, em vez de se deixar intimidar, Frida decidiu que jogaria com força total. Cada segundo que passava, a rede que a caçava se tornava mais astuta e determinada, preparando o terreno para um confronto inevitável. --- De volta à cobertura, Blade e Melina sentaram-se lado a lado no sofá, um silêncio tenso envolvendo-os, como um véu que separava suas preocupações do mundo exterior. Lá fora, os flashes continuavam, mas agora soavam distantes — ecos que já não ditavam o compasso do lar. Ela encostou a cabeça no ombro dele, buscando conforto na presença forte e constante dele. — Vamos como você disse — murmurou, a voz tranquila como uma brisa fresca. — Calma. Método. Esperança. Ele fechou os olhos e inalou o perfume do cabelo dela — mistura de champô e ervas, um aroma que lhe trazia paz apesar da tempestade que se aproximava. — Quando ela reaparecer, vamos recebê-la com provas, sem plateia, com a verdade nua e crua. — A promessa soou firme e suave, um compromisso que ambos estavam dispostos a cumprir. Ela sorriu, abraçando-o, sentindo a força dele pulsar através do toque. — E, enquanto isso, vivemos. Mais fortes, mais unidos. E, por ora, deixaram Frida seguir seu caminho — uma fuga que parecia vitória, mas já costurada de detalhes que, mais adiante, a fariam tropeçar, um aviso para aqueles que se atrevem a desafiar as leis do jogo.
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