A LIÇÃO DO AMOR E DOS GESTOS SIMPLES
O dia amanheceu claro em Boston, e Blade saiu cedo para o trabalho.
A cada dia, ele sentia-se mais leve, como se aquele casamento — que antes parecia uma prisão — começasse a lhe dar um novo sentido de liberdade.
Ao chegar à empresa, passou imediatamente a ser convocado pelo pai. Richard o aguardava na sala, com os relatórios financeiros abertos sobre a mesa.— Meu filho — começou o patriarca, com voz calma —, as ações estão se estabilizando.
As especulações estão diminuindo, e o escândalo que a Frida provocou no casamento de vocês começa a perder força. Blade assentiu. — Eu imaginei que isso fosse acontecer, papai. As pessoas se cansam rápido de um escândalo quando não encontram mais combustível.
Richard apoiou-se na mesa. — Mesmo assim, é preciso aparecer mais em público. Mostrar que o casamento de vocês é sólido. Isso vai afastar as más línguas.Blade esboçou um sorriso tranquilo.
— Não se preocupe, papai. Nesta sexta-feira, nós teremos o evento de caridade da Fundação Loraine. Eu e Melina iremos juntos.
E já assinamos o novo contrato.Os olhos de Richard brilharam, surpresos. — Contrato?— Sim. — Ele respirou fundo. — Melina aceitou me dar uma chance, desde que eu prove que posso ser o homem que ela merece. Eu quero isso, papai.
Pela primeira vez na vida, eu d****o um relacionamento real.O pai o observou em silêncio, satisfeito, e Blade continuou:— O senhor precisa ir até minha cobertura um dia desses. A mamãe já foi... e viu o que ela fez lá. Está tudo diferente. Tem plantas, porta-retratos da família, até o cheiro da casa mudou.
É um lar agora. Melina se recusa a aceitar empregados diários; para ela, cuidar da casa é sua prioridade.Richard sorriu, emocionado. — Então você finalmente está entendendo o valor das pequenas coisas.
Blade baixou o olhar. — Com uma lição de moral daquelas, papai, era impossível não entender. Uma garota de vinte e um anos me ensinou o que nenhuma mulher me ensinou em trinta e duas. Se eu não aprendesse, nada faria sentido.
O pai se levantou, colocou uma mão firme em seu ombro e disse, com orgulho:— Agora você está no caminho certo, meu filho.
Enquanto isso, Melina saía de casa para comprar o vestido para o evento. O vento suave da primavera dançava em seus cabelos ruivos enquanto ela refletia na expectativa da noite de gala que a aguardava.
Havia algo de mágico em um evento desse porte, repleto de pessoas influentes e de grandes corações dispostos a ajudar.
Ela não via a hora de brilhar sob as luzes, mas sabia que seu coração estava ainda mais animado com o que estava por vir.Mas, ao dobrar a esquina da Boutique La Lumière, um miado fraco a fez parar.
Perto da vitrine, uma gata magra, de pelos brancos e olhos tristes, protegia três filhotes minúsculos que tremiam de frio. A cena a tocou profundamente, lembrando-a de como pequenas vidas podem trazer um significado profundo e inesperado.
As pessoas passavam rapidamente, indiferentes à cena, absortas em seus próprios afazeres. Melina, no entanto, não pôde ignorar o olhar implorativo da mãe gata. Sua intuição gritou dentro dela, como um chamado de urgência e compaixão.Sem hesitar, Melina ajoelhou-se.
— Oh, meu Deus, você acabou de dar à luz, não é? — murmurou, estendendo a mão com delicadeza, como se buscasse conectar seu coração ao daquela criatura vulnerável.
Ela entrou na loja e pediu uma caixa vazia. As vendedoras, espantadas, assistiram enquanto a jovem recolhia a gatinha com todo o cuidado, ciente do peso da responsabilidade que assumia.
Ao carregar a pequena família, Melina sabia que estava não apenas salvando vidas, mas também incorporando uma nova dimensão de amor em sua própria existência. — Senhorita, a senhora vai levar mesmo essa gata? — perguntou uma das atendentes, franzindo o nariz.
— Ela deve ter dado cria ontem...Melina levantou os olhos, firme e serena, como alguém que já havia tomado uma importante decisão. — Sim, eu vou levar.
Vocês viram e não fizeram nada. Mas eu não consigo ignorar o que encontrei, não só uma gata, mas uma nova esperança. Ela escolheu o vestido — um modelo elegante em tonalidade vinho profundo, que destacava ainda mais seus cabelos —, pagou, agradeceu e saiu com a caixa nos braços, preenchida com novos sonhos e um propósito renovado.
Parou em um pet shop próximo, comprou ração, caminha, potes, toalhas, brinquedos e pediu para o veterinário examinar a nova moradora.
O profissional confirmou: a gata estava saudável, só precisaria de vermífugo após o desmame, e Melina sorriu aliviada, sabendo que havia feito a escolha certa.
Ao voltar para casa, Melina sentia o coração leve e os olhos marejados de ternura. Preparou um cantinho aconchegante na varanda, arrumou uma manta macia e um potinho de leite morno, imaginando como aquelas pequenas vidas trariam alegria e amor para seu lar.
Quando Blade chegou à noite, o aroma da comida caseira o recebeu na porta. Mas, juntamente com isso, um som diferente — um miado suave, quase um sussurro de vida, que parecia ecoar na casa de modo carinhoso.
Ele franziu o cenho. — Que barulho é esse?Melina apareceu na sala, com um sorriso tímido, que rapidamente se transformou em um brilho radiante. — É a nova moradora da casa. Uma mãezinha que eu encontrei na rua... com três filhotes. Agora, eles fazem parte da nossa família, e eu não poderia estar mais feliz com isso.
— Você, adotou uma gata? — perguntou, surpreso, mas com um brilho divertido nos olhos, já imaginando o quanto aqueles novos inquilinos iriam mudar sua rotina.— Sim — respondeu ela, com serenidade. — A mãe e os três filhotes.
Eles precisavam de mim, e eu também precisava deles, de alguma forma.Ele se aproximou, observando os pequenos enroscados. — Então agora temos novos inquilinos. — Não — corrigiu Melina, sorrindo com ternura.
— Temos novos membros da família. Blade riu, genuinamente, desfrutando da sensação acolhedora que aquela cena proporcionava. — Está certo, novos membros da família.
— Ele percebeu que aquele momento simples, repleto de amor e compaixão, poderia ser a fundação de um futuro lindo e harmonioso.
E enquanto ela se abaixava para acariciar a gata, ele a observava em silêncio, pensando que talvez fosse aquela mesma pureza — aquele coração capaz de amar até o que o mundo desprezava — o que o faria, enfim, se tornar um homem completo.
Um homem disposto a aprender, a amar e a cuidar, não apenas de sua mulher, mas do verdadeiro sentido de família que, agora, começava a se formar ao seu lado.