As Primeiras Defesas
Blade colocou a pasta de couro sobre o aparador e seguiu Melina até a cozinha. O aroma do jantar o fez sorrir.
— Depois do jantar, nós vemos o contrato. — disse ele, gentil. — Por enquanto, quero apenas dividir essa refeição com você.
Melina o olhou, ligeiramente desconfiada, mas assentiu.
— Tudo bem, mas já aviso: a sobremesa é o ponto alto.
— Se for como tudo o que você faz, já é perfeita. — respondeu ele, pegando os pratos e ajudando a colocá-los na mesa.
Os dois trabalharam lado a lado, arrumando o jantar como se fosse algo rotineiro, Blade puxou uma cadeira para ela, esperou que se sentasse e serviu o vinho.
O clima estava diferente — mais leve, quase íntimo.
— Então como foi seu dia? — perguntou ele, curioso, cortando a carne com calma.
— Foi produtivo,— respondeu Melina, pousando os talheres com elegância. — Fui até uma loja de decoração, queria deixar o apartamento mais aconchegante, pensei que flores e cortinas novas fariam bem ao ambiente, mas algo aconteceu.
Blade olhou ao redor e sorriu,— Fez maravilhas, o lugar parece outro. — fez uma pausa e notou que o semblante dela mudou, — Mas, aconteceu algo, não é?
Ela suspirou. — Aconteceu.
Ele endireitou-se na cadeira, atento.
— Diga.
Melina cruzou as mãos sobre o colo e falou com naturalidade controlada:
— Fui abordada por uma mulher, loira, alta, muito bem vestida, disse se chamar Vanessa, não precisei de muito para perceber que ela… fazia parte do seu passado.
Blade franziu o cenho, tentando lembrar.
— Vanessa? — murmurou, buscando na memória. — Ah, sim, uma modelo que trabalhou uma das campanhas da empresa há uns dois anos.
— Exatamente, deve ter sido essa mesma— respondeu Melina, firme. — Ela me reconheceu e disse que era uma “antiga amiga íntima” do meu marido. E que queria apenas me desejar sorte, porque — imitou o tom debochado da mulher — “manter Blade Schneider é mais difícil do que conquistá-lo.”
Blade cerrou o maxilar.
— Ela disse isso?
— Disse. — confirmou Melina, olhando-o com serenidade. — E eu, por educação, respondi que sorte eu já tinha, porque conquistar não era o meu objetivo — educar talvez fosse.
Blade tossiu disfarçando o riso, mas ela continuou, impassível:
— E quando ela insistiu, dizendo que eu devia estar ciente de que você “não era homem de uma mulher só”, eu disse que — olhou-o diretamente — um homem é o reflexo da mulher que o acompanha. Se ele continuar perdido, é porque ainda não encontrou o espelho certo.
Ele ficou em silêncio por um instante, admirado.
— Você realmente disse isso?
— Disse, e acrescentei que a diferença entre mim e ela é que eu não dependo de holofotes para ter valor. E que se ela tentasse me desrespeitar novamente, ela seria lembrarada de que sou casada com um Schneider — e que os Schneider não perdem tempo com sobras.
Blade ficou estático por alguns segundos, depois soltou uma gargalhada contida.
— Você é inacreditável, Melina. — disse, ainda rindo, mas com orgulho no olhar. — Pagaria para ver a cara dela.
Ela deu um leve sorriso, — Ficou pálida, a atendente da loja quase deixou o balcão cair.
— Imagino. — ele recostou-se, observando-a. — Você sabe se defender, e o melhor de tudo, sem perder a classe.
Melina pegou o guardanapo e o dobrou com calma.
— Apenas reajo conforme a situação, sei o tipo de mulher que cercou a sua vida, Blade. E quero deixar claro que não sou uma delas.
Ele olhou para ela com seriedade.
— Sei disso, é justamente por isso que quero tentar de novo, com respeito.
Ela manteve o olhar firme. — Então, comece provando que é diferente, e não dizendo. Palavras não limpam reputações, ações sim.
Blade assentiu. — Concordo, essa foi uma boa lição, senhora Schneider.
Ela arqueou uma sobrancelha. — Lição?
— Sim,— ele sorriu de canto. — Aprendi que a minha esposa é mais perigosa que qualquer contrato que eu assine.
Ela não conteve uma risada curta. — E mais justa também.
— E mais linda. — completou ele, num tom baixo e sincero.
Melina desviou o olhar, fingindo se concentrar no prato. O coração, contudo, traiu a serenidade habitual e bateu mais rápido.
O jantar seguiu entre trocas de olhares e silêncios que diziam mais do que qualquer conversa.