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865 Words
Algum tempo depois… A noite caiu sobre a mansão Di’Angelo como um véu escuro e pesado. A lua, alta no céu, iluminava a propriedade imponente, mas a tranquilidade que costumava pairar sobre os extensos jardins fora substituída por uma tensão sufocante. Desde que Carlos partira, a casa já não era a mesma. O silêncio reinava nos corredores outrora preenchidos por risadas infantis. Os empregados andavam sempre alertas, temendo o menor sinal de perigo. A guerra entre os Di’Angelo e os Portinari ainda rugia como um incêndio descontrolado, e todos sabiam que a vingança não tardaria. Eva, agora com doze anos, sentia-se cada vez mais solitária. Sem Carlos, os dias se arrastavam de maneira tediosa, e a mansão, que antes fora seu mundo, tornava-se uma prisão onde ela e sua mãe, Sofia, viviam à margem, apenas servindo. Mesmo que Dom Vittorio Di’Angelo tivesse permitido que continuassem ali, Eva sabia que, para ele, sua presença era irrelevante agora que Carlos se fora. Naquela noite, o vento sussurrava através das árvores, carregando um prenúncio de tragédia. Eva acordou com o som de passos apressados do lado de fora. Seu coração disparou. Algo estava errado. Sua mãe, Sofia, também despertou, e no mesmo instante, um estampido ecoou pela mansão. Tiros. O pesadelo começara. Sofia agarrou o braço da filha e, sem hesitar, puxou-a para debaixo da cama. Eva mordeu o lábio para não gritar. Ouvia os gritos ecoando pelos corredores, o som de móveis sendo virados, vidros estilhaçando. O cheiro de pólvora invadiu suas narinas, e o medo gelado percorreu sua espinha. Os Portinari haviam invadido a mansão. O estrondo de portas sendo arrombadas se intensificava. Cada disparo que ecoava fazia o corpo de Eva estremecer. Ela fechou os olhos com força, segurando a respiração, enquanto sua mãe a envolvia num abraço protetor. Os passos pesados se aproximaram do quarto de empregados. Dois homens entraram, conversando entre si em sussurros apressados. “Verifique tudo. Não podemos deixar testemunhas.” Eva prendeu o fôlego. Os sapatos dos homens estavam tão próximos que ela podia ver o reflexo da luz nas fivelas de metal. O terror crescia dentro dela, sufocando-a. Se eles olhassem debaixo da cama… O tempo pareceu se arrastar. Um dos homens revirou as gavetas, mas o outro murmurou: “Já estamos perdendo muito tempo aqui. Vamos logo.” Os passos se afastaram. Eva sentiu a tensão no corpo da mãe aliviar um pouco, mas ainda não ousaram se mexer. Minutos depois, uma explosão sacudiu a casa. O ar foi tomado pelo cheiro de fumaça. Eva queria gritar, queria correr, mas sua mãe tapou sua boca suavemente e sussurrou: “Fique quieta. Não saia daqui, não importa o que aconteça.” E então ela saiu de debaixo da cama. Eva não queria deixá-la ir, mas ficou paralisada pelo medo. Viu sua mãe desaparecer pela porta e ouviu seus passos rápidos pelo corredor. As horas seguintes foram um borrão de terror e caos. Quando a batalha finalmente cessou, o sol começava a nascer no horizonte, tingindo os céus de um tom alaranjado, como se refletisse o sangue derramado naquela noite. Os Di’Angelo haviam vencido. Mas a que custo? O corpo da esposa de Dom Vittorio, mãe de Carlos, fora encontrado no grande salão, cercado por destroços e sangue. Sua morte foi o golpe final que encerrou a guerra. Os Portinari fugiram, derrotados e despedaçados. A guerra havia terminado, mas o luto estava apenas começando. Dom Vittorio permaneceu impassível diante do caixão da esposa. Seu olhar não expressava dor, apenas uma raiva fria e um desejo de vingança ainda maior do que antes. No entanto, por mais que desejasse exterminar cada último resquício dos Portinari, ele sabia que o custo havia sido alto demais. A guerra custara-lhe a mulher que amava. E os Portinari haviam perdido seu líder. Não havia mais razão para continuar. O luto transformou a mansão. Durante dias, tudo permaneceu em um silêncio opressivo. Os empregados andavam sobre o chão como fantasmas, evitando cruzar o olhar com Dom Vittorio. Mas então, veio a ordem que mudaria tudo. “Alguém de dentro ajudou os Portinari a entrar.” Essa frase foi repetida inúmeras vezes. Dom Vittorio estava convencido de que um traidor abrira as portas da mansão naquela noite, permitindo o m******e. Mas ninguém confessava. Nenhuma pista fora encontrada. A solução, para ele, era simples. Mandou todos embora. Cada empregado, sem exceção, foi dispensado. Não importava se estavam na casa há décadas ou se haviam se mostrado leais. Eva e sua mãe estavam entre eles. Sofia ainda tentou argumentar, mas era inútil. Para Dom Vittorio, qualquer um ali poderia ser o traidor. Ele não correria mais riscos. No dia da partida, Eva se sentiu como uma intrusa na casa onde crescera. A mansão que antes fora seu lar agora parecia fria e hostil. Seu coração doía, não apenas pela injustiça, mas pela sensação de abandono. Odiava Dom Vittorio por isso. E odiava ainda mais o destino por tê-la separado de Carlos. Quando cruzou os portões da propriedade pela última vez, fez uma promessa silenciosa para si mesma. Ela voltaria. De um jeito ou de outro, voltaria para aquele lugar. E quando encontrasse Carlos novamente, nada os separaria outra vez.
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