Joel narrando;
Bom meu nome é Joel sou pai da Carla e Pietro e sou muito bem casado. Só tem uma coisa que está me incomodando muito, e essa coisa não é nada boa. Tudo está dando errado na minha vida.
Eu tinha um irmão, éramos felizes e nos dávamos bem. Até o dia da "coroação" para o próximo Dono do Morro. Essa coisa de poder mexe muito com a cabeça de um homem. O ser humano quer ter tudo, mais do que pode ter. E isso pode acabar com famílias, aldeias, cidades, países e o mundo inteiro.
Quando somos pobres a situação é ainda mais complicada. Nós vemos o quanto as pessoas tem em excesso, e queremos pelo menos um terço daquilo tudo. Mas não é assim que a vida funciona.
Tem gente que nasce para ser pobre e tem gente que nasce para ser rico. Infelizmente, minha família se encaixava no primeiro grupo.
Até que a vida resolveu sorrir para nós. Meu pai entrou em uma briga com o dono do morro na época, e venceu. O velho venceu e o pior é que eu nem sei como. O quê importa é que conseguimos sair daquela miséria.
Eu e meu irmão não precisamos mais de vender jujubas nas ruas e semáforo. Mas em compensação, tivemos que aprender a lutar e atirar. Nosso pai dizia que isso era para o nosso próprio bem. Eu aceitei isso, mas meu irmão não queria essa vida para ele. Bem, era isso até ele conhecer uma arma que atirava de verdade. Ele se apaixonou de primeira e sempre dizia que seria o novo dono do morro.
Eu não ligava muito para isso e ficava sempre na minha. Mas lutava e atirava como meu irmão.
Um dia, quando tínhamos dezessete anos, papai disse que faríamos uma prova. Para decidir quem ficaria com o "trono de dono do morro". Meu irmão ficou eufórico, ele dizia que iria vencer de mim, e o escambau á quatro.
Mas as coisas nem sempre saem como o planejado. O plano era fácil... na medida do possível. Teríamos que roubar o trono do dono da rocinha. Cada um teria a sua chance. E venceria quem derrubasse o homem.
Meu irmão teve sua vez, e falhou, eu tive a minha, e consegui. Depois de muito sangue e desespero, roubei o lugar do homem.
Nosso pai ficou super orgulhoso de mim, dele também, por ter tentado. Mas meu irmão, faltava me matar com os olhos. Isso me fez recordar de um acontecimento passado, que é como uma chave, para resolver meus problemas de hoje.
Há alguns anos atrás eu era dono do morro, até que um filha da put* invadiu o morro e quis matar a minha mulher com a meu filho em sua barriga. Meu desespero foi grande, como pode ele querer machucar uma mulher e uma criança?
isso tudo por causa de poder, ele queria assumir meu lugar. E como eu neguei, ele quis apelar para o lado emocional.
Joel: Me devolva minha Mulher, por favor. Não quero te machucar.- murmurei entre dentes, empunhando minha adaga. Suor já saia da minha testa, e eu ficava cada vez mais cansado.
Xx: Nunca ...elas vão morrer na sua frente. E você não vai me machucar .- sua risada maligna me enoja.
Joel: Mas o porquê disso agora?.- perguntei tentando entender seu lado, mesmo achando impossível.- Você teve muitos anos para querer me derrubar, porque tu veio logo agora?
Xx: Você tirou o morro de mim.- sua voz era carregada de amargura.- e se eu não vim antes, foi tudo calculado, todos sabiam que com a gravidez de Marília tu ficaria mais desprevenido.
Joel: Eu não tirei nada de ninguém, se o nosso pai não colocou você como dono do morro, é porque ele sabia que você não estava preparado para aquilo.- despejei tudo em cima dele.
Xx: Nosso pai iria dar aquele morro para mim, se não fosse você, estúpido.- gritou apertando mais o braço de minha mulher.
Joel: Eu não sei do que você está falando. O pai que não quis que você virasse dono disso tudo!.- abri os braços.
Xx: Se você tivesse esperado mais tempo para casar... Tudo seria diferente. Mas a p**a da sua mulher engravidou, e você casou. Parece mais um cachorrinho preso na coleira.
Joel: Peça desculpas! Minha mulher não é nada disso. E eu exijo que você a respeite.- gritei ficando com meu rosto vermelho, de tanta raiva acumulada.
Xx: Eu falo dela como eu quiser.- destravou sua arma.
Joel: Você me respeite! Você só tem inveja de mim. Minha mulher é só minha, ela não é que nem a sua que pula de cama em cama.- o homem puxou forte o cabelo da minha mulher, e lhe deu um tapa estalado.
Xx: Eu não acredito que matei aquele velho atoa, se eu soubesse teria matado sua v***a primeiro.- pisquei atordoado. O que?
Joel: Foi você que matou o nosso pai?.- murmurei sem reação.
Xx: Claro que sim. Você não achou mesmo que aquilo tinha sido uma intoxicação alimentar né ?
Joel: Eu...
Xx: O veneno estava no gelo da bebida...- sorriu de quase rasgar a boca.
Joel: Como você pôde fazer algo assim?
Xx: Eu quero o Morro irmão, nem que para isso eu tenha que matar cada um da minha família. Eu sempre tenho o que quero.- essa foi sua resposta.
Minha mente trabalhava a mil por hora, tentando entender que merda era essa. Ele matou o meu pai, o meu próprio irmão... O sangue do meu sangue.
A decepção pode ser vista pelo meu olhar, mas parece que o "sangue do meu sangue" não liga para isso.
Ouvi um grito e logo minha mulher estava ajoelhada no chão.
Meu coração se partiu. Se eu não sou suficiente bom para proteger minha mulher, então eu não sou bom o suficiente para viver.
Joel: Me mate! Deixa ela viva, pelo amor de Deus.- gritei baixando a mão lentamente.
Xx: Mas minha intenção não é essa.- seu sorriso de alargou.- mas sim te fazer sofrer, você sofrerá tanto, que não aguentará mais viver neste mundo. E cometerá suicido. Todos saem ganhando.
Joel: Eu ainda não vi a parte que eu ganho nessa história.- zombei.
Xx: Mas isso não importa.- ele segurou a cabeça da minha mulher e colocou o cano da arma lá.
Xx: sem mais enrolação diga adeus aos seus bens mais preciosos.
Dito isso ele ia atirar. Mas eu sou mais rápido e corro até seu encontro. Em um movimento rápido e nada calculado, corto sua garganta e o deixo morrer de agonia. O sangue jorra para tudo quanto é lado, sujei minhas mãos, com o sangue do meu irmão.
Depois do incidente, decidi deixar o morro e criar uma loja menos perigosa e mais segura. Faz sete anos que meu irmão se foi.
Mas aquele dia ainda assombra meus sonhos. Eu nunca me perdoei pelo que eu tive que fazer. Mas é a lei da natureza, ou ele me matava ou eu matava ele.
Papai estaria tão decepcionado comigo.
(continua...)