Acendo um cigarro e puxo a fumaça com calma, sentindo o calor invadir meus pulmões. O gosto amargo me acalma. Dante vira o copo de uísque e examina as cartas com olhos calculistas, enquanto Vittorio e eu aguardamos sua jogada.
Estamos no escritório do meu cassino, um ambiente luxuoso, mas impregnado do cheiro de poder, vício e sangue. O silêncio é tenso, cortado apenas pelo estalar dos cubos de gelo no copo de whisky. Esperamos Nicolo, um de nossos capos, para uma reunião sobre a nova rota de distribuição de drogas. Testamos uma nova mercadoria na região. Queremos os resultados.
A Cosa Camorra é nosso legado. Somos empresários de fachada, sim — atuamos no ramo hoteleiro, cassinos, segurança privada —, mas nossa essência pertence à máfia. É o sangue que pulsa nas veias, a honra herdada de gerações.
Dante, meu irmão mais velho, é o Don. Eu sou o subchefe. Vittorio, o caçula, é nosso Conselheiro. Nossos papéis são claros. O vínculo de sangue e crime entre nós é forte. Falamos sobre tudo: negócios, mulheres, ameaças… e merdas pessoais que tentamos ignorar.
Uma batida na porta interrompe o jogo.
— Com licença, senhor. Nicolo chegou — avisa um dos meus homens.
Antes que eu possa responder, Dante levanta a mão, sem tirar os olhos das cartas.
— Peça para esperar. Ainda não terminei minha jogada.
O soldado assente e sai. Dante é respeitado. Temido. Ninguém desobedece uma ordem dele e sobrevive para tentar de novo.
Dou outra tragada e prendo a fumaça, observando meu irmão concluir a jogada. Minutos depois, o mesmo soldado retorna — dessa vez sem bater.
Erro fatal.
Dante ergue a arma em um piscar de olhos e a aponta para a cabeça dele.
— Cinco segundos para me dar um motivo convincente para não explodir seus miolos — rosna.
Sorrio de canto. Meu irmão pode ser impulsivo, mas é isso que o torna um bom Don. Impõe respeito. Comanda pelo medo.
Vittorio permanece imóvel, como uma estátua. Parece distraído com as cartas, mas sei que está atento. Ele sempre está. Inteligente. Frio. O estrategista silencioso.
— M-me perdoe a interrupção, senhor... é que temos um problema.
— Quatro… — Dante continua a contagem, implacável.
— Uma garota — o soldado se apressa.
Vittorio franze o cenho. Dante ergue a sobrancelha. Eu continuo olhando as cartas, como se nada fosse.
— Ela exige falar com o senhor. Diz que é urgente.
— Você invadiu meu escritório… por causa de uma garota? — Dante bufa, me lançando um olhar. — Devo matá-lo?
— Não — respondo. — Ele é útil. Por enquanto.
Faço minha jogada final.
— Ganhei.
O soldado insiste, nervoso:
— Ela ameaçou fazer um escândalo se não fosse atendida…
Solto um suspiro impaciente.
— Você foi treinado pela máfia italiana e não sabe lidar com uma mulher? Que merda, p***a.
Antes que ele responda, gritos ecoam do corredor e a porta se escancara.
Uma jovem irrompe sala adentro, de vestido vermelho justo, cabelo n***o em ondas e salto alto. Dois dos meus seguranças vêm logo atrás, sem fôlego.
Minha expressão endurece. Meus olhos passeiam por ela com reprovação.
— p***a… — Dante se levanta junto comigo. Todos sacamos nossas armas num reflexo automático.
Ela para no centro da sala, com o peito arfando. Os olhos abaixados. Sabe onde está. E sabe com quem está lidando.
— Senhor… — começa um dos seguranças, mas meu olhar o cala no ato.
— E se ela fosse um inimigo, seus merdas? — grito, mirando minha arma. — Não conseguiram conter uma garota?
Eles sabem que não estou apenas irritado — estou prestes a explodir. Eu não dou advertências. Eu dou sentenças. E a próxima pode ser uma cova rasa.
— Saíam daqui. Antes que eu reconsidere.
Eles saem. A garota, não.
Ela continua de cabeça baixa, mas não demonstra intenção de se retirar. É teimosa. Corajosa — ou burra.
— O que você quer? — pergunto com frieza.
— Falar com o senhor — murmura.
— Já está falando.
— Em particular.
Dante e Vittorio trocam olhares, alertas.
Dou dois passos na direção dela. Seu corpo enrijece.
— Presumo que não seja sobre sexo — comento. — Porque, embora você seja gostosa, não invadiria meu escritório só para implorar por uma f**a. Não precisa disso.
Tiro a arma do coldre e a aponto para sua têmpora.
— Agora fale. Quem te mandou? Ou me convença a não explodir sua cabeça aqui e agora.
Ela engole em seco.
— Meu pai fez uma dívida alta no seu cassino. Seus homens o ameaçaram. Disse que… que se ele não pagasse até amanhã, seria morto.
— Quem é seu pai?
— Faruk Khalid.
— Aquele árabe viciado? — Vittorio revira os olhos. — Sempre causa confusão.
— Quanto ele deve? — pergunto.
— Vinte mil euros.
Meus irmãos soltam um suspiro entediado. Não é um valor absurdo. Mas na máfia, dívida é dívida.
— E você veio aqui pra quê?
— Tenho uma proposta — diz. — Vim oferecer meu corpo… como pagamento da dívida.
Dou uma risada baixa. Irônica.
— Tem fila de bocetas grátis querendo que eu as f**a. Por que pagaria vinte mil por uma?
Ela ergue os olhos pela primeira vez.
— Porque sou virgem.
Silêncio. Dante ergue uma sobrancelha. Vittorio fita a garota com atenção renovada.
— Quantos anos você tem? — pergunta Dante.
— Vinte. Recém completos.
— Virgem. Novinha. Você sabe no que está se metendo, garota? — murmuro. — Posso te f***r até você não andar por uma semana.
— Estou disposta a pagar esse preço.
— E o cuzinho? Vai me dar também?
Ela hesita.
— Sim. Se for necessário.
Analiso-a de cima a baixo. Corpo pequeno, cintura fina, s***s redondos, pernas torneadas… e olhos violeta.
Raros. Inesquecíveis.
— Está mentindo? Porque se estiver, garota, eu vou saber. E juro por Deus… você vai implorar para morrer.
— Não estou mentindo — responde.
Me aproximo. Fico à altura do seu rosto.
— Então se eu te levar para o quarto agora, meu p*u vai sair sujo de sangue?
— Vai.
A tensão no ambiente muda. Meus irmãos se entreolham. Eu recuo um passo, pensativo.
— Ainda assim… são vinte mil euros.
— Por favor… — suplica.
— Você não sabe viver — digo, rindo baixo. — Vinte anos, virgem, e se oferecendo para um mafioso por causa de um i****a.
— Se quiser, eu fodo você, querida — provoca Vittorio. — Dou o dinheiro.
Ela não responde. Está aqui por mim.
— Está ciente de que eu não sou gentil? Eu não cuido. Eu domino. Eu machuco.
— Não vim atrás de um príncipe.
— Veio atrás de um demônio.
— Farei o que for preciso.
— Por que me procurou?
Ela respira fundo. Levanta o rosto — e quando nossos olhos se encontram, tudo faz sentido.
— Porque o senhor me disse para fazer isso, quando eu completasse vinte anos.
Meus músculos tensionam. Reconheço os olhos. A lembrança vem como uma flecha certeira.
— Ora, ora… — murmuro. — Você me encontrou, princesa.
Ela sorri, aliviada.
— Você se lembra.
— Eu nunca esqueceria esses olhos.
Toquei seu rosto na cafeteria, anos atrás. Uma adolescente atrevida, corajosa. Disse que, se voltasse até mim quando fosse mulher feita… eu a aceitaria.
E aqui está ela.
— Onde está seu pai?
— Em casa. Dormindo.
— E você vem no lugar dele. Oferecendo sua virgindade. — Balanço a cabeça. — Que tipo de pai permite isso?
— Não fale assim dele.
A garota ainda tenta defendê-lo. Ainda tem inocência.
— Dereck — Dante me chama. — Vamos esperar no bar.
Eles saem. Fico sozinho com ela.
Toco seu queixo.
— Qual seu nome?
— Elisa.
Repito, saboreando.
— Elisa… você me deseja?
— Em outra situação, talvez. Mas agora… estou aqui por necessidade.
— Mesmo assim… deseja?
Ela hesita. E então, com a voz baixa:
— Sim.
Me aproximo. Seguro sua cintura. Sinto seu corpo reagir ao meu.
— Tem certeza do que está pedindo?
— Sim.
— Então é a última vez que pergunto. Vou tirar sua virgindade, princesa?
Ela encosta o corpo no meu. A resposta está no gesto.
— A dívida será perdoada?
— Será.
— Então sou sua. Por uma noite.
— Uma noite comigo… e vai passar a vida inteira me lembrando.
Ela estremece quando beijo seu pescoço.
— Espero que não se arrependa, Elisa. Porque depois que eu te provar… nenhum homem vai ser suficiente.