3 - Preocupada

2354 Words
Ava — Brien, eu sei que a rede aí em cima não é tão r**m assim. Pode me ligar de volta ou, que droga, me manda uma mensagem. Eu só preciso que você diga que está tudo bem. Fiquei com o telefone pressionado contra o ouvido por alguns segundos, como se isso fosse fazer o correio de voz magicamente virar uma ligação de verdade. Mas não é assim que funciona, claro. Suspirei e continuei a mensagem: — Escuta, você venceu. Estou indo aí — rosnei. — Você finalmente conseguiu me arrastar de volta pra casa. Feliz agora? Te vejo em algumas horas, mano. Desliguei e respirei fundo. Não era típico dele ignorar minhas ligações assim. E se eu estivesse errada? E se ele não estivesse no Colorado? E se tivesse ido para algum outro lugar, sem me avisar? Mas para onde mais ele poderia ter ido? E por que, diabos, abandonaria os planos com a Kristyn? Eu sabia que ele gostava dela tanto quanto ela gostava dele. Nada fazia sentido. Assim como eu, Brien tinha duas casas — uma em Hollywood e outra no Colorado. Mas, ao contrário de mim, ele ainda visitava a do Colorado com frequência. Vivia tentando me convencer a voltar também, desde que éramos adolescentes. E eu sempre resisti. Sempre adiava, inventava desculpas ou apenas dizia não. Talvez essa fosse sua forma torta de finalmente me fazer ir. E honestamente? Eu não duvidaria. Brien era esperto — do tipo irritantemente estrategista. Muitas vezes, só percebia as armadilhas que ele me armava quando já era tarde demais. Mas o que eu nunca entendi de verdade era por que aquilo era tão importante pra ele. Não era como se eu tivesse qualquer laço emocional profundo com aquela casa. Ainda assim... talvez eu estivesse prestes a descobrir. Liguei para a Victoria assim que o avião começou a pousar pela pista. — Ei, Vic, obrigada mais uma vez por me deixar usar seu jato. Prometo devolvê-lo inteiro, do mesmo jeitinho que encontrei — exceto pelos danos causados pela mini festa a bordo — provoquei. — Acabamos de pousar. Ele deve estar voltando pra Los Angeles em breve. Desliguei a chamada. Ninguém atendeu. Eu também odiava correio de voz, mas precisava agradecer. Victoria tinha me feito um baita favor — mais do que apenas intimidar um sujeito nojento qualquer. Eu não queria perder tempo tentando marcar um voo de última hora, e dirigir até aqui teria sido um inferno. Eu não era do tipo que pedia favores, principalmente um tão grande quanto esse, e provavelmente não faria isso de novo. Não gostava da ideia de parecer que estava tirando vantagem da situação. Mas era reconfortante saber que ainda existiam pessoas dispostas a ajudar quando você mais precisava. Desci do avião e fui direto até o balcão exclusivo para voos particulares, onde peguei o carro alugado. Prático, eficiente — como tudo deveria ser. Com as chaves na mão e a bagagem no porta-malas, comecei a longa viagem até as montanhas. Por mais que eu desejasse um pouco de paz e sossego, não deixava de me perguntar por que o "retiro" precisava ser tão longe. A viagem seria longa e cansativa, mas as vistas do Colorado... ah, elas compensavam. Nada se comparava àquelas montanhas. Baixei os vidros e respirei fundo. O ar puro, fresco, com cheiro de pinho, preencheu meus pulmões e me trouxe uma sensação imediata de paz. A estrada serpenteava entre árvores altas e densas, todas vibrantes, verdes. Era tanta beleza ao redor que parecia quase injusto. A Califórnia havia passado por uma superfloração recentemente, mas aquilo ali? Aquilo era natureza viva e respirando ao meu redor. O céu era de um azul tão intenso que doía de olhar, totalmente diferente do céu encardido de Los Angeles. Dirigindo por aquelas estradas tortuosas, me dei conta de como tinha esquecido da beleza brutal e silenciosa do Colorado. A viagem passou mais rápido do que eu esperava — graças a Deus. Entrei na garagem da velha cabana dos meus pais. Quase nada tinha mudado. Estava bem conservada, como sempre. Meus pais pagavam um faz-tudo da região para dar manutenção regular, mesmo que raramente viessem até aqui. Por dentro, a casa era espaçosa, construída por meu pai com as próprias mãos. Ele ampliou o lugar aos poucos, conforme a família crescia. Era uma casa feita com amor. E agora, completamente vazia, parecia... morta. E sem sinal de Brien. — p***a. Peguei o celular e conferi a tela. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Ainda silêncio total. — Eu jurava que você estaria aqui, mano — murmurei. — Onde diabos você se meteu? Eu ainda nem tinha entrado na casa, só dei uma olhada por fora. Talvez ele estivesse dentro. Talvez tivesse saído por pouco e voltaria logo. Ele conhecia muita gente na cidadezinha ali perto. Vai ver tinha ido encontrar algum amigo. Suspirei e peguei minhas malas. Estava em casa agora — gostando disso ou não. E mesmo que Brien não aparecesse, eu faria o melhor com o tempo que tinha. Aproveitaria o silêncio, descansaria a mente e o corpo antes de voltar ao caos da minha vida em Los Angeles. Mas... teria sido muito melhor se ele estivesse ali me esperando. Pelo menos assim eu não estaria com essa maldita pergunta martelando na cabeça: onde diabos ele estava? Se ele estivesse aqui, tudo faria sentido. Eu teria uma resposta. Algo pra dizer à Kristyn. Falando nela... Liguei enquanto carregava as malas para dentro, equilibrando o telefone entre o ombro e a orelha. No segundo toque, ela atendeu. — Por favor, me diga que ele está aí — disse ela, sem nem esperar eu falar. — Não, desculpa. — Pelo tom dela, ficou óbvio que ele também não tinha voltado pra casa. — Tô assumindo que ele também não apareceu aí, né? — Não — respondeu ela. — Tirei o dia de folga, fiquei no apartamento esperando ele voltar a tarde toda. E nada. É como se ele tivesse desaparecido do mapa. Não gosto disso, Ava. — Eu também não — admiti, finalmente dizendo em voz alta o que já estava sentindo fazia tempo. — Mas Brien sabe se cuidar. Ele é um adulto. Quase um i****a completo, mas ainda assim, adulto. — Eu sei, mas... Ela não terminou a frase. Nem precisava. Nós duas sabíamos que isso não era típico dele. Ele podia ser imprevisível, do tipo que faz o que quer, quando quer, mas desaparecer totalmente? Sem nenhum aviso? Sem responder uma única mensagem? Isso era estranho até pros padrões dele. E ele sabia que eu me preocupava. Sabia o que o silêncio fazia comigo. Você aprende rápido o quanto é fácil perder alguém quando, num dia, sua mãe está viva e no outro, não está mais. — Nós vamos encontrá-lo, Kristyn — prometi, enquanto tateava minha bolsa atrás das chaves da casa. Abri a porta e entrei, olhando em volta, esperando por algum sinal do meu irmão. Nada. Lá dentro, tudo ainda parecia parado no tempo. Joguei minhas malas no sofá verde-sálvia e empurrei as dezenas de almofadas que minha madrasta acumulava desde sempre antes de me afundar ali. Com o celular ainda no ouvido, acrescentei: — Vou dar uma olhada melhor por aqui. Talvez a gente só tenha se desencontrado. Pode ser que ele esteja voltando pra Califórnia agora mesmo. A caminhonete dele não estava na garagem, então é possível. — Mas por que ele não está atendendo o telefone? Eu não sabia ao certo, mas precisava pensar em algo. — Sinal r**m? Talvez ele tenha perdido? Ou, sei lá, afundado o celular num vaso sanitário de posto? A gente sabe que ele não cuida bem dessas coisas. Kristyn soltou uma risadinha nervosa, aliviando o clima por um instante — até a tensão voltar. — Deus do céu, Ava... espero que você esteja certa. Me surpreendi com o quanto ela parecia genuinamente preocupada. Sabia que ela achava Brien bonito, mas não imaginava que... bem, que fosse tão profundo assim. — Kristyn... sobre você e o Brien... — Ah, Ava, agora não é hora pra isso — ela disse rapidamente. — Se concentra em encontrar seu irmão. — Como assim? Não tô preocupada, só tô curiosa — retruquei. — Tem alguma coisa rolando entre vocês? Algo que eu deva saber? Ela ficou em silêncio. E isso foi resposta o suficiente. — Eu sabia! — gritei, sorrindo. Pulei do sofá com tanta empolgação que quase derrubei o telefone. Do outro lado da linha, ouvi o gemido envergonhado dela, o que me fez rir ainda mais. — Você e meu irmão? Uau, garota. — Shhh — ela disse. — Não é bem assim. Quer dizer, a gente estava indo nessa direção, mas aí ele recuou. A gente brigou, e agora ele sumiu, e eu tô preocupada de ter estragado tudo. Mas, mais do que isso, tô preocupada que algo tenha acontecido com ele — ela suspirou. — Ele não tem sido ele mesmo nas últimas semanas. Eu não sei por quê, mas ele simplesmente mudou. Desde que aquela amiga atriz dele morreu, ele ficou diferente. Eu pensei que talvez tivesse rolado algo entre eles e... bom, é, eu estraguei tudo. — Espera aí, o quê? Você acha que meu irmão e a Denise Lambert estavam juntos? — Eu não consegui segurar a risada. — Nem a p*u. Ela não era o tipo de mulher que ele gosta. — Mas eles eram próximos — Cristina disse. — E depois que ela morreu, ele mudou mesmo. Se afastou. Era quase como se estivesse me evitando. — Kristyn, ele provavelmente tava de luto pela perda de alguém com quem trabalhava. Talvez alguém que ele considerasse amiga — falei. — Eu conheço o Brien. Não tem a menor chance de ele ter ficado com a Denise. Principalmente se ele tava ficando com você. Meu irmão é muitas coisas, mas não é um traidor. — Eu sei, mas às vezes é difícil, sabe? — disse ela. — Ele vive cercado de mulheres lindas o dia todo. Por que ele ia querer alguém como eu? — Hm, talvez porque você também é linda? — falei, sentando de novo no sofá. — E também é inteligente, divertida, incrível no geral. Minha melhor amiga precisava de mim. Claro, meu irmão também, mas eu sabia que ele estava em algum lugar, lidando com a perda de alguém próximo e brigado com a garota que gostava. Espera... a Kristyn era a garota dele? Ela não tinha dito que estavam juntos oficialmente, mas parecia bem sério. Pelo menos era isso que Kristyn estava sentindo, considerando o quanto ela tava abalada com tudo. Meu Deus, como tudo isso aconteceu bem debaixo do meu nariz? É, meu trabalho me consumia bastante, às vezes até demais, mas eu não achava que estava tão alheia assim. — Não sei, e também não importa o que eu tô sentindo agora. Só tô preocupada com ele — disse Kristyn. — Vamos focar em descobrir onde ele tá e se ele tá bem. — Ele provavelmente tá em algum canto emburrado, afogando as mágoas. Assim que se sentir melhor e colocar a cabeça no lugar, vai voltar rastejando e vocês vão fazer as pazes. — Eu realmente espero que sim — Kristyn murmurou. — Ava? — Oi? — Você não tá brava por eu estar saindo com seu irmão? — Por que eu ficaria brava? Estou feliz por vocês dois. E espero que a gente encontre o Brien logo pra vocês se acertarem — sorri. — Você sabe que eu tô doida pra ter sobrinhos, né? Kristyn riu baixinho. — Ei, calma, você tá indo rápido demais. Muito rápido, na verdade. — Eu sei, eu sei — falei, rindo. — Só tô tentando aliviar o clima. Mas falando sério: não, eu não tô chateada. Só um pouco triste por não ter percebido nada disso acontecendo bem na minha frente. — Você tava tão ocupada com as filmagens esses dias que a gente não quis te atrapalhar. Ele tava com medo que você ficasse chateada... por causa do passado e tal. Ah, o passado. Agora ele estava bem ao lado. A poucos passos de mim. Tão perto que eu tinha certeza que podia me ouvir ao telefone. Suspirei. Era inevitável que nos encontrássemos em algum momento. — A gente era só criança naquela época — falei. — E ele tava certo em me mandar manter distância do Jaxon e do Asher. Eles são encrenca. Da pior. — O Brien diz que eles não são tão ruins quanto você pinta... — O Brien também nunca foi uma mulher e nunca gostou da nossa meia-irmã. Então a opinião dele é meio suspeita. — Talvez — disse Kristyn. — De qualquer forma, fico aliviada que você não esteja brava com a gente. A gente ainda não era tão sério, mas... sinceramente — e, meu Deus, isso parece tão piegas e i****a —, eu acho que estava me apaixonando por ele. E eu disse isso pra ele antes de ele sumir. Meu coração afundou. Meu Deus, não tem nada pior do que confessar seus sentimentos e a pessoa simplesmente desaparecer depois, te fazendo questionar tudo. Assim que eu encontrasse o Brien, ele ia se ver comigo. Se ele não sentia o mesmo, podia pelo menos ter tido coragem de falar. Ela merecia bem mais do que um sumiço covarde, e eu ia fazer ele enxergar isso, nem que fosse à força. — A gente vai encontrar ele, Kristyn. Eu te prometo. E quando a gente encontrar, eu mesma vou dar uns bons tapas nele por ter feito a gente passar por isso. Entendeu? — Entendido — ela disse, parecendo um pouco nervosa. Meu irmão não era um babaca. Não era um cafajeste, nem do tipo que usa ou machuca mulheres. Nunca foi. A ideia de ele ter enrolado a Kristyn não combinava com o Brien que eu conhecia. Algo na forma como ele simplesmente sumiu me incomodava. Ele não sumiria só porque uma garota disse que o amava. Mesmo que ele não sentisse o mesmo. Esse não era o Brien. Esse não era o meu irmão. Agora eu estava preocupada.
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