O retorno do evento em Roma foi silencioso. Alessandro manteve os olhos fixos na estrada enquanto dirigia, embora tivessem seguranças seguindo-os em carros separados. A tensão em seu corpo era quase palpável, como se estivesse à beira de explodir.
Isabella, sentada ao seu lado, observava-o em silêncio. Sentia a raiva contida, o orgulho ferido, e o medo velado — não por si, mas por ela. Matteo Mancini havia cruzado uma linha perigosa ao abordá-la. E Alessandro, acostumado a dominar cada centímetro do seu mundo, agora via o inimigo se aproximar com ousadia.
— Você sabia que ele estaria lá? — Isabella perguntou, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina suave.
Alessandro apertou o volante com mais força.
— Não. Se soubesse, ele não teria saído de lá respirando.
— Ele me falou sobre a guerra. Disse que eu deveria estar do “lado certo” quando tudo desabasse.
— Ele está tentando semear dúvida. Você é minha, Isabella.
Ela olhou para ele.
— Não sou uma posse. Mas sim, sou sua. Por escolha. Isso é o que o enfurece.
Ele finalmente desviou os olhos da estrada para encará-la.
— Você é muito mais do que ele pode controlar. E é por isso que você é meu ponto fraco.
— Alessandro...
— Você me torna vulnerável. E isso pode nos destruir.
Isabella tocou sua mão.
— Ou nos fortalecer. Não tenha medo de sentir, Alessandro. O verdadeiro poder está em não precisar esconder o que sentimos.
Ele levou sua mão aos lábios, pressionando um beijo silencioso sobre seus dedos.
Naquele instante, a guerra parecia distante. Mas ambos sabiam que o tempo da paz estava com os dias contados.
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Nos dias seguintes, a segurança foi reforçada em torno da mansão. Isabella não podia sair sozinha, e Alessandro passava horas em reuniões, telefonemas e estratégias com seus homens de confiança.
Durante uma tarde chuvosa, Isabella desceu à biblioteca em busca de um momento de quietude. Ao abrir um dos livros antigos da coleção Vitale, encontrou uma foto esquecida entre as páginas: Alessandro jovem, ao lado de um homem mais velho que só podia ser seu pai.
Ambos sorriam, mas havia uma sombra nos olhos do garoto. Um peso que já nascia com ele.
— Encontrou os fantasmas da casa? — perguntou uma voz atrás dela.
Isabella virou-se e encontrou Lorenzo, o primo de Alessandro, que acabara de chegar de Florença.
— Você é o famoso Lorenzo. Alessandro falou pouco de você, o que significa que tem muito a esconder.
Lorenzo riu, com charme desleixado.
— Ou ele está me protegendo de você. — Ele se aproximou e olhou para a foto. — Foi o último dia em que Alessandro viu o pai vivo. No dia seguinte, ele foi executado por uma traição que nunca se provou.
— E Alessandro acreditou na inocência?
— Ele precisou acreditar. Por orgulho. Por dor. Por sobrevivência. Mas nunca esqueceu.
Isabella fechou o livro devagar.
— E você, Lorenzo? Está aqui para ajudá-lo ou para observá-lo cair?
Ele sorriu de lado.
— Que mulher fascinante você é. Não admira que Matteo esteja obcecado.
— Eu não sou um troféu de guerra.
— Claro que não. Você é a própria guerra. E isso assusta até os homens mais poderosos.
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Naquela noite, Alessandro convocou uma reunião de emergência. Isabella insistiu em participar, apesar dos protestos dele. No grande salão da mansão, estavam reunidos seus principais aliados — entre eles, Lorenzo e Enzo, o braço direito de Alessandro.
— Recebemos informações de que Matteo está se unindo a uma facção russa para fortalecer sua posição — disse Enzo. — Ele quer derrubar você, Alessandro. Não só pelos negócios, mas pelo nome.
— Ele quer mais. Quer humilhar você — completou Lorenzo. — E pelo que vimos em Roma, ele usará Isabella para isso.
Todos olharam para ela. Isabella sustentou o olhar, firme.
— Não serei moeda de troca, nem escudo humano. Se ele quer jogar sujo, que saiba: eu também sei jogar.
— É por isso que ela está aqui. — Alessandro se levantou, os olhos flamejando. — Isabella é parte da família Vitale agora. E ninguém, absolutamente ninguém, a toca sem enfrentar minha fúria.
A declaração caiu como um trovão sobre os presentes. Era mais do que uma proteção: era uma proclamação de amor. De pertencimento.
E isso, em um mundo como o deles, era o maior dos riscos.
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Na manhã seguinte, a mansão despertou com uma notícia estarrecedora: o armazém principal da família em Palermo havia sido destruído por uma explosão.
Dois homens estavam mortos.
Alessandro partiu imediatamente, deixando Isabella sob os cuidados de Lorenzo.
— Ele vai fazer alguma loucura? — ela perguntou, ao vê-lo sair às pressas.
— Alessandro só faz loucuras por você. — Lorenzo respondeu, sério. — O resto é cálculo.
Horas depois, Isabella recebeu um envelope entregue por um desconhecido. Dentro, havia uma única foto: ela, em Roma, no salão de espelhos... com Matteo à sua frente.
Atrás da imagem, uma frase escrita à mão:
“Você pode ser dele agora. Mas eu sempre jogo a longo prazo.”
Isabella sentiu o sangue gelar.
Era um aviso. Uma provocação. E também uma ameaça.
Ela caminhou até o cofre no escritório de Alessandro. Sabia a senha — um detalhe que ele compartilhara numa noite íntima, como quem revela um segredo sagrado. Dentro, havia uma pistola prateada, documentos e um pequeno relicário com o brasão da família Vitale.
Ela pegou a arma e a foto.
O jogo tinha mudado.
E se Matteo queria guerra… agora, ele teria uma rainha armada.
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