A Tempestade se aproxima

1168 Words
Os dias que se seguiram ao passeio na casa da mãe de Alessandro foram estranhamente calmos. Isabella ainda se perguntava se o que havia acontecido entre eles havia sido real ou apenas um delírio induzido por vinho, memórias e uma paisagem bonita demais. Mas havia acontecido. O beijo. A entrega. A confissão. E isso havia mudado algo fundamental entre eles. Na manhã de segunda-feira, Isabella descia a grande escadaria da mansão quando o viu na sala principal, em pé, com o celular no ouvido e o rosto tenso. A linha firme da mandíbula e o olhar frio denunciavam que algo estava errado. Ela não precisava ouvir para saber que era coisa séria. — Ele apareceu de novo? — perguntou ao se aproximar, mesmo sem saber exatamente quem era “ele”. Alessandro desligou o telefone e passou a mão pelos cabelos. — Matteo Mancini. Recebemos informações de que ele entrou em contato com um dos nossos aliados em Milão. Estão oferecendo dinheiro para virar de lado. — E ele aceitou? — Não. Ainda não. Mas só o fato de terem feito a proposta significa que estão se sentindo confiantes. Isabella cruzou os braços. — Isso tem a ver comigo? Alessandro levantou os olhos para ela. — Tem a ver comigo. E eu te envolvo, querendo ou não. Ela respirou fundo, lutando contra o instinto de jogar tudo para o alto. Mas já não era possível fingir que aquele mundo era uma ilusão passageira. Estava no centro do furacão. — O que você vai fazer? — O que for necessário. --- Naquela tarde, Isabella resolveu caminhar pelos jardins da mansão. Era seu momento de respiro. O céu estava nublado, prenúncio de tempestade, mas ela precisava de ar. A natureza parecia ser o único lugar onde podia pensar com clareza. Mas a clareza era um luxo que sua mente já não oferecia. Desde o beijo, tudo estava diferente. Os olhares, os silêncios, os toques que antes eram evitados agora pareciam inevitáveis. E havia uma nova camada entre ela e Alessandro: a promessa não dita de algo mais. Algo que ambos queriam — mas que o mundo ao redor teimava em impedir. — Você está tentando fugir de novo? A voz dele a alcançou como uma brisa quente. Ela virou-se devagar, e o encontrou atrás de si, as mãos nos bolsos, os olhos cravados nela. — Não estou fugindo. Estou... respirando. — Você nunca foi boa em fugir. É corajosa demais. — Coragem e teimosia são primas próximas. Alessandro deu um leve sorriso, mas havia preocupação em seu olhar. — Quero te levar para fora amanhã. Para Roma. Um evento beneficente que minha família apoia. É seguro. E... socialmente necessário. — E publicamente perigoso. — Ela rebateu. — Mostrar que estou ao seu lado é um risco. — E é por isso que quero que esteja. — Ele se aproximou. — Eu preciso deixar claro que ninguém toca no que é meu. Isabella ergueu o queixo. — Eu não sou sua posse, Alessandro. — E eu não sou um homem comum. Ela hesitou, mas no fundo, sabia o que aquilo significava. Aparecer ao lado dele era mais do que uma formalidade. Era uma declaração. De poder. De posição. De envolvimento. — Tudo bem. Eu vou. — Então prepare-se. Porque depois de amanhã, o mundo saberá quem é Isabella Vitale. --- Na manhã seguinte, a mansão estava um caos organizado. Cabelereiros, estilistas, consultores. Alessandro havia contratado os melhores para preparar Isabella para o evento, o que a irritava e fascinava ao mesmo tempo. — Isso tudo é mesmo necessário? — ela resmungou enquanto uma mulher ajustava o vestido em seu corpo. — Alessandro disse que queria “a futura rainha da família Vitale” impecável. — respondeu a estilista com um sorriso respeitoso. A frase ficou martelando na cabeça de Isabella. Rainha. Futuro. Família. Ela estava entrando em um território onde os sentimentos vinham carregados de consequências. Quando desceu, pronta, Alessandro estava esperando no saguão. Usava um terno escuro, impecável, e ao vê-la, seus olhos a devoraram com admiração e desejo. — Você está... magnífica. — ele disse, aproximando-se. — Cada centímetro de você grita poder. — Eu não grito, Alessandro. Eu mordo. — Melhor ainda. Ele ofereceu o braço, e ela o aceitou. Juntos, entraram no carro que os levaria até Roma. --- O evento acontecia em um dos palácios históricos no centro da cidade. Ao chegarem, fotógrafos cercaram a entrada. Flashes disparavam, nomes eram gritados. Isabella sentia o coração acelerado. Mas manteve o rosto sereno. Ao lado de Alessandro, tudo parecia mais intenso — mais perigoso, mais tentador. — Lembre-se. — ele sussurrou enquanto posavam. — A máscara faz parte do jogo. Mas os olhos… os olhos sempre dizem a verdade. Durante o evento, Isabella foi apresentada a dezenas de pessoas. Políticos, empresários, figuras influentes. Todos olhavam para ela com curiosidade e respeito. Não como uma simples prometida. Mas como alguém que já era parte da estrutura de poder. Alessandro se mantinha ao seu lado, atento, protetor. Mas também a deixava brilhar. E isso, para Isabella, era o gesto mais inesperado. — Você sabe que eles vão testar você agora. — ele disse enquanto brindavam. — Vão tentar te provocar, te medir, entender até onde você aguenta. — Então que tentem. Não sou de vidro. — Não. — ele disse, sorrindo. — Você é de aço. Mas a calmaria da noite logo foi quebrada. Durante um breve momento, enquanto Isabella estava sozinha perto do salão de espelhos, um homem se aproximou. Alto, elegante, com um sorriso cortante. — A joia da coroa Vitale. — ele disse com um tom suave. — Finalmente nos conhecemos. — E você é…? — Matteo Mancini. O nome soou como uma maldição. Ela manteve o rosto impassível, mas por dentro, o coração martelava. — Que ousadia a sua, aparecer aqui. Acha que Alessandro vai deixar isso passar? — Alessandro não pode controlar tudo. — ele respondeu, se aproximando mais. — Especialmente não você. — Está me ameaçando? — Estou te oferecendo um aviso. Quando o castelo cair, você vai querer estar do lado certo da guerra. Antes que ela pudesse responder, Alessandro apareceu. Seus olhos encontraram os de Matteo como lâminas cruzadas. — Toque nela de novo e eu arranco sua mão. — disse, num tom mortal. Matteo apenas sorriu, recuando com elegância. — Foi um prazer, Isabella. Até breve. Quando ele se afastou, Alessandro a segurou pelo braço, os olhos flamejando. — Está tudo bem? Ele te encostou? — Não. Mas ele quis. — Ele está cavando a própria cova. Ela o segurou com firmeza. — Eu estou do seu lado, Alessandro. Mas você precisa entender... se cairmos, cairemos juntos. Ele a puxou para um beijo urgente, cheio de raiva, medo e desejo. — Eu não vou deixar você cair. E naquele instante, sob o véu de luzes e música clássica, Isabella entendeu: a guerra havia começado. E amar Alessandro Vitale não seria um conto de fadas. Seria um campo de batalha. ---
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