PRÓLOGO

468 Words
Era véspera do Natal de 98. A neve já começava a juntar na janela e as ruas logo estariam cobertas. Iria ser uma linda manhã de Natal. Era um clássico da família Barette. Mas não naquele ano. Naquele ano todo mundo estava sem clima pra festa ou sorrisos. A família estava em pequenos pedaços. Estava na sacada do meu quarto. Nossa família estava em crise. Na verdade, não era uma crise. Havia uma coisa bem grave com a minha irmã. Ninguém falou a palavra certa do que era. Era vergonhoso isso para uma família como a nossa. Eu viraria chacota por não conseguir defender uma das nossas. Alguém que não teve culpa de nada. Todos fingiam que nada aconteceu na noite passada. Mas aconteceu. Não tinha como negar ou fingir que não aconteceu. Era só olhar pra expressão pailda e abatida de um jovem de 17 anos. Meu sangue ferve ao pensar que ninguém vai até a delegacia fazer uma denúncia e tirar esse peso dos ombros de uma garota. Mas eles não vão. Papai tem medo de ficar sem a imagem de homem autoritário e intocável e mamãe acha que aquilo iria acabar com a nossa família e com a minha irmã. Não posso acreditar que a filha deles foi abusada e não vai fazer nada, sabendo quem foi e com prova disso. Sinto um fraco. Me sinto o pior cara do mundo. Eu era o primogênito, eu desviava ao menos conseguir proteger minha irmã. Mas não. As vezes o dinheiro não ajudava. Estado Nem. Nem nada. Eu não queria isso e eu queria tirar esse vazio do meu peito. Um vazio que me infernizava. Garota nenhuma deve passar por isso. "Dominik" Sinto o abraço de lado. Ela está triste, está com os olhos vermelhos e o nariz também. Seu rosto está pálido e tem um roxo perto do maxilar. Ela está péssima. Parece uma boneca trincada. "O que foi?" "Me leva pra faculdade com você." Eu a puxo mais para perto. "Me tira daqui, me leva deles, por favor." Papai e mamãe iriam mudar com ela. Ela sofreu que nem uma c****a e está agora preocupada com papai e mamãe. Céus. "Eles nunca aceitariam, mas me dá um mês, eu prometo buscá-la." Um silêncio surge. Eu não sei o que falar pra consolar. Eu não fui preparado pra isso. Fui preparado pra fazer outra coisa. Minha irmã foi abusada por um covarde riquinho. Um homem baixo e que devia pagar. Eu não consigo fazer nada se ela não quiser denunciar. Ela não quer por eles. Pelo papai e pela mamãe. Eu queria fazer algo, mas eu não tinha poder pra isso. Não agora. "Eu prometo que ele vai pagar por isso." "Dominik." "Demore o tempo que for. Aquele cara vai pagar pelo que fez com você."
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