Peguei a bolsa, enfiei o pouco que ganhei no fundo, e comecei a subir de volta pra casa. Cada passo da subida parecia mais pesado. O corpo cansado, os olhos ardendo, a cabeça cheia.
A viela que leva pro meu barraco tava quase vazia. Só o som distante de moto passando lá embaixo. A brisa gelada da madrugada batendo nas costas.
Quase chegando na porta, eu sinto. De novo. O olhar. Paro de andar. Ele tá ali. Encostado no muro, na sombra, como se fizesse parte da noite. Dante. Sozinho dessa vez. Sem mulher, sem comparsa, sem riso. Só ele. E aquele olhar.
Meu estômago vira. Minhas pernas ameaçam falhar. Mas eu finjo controle. Finjo força.
— Tá me seguindo agora? – pergunto, cruzando os braços, tentando manter a voz firme.
Ele dá um passo pra frente. A fumaça do cigarro se mistura com o ar gelado.
— Quero uma hora. – fala, direto. Sem rodeios. Como se tivesse me pedindo um isqueiro.
Meu coração dispara. Merda.
— Tô fora do expediente. – respondo, erguendo o queixo, com o tom mais ácido que consigo. – E fora do expediente o preço é outro. Bem mais caro.
Ele dá uma risada baixa. Um som rouco, lento, que mais parece ameaça do que graça.
— Eu perguntei o preço? – rebate, dando mais um passo na minha direção.
Minha garganta seca. O corpo inteiro reage, mas não é de medo. É outra coisa. Algo quente, perigoso, que eu não devia estar sentindo.
— Então vai pagar caro mesmo. – falo, com um sorriso torto. – Sem choradeira depois.
Dante dá aquele sorriso de canto, o tipo de sorriso que não chega nos olhos, só nos lábios.
— Pode deixar... – diz, e o jeito que ele me olha, como se já tivesse me despido ali mesmo, na rua, no meio da madrugada, faz minha pele arrepiar inteira.
Sem esperar mais resposta, ele vira as costas. Desce a viela devagar, como se soubesse que eu vou atrás.
E eu? Fico ali, parada, com o coração batendo no pescoço, a respiração presa no peito e uma pergunta martelando na cabeça: Que merda eu tô fazendo?
Mas já é tarde demais pra voltar atrás.
Eu sigo atrás dele como quem vai pro matadouro. Os passos dele são largos, firmes, como se o morro inteiro fosse dele. E é. Todo mundo sabe.
Chegamos numa casa um pouco afastada. Não é das mais luxuosas, mas também não é qualquer barraco. Tem muro alto, portão de ferro e aquele ar de que quem mora ali é quem manda.
Ele empurra o portão com força. A porta da sala tá meio aberta. Ele entra primeiro. Eu fico parada um segundo antes de seguir.
Lá dentro o cheiro de cigarro e madeira velha me atinge de primeira. Tem uma garrafa de uísque em cima da mesa e uma pistola largada ao lado, como se fosse um controle remoto qualquer.
Joga o boné na cadeira, tira a corrente do pescoço, larga por ali sem olhar pra trás.
— Fecha a porta. – a voz dele vem baixa, autoritária.
Minhas mãos tremem um pouco, mas obedeço.
Ouço ele descer o zíper da calça antes mesmo de eu me virar. Quando olho, ele já tá ali. Ereção dura, pesada, latejando.
O ar some dos meus pulmões por um segundo.
— Tira a roupa. – ordena, sem paciência.
Minhas mãos vão direto nas alças do vestido. O tecido escorrega pelos meus ombros e cai no chão. Fico só de calcinha e sutiã por pouco tempo. Tiro o resto, devagar, mas com o coração acelerado.
Fico ali, nua, parada, tentando manter o orgulho no olhar, mas por dentro eu tô tremendo.
Ele caminha até mim com passos lentos, perigosos. Para na minha frente. Pega meu rosto com uma das mãos, firme. Os dedos dele pressionam meu queixo com força, me fazendo olhar direto pra ele.
— Se quiser desistir é agora. – ele diz, a voz rouca, baixa, como um aviso.
Eu rio de canto, sem graça.
— Pra desistir eu teria que ter começado com opção.
O sorriso dele é torto, sujo e cheio de certeza. Antes que eu diga mais alguma coisa, ele me vira de costas. Me empurra contra a parede com o corpo dele. O concreto gelado raspa na minha pele nua.
A mão dele segura minha nuca, me mantendo ali, presa. A outra desce pelas minhas costas, até agarrar minha b***a com força. Sinto ele encostar atrás de mim. Duro. Pesado. Quente.
Sem aviso, ele entra.
A estocada é seca, forte, profunda. Grito, sem conseguir segurar. A dor rasga, mas junto vem aquele calor, aquela coisa suja que eu não queria sentir, mas sinto.
Ele me segura pela cintura, o quadril dele batendo com violência contra o meu. As estocadas vêm rápidas, pesadas, cada vez mais fundo. Minhas mãos se apoiam na parede, as unhas arranhando o reboco como se fosse possível segurar alguma coisa.
— p***a, você é apertada demais... – rosna no meu ouvido, com a respiração descontrolada.
Meus olhos se enchem de lágrimas, mas não de dor. É raiva. Vergonha. t***o. Tudo misturado.
A cada movimento dele, meu corpo cede mais. Cada batida de quadril, cada puxão de cabelo, cada palavrão sussurrado com a boca quente no meu pescoço.
Ele goza com um gemido baixo, abafado, segurando minha cintura com tanta força que sei que vai ficar marca.
Fica ali, parado por alguns segundos, respirando pesado atrás de mim, ainda enterrado até o fim, até finalmente sair e me soltar.
Eu escorrego até o chão. Ficando ali, sentada, com as pernas tremendo, o coração disparado, o corpo inteiro ardendo.
Ele fechou a calça, pegou a carteira e tirou um maço de dinheiro. Jogando no chão, ao meu lado. As notas espalharam como confete de festa, só que com gosto de humilhação.
— Agora tu já pode ir. – diz, e o tom dele é como se eu fosse só mais uma.
Me visto devagar, com as mãos ainda trêmulas. Pego cada nota, uma por uma, guardando tudo na bolsa com a dignidade que me resta.
Quando saio da casa, o ar fresco da madrugada bate no meu rosto como um tapa. O corpo inteiro dói.
Só quando chego na porta de casa, encosto na parede, com a chave tremendo na minha mão, é que abro a bolsa. Olho o dinheiro.
Conto por alto. Quase o triplo do que eu imaginava. Meu coração dispara.
— Caramba... – sussurro pra mim mesma, sozinha na calçada, com as luzes da rua apagadas. – Teria que fazer uns cinco programas por dia, durante uma semana, pra juntar isso.
Guardo de novo. Respiro fundo. E só então, abro a porta. Como se conseguisse, por um instante, deixar essa noite do lado de fora.
Mas sei que amanhã, ele vai continuar aqui. Na minha cabeça. Na minha pele. No meu maldito corpo.