O ferimento no tornozelo curou-se rapidamente. E uma vez recuperado, ele mergulhou de volta nas atividades ilícitas, movido pela influência de seu mentor e pela sensação de inevitabilidade que pairava sobre sua vida.
Nos últimos meses, o mentor era sua maior influência. Não tinha só uma relação de pura i********e com o crime, o crime e ele, era um só. E Beto pouco a pouco se convertia em sua sombra.
— Sua mente é seu maior aliado ou seu maior inimigo. Tem que ter o domínio... ser frio... controlar o fluxo de adrenalina... Tem que pensar mais rápido. Se vacilar já era. Moro? — repetia ele com um ar sutil de superioridade que fazia Beto se sentir pequeno, impotente, e da mesmo modo, extremamente capaz.
A madrugada era sua aliada.
Movimentos precisos. Silenciosos. Ações meticulosamente planejadas, calculistas e precisas. O medo de ser pego era constante. Sabia que por menor que fosse o erro, poderia ser fatal, e por isso o vigilante mais exigente era ele mesmo. Traçar os movimentos, estudar os lugares, observar, era uma rotina.
— Sei que eu falei coisas que não devia, a situação é que tá ficando difícil sem ajuda lá no armazém. Preciso de você lá na segunda — murmurou o tio certa vez em uma de suas escapadas tarde da noite.
Beto se quer se deu ao trabalho de ouvir a proposta.
Aprendera com ele próprio que: “A vida era justa só para os que merecem”.
Para ele, o "Hábito Ilícito" não era sobre agir como quisesse. Era sobre desaparecer sem deixar rastros. Não se tratava de dar as costas para o que é certo; era uma arte. E a perfeição dos disfarces era crucial...
Beto estava parado na esquina, esperando um chamado. O aparelho de telefone vibrou no bolso. A mensagem direta de seu mentor dizia tudo o que ele precisava saber: **”Daqui cinco minutos na quadra.”** Sem pensar muito, Beto seguiu para o local combinado.
Foi nessa hora que “BETO!” o grito fez com que ele parasse por um momento. Havia sem querer cruzado o caminho de Iago. O encontro que a semanas vinha evitando.
Beto andava rápido, desviava de pedestres apressados. Ele virou uma esquina, entrando em uma rua cheia de pequenas lojas e barracas, enquanto Iago continuava no seu encalço.
A perseguição seguiu acelerada, levando a resistência ao limite. Até que ao parar para recuperar o fôlego, os dois ficaram cara a cara.
— Se não é o sumido! Indo a algum lugar?
— Resolver uns negócios.
— Negócios? Ó! Tá ficando importante, hein? Quem te viu, quem te vê! E que negocio são esses?
— Assunto meu — a voz de Beto saiu carregada de exasperação.
Iago parou na frente dele.
— Qualé Beto? Fica aí cheio de orgulho. O que aconteceu contigo meu chapa? Se tiver enfrentando algum perrengue, tá ligado nóis aqui é que nem unha e carne. Qualquer parada tamo aí — ele se adiantou.
Antes que a resposta pudesse ser arrancada, a presença discreta de um veículo com vidros escuros, chamou a atenção.
— Preciso ir — Beto passou por ele dando a comunicação inacabada por encerrada.
Iago continuou atrás dele, Beto manteve a distância, apressando o passo em direção ao carro. Iago persistiu. — Beto, espera. Tá pensando que vai se safar assim. Eu falei sério. Tá me ouvindo? Beto!
Beto alcançou o veículo, a porta do passageiro se abriu, ele entrou e então se fechou com um baque. Os pneus cantam no asfalto e, da mesma maneira de antes, o carro arrancou em alta velocidade.