Descartou a garrafa de refrigerante vazia na lixeira ao lado. Subiu as escadas rolante da plataforma de embarque do metrô com destino a Linha 5-lilas. Lutando para atravessar a massa de corpos compactos no vagão apinhado de gente, se espremendo até alcançar um dos lugares vagos. Cômoda em um dos assentos, o olhar vagava pelas telas programadas que piscavam: promoções de farmácia, descontos em eletrodomésticos, algo sobre cursos de idiomas. Nada prendia sua atenção. Ao seu redor, vozes se sobrepunham – alguns sem paciência, outras em diálogos fragmentados que eram engolidos pelo som do metroviários dos vagões cortando os trilhos.
O metrô parou na estação. Nicole desceu com passos decididos, atravessando as catracas e seguindo pela saída lateral. Pegou o caminho habitual — o atalho pela pista de skate.
Como sempre, o lugar fervia de energia. Adolescentes praticavam manobras, uns com fones de ouvido, outros rindo alto. Nos cantos, pequenos grupos conversavam, largados nos bancos ou sentados sobre o concreto.
— Nick? — chamou uma voz masculina, vinda da direção oposta.
Ela virou o rosto com um leve sobressalto.
Era um antigo conhecido. Dos que nunca tinham trocado cumprimentos, nem mesmo apressados. E estranhamente, lá estava ele, olhando surpreso.
— Visual irado! — exclamou tirando o capacete e apoiando-o debaixo do braço.
Usava uma camiseta preta, que marcava os ombros largos, jeans rasgados nos joelhos e tênis gastos. Os cabelos grafite desarrumado escorrido na testa.
— Max?
— Tá diferente. Óbvio, no bom sentido. Quase não te reconheci com... enfim, todo esse aparato — ele fez um gesto com a mão, indicando o conjunto completo. — Quem te viu quem te vê.
Ele riu tentando não parecer desconfortável.
— Valeu. Eu acho — respondeu ela sem saber exatamente como reagir.
— Mas... falando sério — disse ele nivelando a voz — tá tudo bem mesmo. Porque antes esse lance não era bem a sua cara. Não tô julgando. Só achei curioso.
— Não estava satisfeita com meu reflexo. Então resolvi me reinventar. Foi legal falar com você, Max.
— Digo o mesmo. E... vê se aparece por aí qualquer hora.
Nicole assentiu com um leve aceno e retomou o passo, continuando a passar pelo local da pista normalmente.
Ele era aquele típico sujeito — preocupado, atencioso — que sempre dedica a abraçar a causa alheia como se fossem dele. Mas ela não estava pronta para se abrir. Não com alguém como Max.
ao entrar em casa, deixou a bolsa em um canto do quarto e lançou-se sobre a cama, visivelmente exausta. Os acontecimentos do dia ainda repercutiam em sua mente.
Ficou alguns minutos deitada refletindo. Abriu o navegador no celular. Na barra de pesquisa, digitou: “Morales empresário”.
Os resultados surgiram quase imediatamente.
A primeira página estava repleta de links para matérias jornalísticas, entrevistas e reportagens. Selecionou um dos títulos e iniciou a leitura. O artigo apresentava Stefano Morales como um executivo de destaque no setor imobiliário, com um patrimônio expressivo e atuação em empreendimentos de alto padrão distribuídos pelas principais capitais do país. Era reconhecido pelo perfil reservado, evitando exposição pública e raramente participando de eventos sociais.
A matéria também abordava sua esposa, Bianca Morales, uma estilista em ascensão que recentemente conquistara reconhecimento com o lançamento de sua própria grife. O casal era frequentemente citado como referência de sofisticação e êxito empresarial. Nicole continuou a leitura, absorvendo as informação com atenção analítica. No entanto, era difícil racionalizar o impacto daquele encontro.