Capítulo doze - 12:1

922 Words
No emprego arranjado, Warley até tentou enganar: chegava no horário, cumpria as tarefas básicas, evitando reclamações do supervisor circunspecto. Vez ou outra aparecendo para medir o desempenho do sobrinho desencaminhado, mantendo a promessa feita a cunhada, Maristela, nem que para isso tivesse que domar o gênio indômito do rapaz. Warley fingia paciência, engajamento com a rotina pesada, à maneira que lhe era permitido, embora por trás da fachada, estivesse se cansando daquela marcação cerrada. Bastava criar as condições certas, algo que parecesse um acidente ou até mesmo uma série de pequenos deslizes inevitáveis que ninguém, nem mesmo o tio, desconfiaria. No turno da tarde, sem levantar suspeitas, ele plantou ferramentas fora do lugar perto do espaço onde Cleiton trabalhava. Cleiton era daqueles que suporta qualquer coisa calado. Seja uma piada fora de hora ou uma crítica indireta. Não do tipo que tolera desaforo. E esse argumento fazia dele a arma perfeita. — Se liga aí novato. Esqueceu o martelo. Vê se, na próxima, toma mais cuidado — disse jogando a ferramenta dentro da caixa - com a habilidade quase teatral. — Da minha responsabilidade cuido eu. — É mesmo? porque não é o que parece. Cleiton largou o que estava fazendo, e avançou na direção dele. — Conheço esse seu joguinho, Warley. E não é de hoje. Tá querendo o quê? Vai responde se for homem. Acusou com as veias saltadas empurrando-o para trás. A contenda foi parar no escritório. Warley mantinha a máscara de inocência. Por outro lado, o gênio de Cleiton o incriminava. O supervisor analisou atentamente as duas versões uma por vez. Cleiton foi liberado e, quando a porta se fechou, o supervisor olhou para Warley. — Então — disse fechando o livro de relatório com força. — Tem alguma coisa a dizer em sua defesa? — Foi ele que começou. Eu tava quieto no meu canto. Se defendeu Warley assumindo a postura de injustiçado. — Conta outra, Warley — rebateu o encarregado. — Não é a primeira vez que te pego armando rinha em pleno o expediente, e isso não é novidade. Sua fama nunca foi das melhores. Mas uma coisa é arrumar confusão na rua, outra é aqui dentro — Pera aí tio — Warley levantou a voz, exasperado. — Os outros que provoca e eu que levo a pior? — Chega — o supervisor bateu na mesa. — Não quero saber de ouvir suas desculpas. Tem criando um ambiente insuportável para a equipe. Se continuar assim, não vai ter outro jeito pô. Afirmou se ajeitando na cadeira. — Pode ir. E se eu te pegar brigando de novo, já sabe. Warley manteve o cenho baixo. Saiu da sala sem contradizer as palavras do tio. Os murmúrios sobre a contenda já se espalhava pelo vestiário. E, com os nervos a flor da pele, Maurício que nada tinha com a desavença, e que porém havia acumulado motivos de sobra, resolveu tomar as dores. — Quelé mermão? Tá pagando um p*u? Tá encarando por quê? Maurício caminhou até ele. A expressão fechado pregada no rosto. — Cê se acha mesmo, né? Vive por aí batendo no peito, metendo banca — acusou enquanto ele terminava de se vestir, indiferente. — Já entendi. Veio aqui porque resolveu tomar as dores daquele Zé Ruela? E outra... — ele se virou jogando a camisa em cima do ombro. — Se der r**m pro lado de alguém, cada um segura sua bronca. Moro truta? Maurício cerrou os punhos, sentindo o sangue ferver. — Escuta aqui — disse prensando-o contra os armários de metal. O impacto fez todos no vestiário se espantar. — Se acha acima dos outros... que pode fazer aquilo que bem entende. Mas vou te dizer uma coisa... Warley bufou, a expressão de ódio e pavor, tentando se desvencilhar, mas Maurício o manteve preso. — Se der mais uma dessa, mais uma... pode esperar que não vai ficar assim — ameaçou Maurício. O bate-boca entre os dois ganhou destaque e alguns dos que viam se correram para apartar. — Tão vendo aí? Depois eu e que provoco — apontou Warley. — Vai se arrepender otária, ouviu? Não perde por esperar. — Deixa isso pra lá, Warley. Esquentar a cabeça por pouca coisa pra que? — disse um dos colegas buscando apaziguar a discussão. — Papo é esse, Carabalí? Tá me estranhando? E por acaso sou de baixar a cabeça pra um o****o que nem esse? Na minha cara ninguém mete o dedo e fica por isso mesmo não jão — disse com a voz carrega de raiva e os olhos faiscando. ***** A demissão tinha escapado naquela vez. Contudo, apenas naquela. As sucessivas mancadas, se empilhavam com as desconfianças, e a diretoria indiferente com conduta apresentada, pressionou o supervisor até que a decisão inevitável fosse tomada. Ao se confirmar, não demonstrou surpresa, nem arrependimento. Saiu da construtora de cabeça erguida. Para ele, aquele emprego nunca fora nada mais que uma obrigação, uma tentativa inútil de colocá-lo nos trilhos. O dinheiro sujo que vinha acumulando com pequenas transações e serviços ilícitos o mantinha fora de risco. Quando o julgamento do pai, Vitor, chegou, Warley se recusou a ter qualquer envolvimento. Não compareceu às audiências para ouvir o juiz determinar a pena. Estava ocupado com os próprios planos. Enquanto muitos achavam que ele estava “curtindo a liberdade”, Warley se ocupava planejando. Trabalhar de forma honesta nunca havia sido algo que combinasse com a personalidade dele, e o episódio na construtora só reforçava essa convicção de que aquele não era seu caminho.
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