Capítulo seis - 6:1

1389 Words
A sala de reuniões estava cheia, e a concentração reinava enquanto os diretores e supervisores esperavam o início da pauta. No centro da longa mesa mogno, O Sr. Arquimedes, Diretor-presidente do grupo Tekton Engenharia, ajeitou a gravata e com um gesto meticuloso, posicionou uma pasta à sua frente, antes de anunciar com a voz firme: — Senhores, temos uma oportunidade singular de expansão. Com o crescimento exponencial na demanda de serviço, precisamos repensar nossa força de trabalho e criar um ambiente que atenda às necessidades para o futuro. Houve um momento de expectação. A gerente de recursos humanos inclinou-se ligeiramente para frente. — Estamos falando de rearticulação ou novas contratações? — sua voz soou curiosa, e afiada. — De ambas as coisas, Srta. Natacha. O Sr. Arquimedes ajustou os óculos. — Precisamos reforçar as equipes operacionais, sendo que isso só será eficaz se acompanharmos com capacitação. A ideia é investir em treinamentos para integrar os novos e elevar o desempenho dos que já estão conosco. O gerente de operações, de expressão calculista e gestos ponderados, tomou a palavra. — Concordo com o reforço, entretanto isso exige planejamento. Não adianta apenas contratar sem antes organizar os processos. Precisamos identificar onde estão os gargalos. — Temos dados claros sobre os setores com maior necessidade: o acabamento e a infraestrutura. Se priorizarmos as contratações ali, e iniciarmos um programa de mentoria, acredito que podemos obter resultados rápidos. Ponderou a gerente de recursos humanos com intervenção do supervisor financeiro. — Tudo isso é viável, contudo não podemos esquecer do orçamento. Investir em novos contratos e treinamento é ótimo, porém precisamos ter certeza de que os projetos entreguem retorno suficiente para sustentar esse crescimento. O Sr. Arquimedes, com um semblante imperturbável, cruzou as mãos sobre a mesa, sua postura irradiando domínio da situação. — É por isso que precisamos de soluções que equilibrem expansão e eficiência. Proponho um plano de curto prazo para novas contratações em áreas críticas e, em paralelo, um programa de qualificação interna. Os primeiros resultados serão avaliados em três meses. Houve murmúrios isolados de aprovação. A gerente de recursos humanos deixou escapar um sorriso discreto: — Isso não apenas trará um senso de valorização, como também fortalecerá a equipe atual. Eles verão que há oportunidades reais de crescimento aqui dentro. O gerente de operações, mesmo cético, cedeu. — Certo. Todavia, vou precisar de relatórios semanais sobre o impacto dessas medidas. A reunião terminou, e deixava uma expectativa auspiciosa. Havia incerteza sim, porém eram eclipsadas por possibilidades palpáveis: a sensação de que o futuro da Tekton estava sendo moldado com precisão cirúrgica. ***** O futuro era promissor, tanto para quem já estava integrado a construtora quanto para os que estavam por vir. Desde a convocação da reunião pela diretoria, os rumores sobre mudanças na empresa circulavam entre os corredores. Se alternando entre otimismo e incerteza, mas a maioria enxergava a novidade como um sinal positivo. Uns arriscando um aumento nas bonificações. Outros, novas contratações para atender o aumento na demanda de trabalho. Enquanto ouvia os murmúrios no pequeno refeitório, Mauricio sentia o mesmo nervosismo que experientes. Jair, o encarregado geral da obra, encontrava-se no meio do tumulto de informações. Sabia que, no fundo, mudanças trariam dúvidas para muitos ali dentro. Ainda assim, preferia não se precipitar nos julgamentos. Enquanto os trabalhadores se organizavam, ele chamou Maurício de lado. O rapaz, ainda com a expressão meio sonolenta, largou as ferramentas e se aproximou do líder e um outro encostado na parede, com as mãos nos bolsos e a postura relaxada. — Esse aqui é o Warley. Acabou de ser contratado. Vai trabalhar com a gente. — Fala aí, companheiro — disse Warley. — Bem-vindo à equipe! — Maurício apertou a mão dele. — Certo — respondeu Warley notando a firmeza no gesto. — E aí, como é o pessoal aqui? Jair riu. — Vai ver. Todo mundo trabalha duro, mas se dá bem. Maurício, dá uma força pra ele se situar, beleza? — Deixa comigo — respondeu, embora já suspeitasse que Warley fosse daqueles que não precisasse de muita ajuda para se enturmar. Ele estava certo. No decorrer do dia, Warley parecia estar em todos os lugares ao mesmo tempo: debatendo assuntos nas rodas de conversas, tirando dúvidas e até arriscando umas brincadeiras durante o intervalo. Ele era o tipo de pessoa que parecia se ajustar sem esforço, uma qualidade que, para maioria, soava admirável e também incomoda. — Está aqui há quanto tempo? — perguntou no intervalo depois do almoço. — Um mês, um mês e meio, mais ou menos — respondeu Mauricio. — Então já tá de boa no esquema. Eu logo, logo vou me jogar. Não é a minha cara ficar esperando as coisas acontecer — disse Warley, concentrando-se em um ponto longínquo da metrópole. Maurício concordou, sem querer prolongar a conversa. Entendia a falta de entusiasmo, mas divergia da opinião. Havia uma diferença visível entre os dois, e isso, dia após dia, se insinuava mais. Warley, com sua personalidade extrovertida, ganhava a simpatia de todos, enquanto Mauricio, reservado em seu canto, mantinha o foco no trabalho sem se preocupar em impressionar. — Viu o Warley? Já tá todo saidinho — comentou Casé no descarregamento do caminhão. — Também, sobrinho do encarregado, né? Tem suas vantagens. Maurício ignorou desprezando o comentário, enquanto por dentro sentia a sombra de uma competição involuntária. Não era inveja – pelo menos achava que não. Era a sensação de que, num ambiente daquele, o espaço para se destacar parecia se estreitar com alguém como Warley por perto. No auge da expansão da construtora, o ritmo de contratações se elevava dia após dia. A cada semana, novos operários se juntavam à equipe. Cleiton, recém-chegado à equipe, ainda pouco conhecido, destacava-se. Era ágil e eficiente, do tipo que resolve qualquer problema sem precisar de esforço, conquistando a admiração geral. Também um certo incomodo. Principalmente em Warley. Durante um intervalo, ele observava Cleiton à distância, enquanto se dirigia à sombra para se reidratar. Largando a ferramenta e sacando um cigarro de trás da orelha, Warley não perdeu a chance. — Fala aí novato? Quê? Achou mesmo que eu não ia te reconhecer. Cleiton fez que não ouviu o cumprimento. — Tem gente que m*l chegou e já está se achando — provocou Warley, soltando a fumaça com um sorriso enviesado. — Só faço o meu. Se te incomoda isso é um problema seu. — Quer saber qual que é o meu problema? Aqueles que se faz de bonzinho... que gosta fingir ser o que não é. Cleiton deu um passo a frente. — E por acaso seria eu esse seu “problema”? — Se a carapuça serviu — provocou Warley — Vai fazer o que? A troca de farpas rapidamente mudou para um embate físico. Os capacetes a centímetros de se chocar um contra o outro. A tensão prestes a explodir, quando em um dado momento, o mestre de obras apareceu, cortando o conflito. — Isso não acaba aqui, novato. Fica esperto. Warley descartou o cigarro no chão a passos largos. Enquanto cumpria aquilo que lhe fora mandado, Maurício que acompanhava a desavença a distância, aproveitou para trocar umas palavras com Cleiton. — Qual é a dele? Veio aqui te tirar do sério? O rapaz enxugou o suor da testa com a camisa. — Acontece as vezes. — E vai deixar por isso mesmo? Cleiton encheu a boca com água e depois cuspiu. — Temos nossas pendências. Esse cara é um parasita. Vive se achando o dono de tudo. — E são o quê, vizinhos? — Praticamente. — Mas ele mudou, certo? Pra ter se sujeitado a essa vaga... — Cada cabeça uma sentença. Com o Warley, é sempre bom dormir de olho bem aberto — disse cético, ajustando o capacete, e se afastando para retornar as funções. Podia ser apenas receio. Ou vai ver era algo maior, uma magoa antiga aquilo que mantinha a chama da discórdia acesa entre eles. Elias alertou com seriedade. — A rixa desses dois é antiga — dizia ele. — O Cleiton é centrado, já o Warley... esse tem mais esperteza que juízo. Uma coisa pode escrever: quem meche em vespeiro, acaba picado. Mauricio pegou a pá terminando de preencher o carrinho de mão com areia. A mente reflexiva sobre o que ouvira em tom quase profético de Elias.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD