Lívia
Os dias seguintes foram uma dança perigosa.
Dante parecia mais calmo, mas não menos atento.
Eu sentia o olhar dele em mim o tempo todo, quando eu comia, quando caminhava pelo jardim, quando me deitava na cama.
E quando não me olhava, eu sabia que estava me vigiando de outra forma.
Ele me mantinha em uma jaula invisível.
E agora, eu precisava construir a minha fuga de dentro dela.
Adriano apareceu no terceiro dia pela manhã.
— Bom dia, Lívia. — disse, com um leve sorriso, como se nada tivesse acontecido.
Eu o encarei com frieza. — Você devia ir embora.
— Você quer que eu vá? — ele rebateu, inclinado contra a porta.
Dante estava no andar de cima naquele momento. Eu podia ouvir passos pesados no corredor.
— O que você quer? — perguntei.
— Ajudar. — ele disse simplesmente. — Não vou perguntar de novo.
Olhei para ele demoradamente. Ajudar. Uma palavra que eu já não sabia se existia para mim.
— Às sete, no jardim. — murmurei, antes de me virar e subir.
Ele sorriu, satisfeito. — Estarei lá.
Subi as escadas devagar, ciente de que Dante estava me observando do corredor.
— Você gosta dele? — ele perguntou, a voz baixa, fria.
— Por que a pergunta?
— Porque você não para de olhá-lo quando acha que eu não estou vendo. — ele se aproximou, a mão prendendo meu queixo com força. — E eu vejo tudo.
— Então vê também que não sou sua. — sussurrei.
A sombra do sorriso dele apareceu.
— Ah, mas você é. Até quando me desafia, ainda está dentro do meu jogo.
Ele me empurrou contra a parede do corredor, sua boca já procurando a minha.
— Você vai me enlouquecer. — disse entre beijos. — Vai me obrigar a fazer coisas que nem eu sabia que era capaz.
— Então faça. — desafiei, prendendo os dedos no colarinho dele.
Ele não esperou mais.
Me pegou no colo e me carregou para o quarto, me jogando na cama.
— Tira a roupa. — ordenou, já arrancando a própria camisa.
Fiz devagar de propósito, mantendo os olhos nos dele, enquanto o robe deslizava por meus ombros, revelando cada marca que ele tinha deixado em mim.
— Assim. — murmurou, ajoelhando-se sobre mim. — Sempre assim.
Ele segurou meus punhos sobre a cabeça com uma mão só e com a outra me acariciou, os dedos deslizando entre minhas pernas, explorando sem pressa, como se quisesse me lembrar de quem era.
— Olha pra mim. — ordenou.
— Já estou olhando.
Ele sorriu de lado, satisfeito, e se inclinou para me beijar com força.
Quando finalmente se livrou das roupas, me virou de bruços, inclinando-se por cima de mim.
— Quero ouvir você. — disse, antes de entrar em mim.
— Então me faça gritar. — respondi.
Ele atendeu ao pedido.
Seus movimentos eram rápidos, intensos, a respiração dele quente em minha nuca, os dentes arranhando minha pele enquanto me prendia sob ele.
— Você… — ele arfou — …nunca vai ser de outro homem.
— Isso não depende só de você. — rebati, sorrindo pelo espelho.
Ele riu baixo, um som perigoso, antes de me virar para encarar meu rosto e me tomar mais uma vez, mais fundo, mais feroz.
Quando terminou, ficou ainda sobre mim, os dedos traçando linhas em minha clavícula.
— Eu devia trancá-la para sempre. — murmurou.
— Talvez já tenha feito isso. — respondi.
Ele não disse nada, apenas deitou ao meu lado e fechou os olhos.
Eu esperei até sua respiração ficar mais lenta.
Então, me vesti em silêncio e saí do quarto, descalça.
No jardim, Adriano já me esperava, encostado na pérgola, as mãos nos bolsos.
— Pensei que não viria. — disse ele.
— Eu também. — respondi.
Ele me olhou de cima a baixo, avaliando. — O que ele fez com você?
— Nada que eu não tenha permitido. — murmurei.
— Você não tem que viver assim.
— Não me diga como devo viver.
Ele ergueu as mãos. — Tudo bem. Só estou dizendo que existe um jeito de sair.
— Qual?
Adriano se aproximou, os olhos nos meus. — Eu consigo tirá-la daqui. Carro, documentos, dinheiro. Só preciso que você diga sim.
— E depois?
— Depois você desaparece. — ele inclinou a cabeça. — E ele nunca mais toca em você.
Fechei os olhos por um instante, sentindo o peso da escolha.
— Ele vai atrás.
— Não se eu me colocar no caminho. — disse Adriano, firme.
Abri os olhos e vi a determinação no rosto dele.
— Por que está fazendo isso? — perguntei.
Ele hesitou antes de responder. — Porque ninguém merece duas jaulas.
— Duas?
— A dele. — disse, indicando a mansão com um gesto do queixo — E a que você mesma criou aqui dentro. — e apontou para meu peito.
Fiquei em silêncio.
— Hoje, meia-noite. — ele disse por fim. — Atrás da estufa. Não traga nada. Só venha.
— E se ele descobrir?
Adriano sorriu, triste. — Então que seja.
Voltando ao quarto, encontrei Dante na poltrona, me esperando.
— Bela caminhada. — disse ele, a voz calma demais.
— Eu precisava de ar. — respondi, sentando na cama.
Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.
— E conseguiu o que queria?
— Ainda não. — murmurei.
Ele sorriu devagar, os olhos escuros fixos em mim.
— Então continue tentando, cara mia. Eu adoro assistir você falhar.
Deitei na cama, de costas para ele, o coração martelando no peito.
Já não sabia mais qual jaula me prendia mais: a dele… ou a minha.