— Duas jaulas

947 Words
Lívia Os dias seguintes foram uma dança perigosa. Dante parecia mais calmo, mas não menos atento. Eu sentia o olhar dele em mim o tempo todo, quando eu comia, quando caminhava pelo jardim, quando me deitava na cama. E quando não me olhava, eu sabia que estava me vigiando de outra forma. Ele me mantinha em uma jaula invisível. E agora, eu precisava construir a minha fuga de dentro dela. Adriano apareceu no terceiro dia pela manhã. — Bom dia, Lívia. — disse, com um leve sorriso, como se nada tivesse acontecido. Eu o encarei com frieza. — Você devia ir embora. — Você quer que eu vá? — ele rebateu, inclinado contra a porta. Dante estava no andar de cima naquele momento. Eu podia ouvir passos pesados no corredor. — O que você quer? — perguntei. — Ajudar. — ele disse simplesmente. — Não vou perguntar de novo. Olhei para ele demoradamente. Ajudar. Uma palavra que eu já não sabia se existia para mim. — Às sete, no jardim. — murmurei, antes de me virar e subir. Ele sorriu, satisfeito. — Estarei lá. Subi as escadas devagar, ciente de que Dante estava me observando do corredor. — Você gosta dele? — ele perguntou, a voz baixa, fria. — Por que a pergunta? — Porque você não para de olhá-lo quando acha que eu não estou vendo. — ele se aproximou, a mão prendendo meu queixo com força. — E eu vejo tudo. — Então vê também que não sou sua. — sussurrei. A sombra do sorriso dele apareceu. — Ah, mas você é. Até quando me desafia, ainda está dentro do meu jogo. Ele me empurrou contra a parede do corredor, sua boca já procurando a minha. — Você vai me enlouquecer. — disse entre beijos. — Vai me obrigar a fazer coisas que nem eu sabia que era capaz. — Então faça. — desafiei, prendendo os dedos no colarinho dele. Ele não esperou mais. Me pegou no colo e me carregou para o quarto, me jogando na cama. — Tira a roupa. — ordenou, já arrancando a própria camisa. Fiz devagar de propósito, mantendo os olhos nos dele, enquanto o robe deslizava por meus ombros, revelando cada marca que ele tinha deixado em mim. — Assim. — murmurou, ajoelhando-se sobre mim. — Sempre assim. Ele segurou meus punhos sobre a cabeça com uma mão só e com a outra me acariciou, os dedos deslizando entre minhas pernas, explorando sem pressa, como se quisesse me lembrar de quem era. — Olha pra mim. — ordenou. — Já estou olhando. Ele sorriu de lado, satisfeito, e se inclinou para me beijar com força. Quando finalmente se livrou das roupas, me virou de bruços, inclinando-se por cima de mim. — Quero ouvir você. — disse, antes de entrar em mim. — Então me faça gritar. — respondi. Ele atendeu ao pedido. Seus movimentos eram rápidos, intensos, a respiração dele quente em minha nuca, os dentes arranhando minha pele enquanto me prendia sob ele. — Você… — ele arfou — …nunca vai ser de outro homem. — Isso não depende só de você. — rebati, sorrindo pelo espelho. Ele riu baixo, um som perigoso, antes de me virar para encarar meu rosto e me tomar mais uma vez, mais fundo, mais feroz. Quando terminou, ficou ainda sobre mim, os dedos traçando linhas em minha clavícula. — Eu devia trancá-la para sempre. — murmurou. — Talvez já tenha feito isso. — respondi. Ele não disse nada, apenas deitou ao meu lado e fechou os olhos. Eu esperei até sua respiração ficar mais lenta. Então, me vesti em silêncio e saí do quarto, descalça. No jardim, Adriano já me esperava, encostado na pérgola, as mãos nos bolsos. — Pensei que não viria. — disse ele. — Eu também. — respondi. Ele me olhou de cima a baixo, avaliando. — O que ele fez com você? — Nada que eu não tenha permitido. — murmurei. — Você não tem que viver assim. — Não me diga como devo viver. Ele ergueu as mãos. — Tudo bem. Só estou dizendo que existe um jeito de sair. — Qual? Adriano se aproximou, os olhos nos meus. — Eu consigo tirá-la daqui. Carro, documentos, dinheiro. Só preciso que você diga sim. — E depois? — Depois você desaparece. — ele inclinou a cabeça. — E ele nunca mais toca em você. Fechei os olhos por um instante, sentindo o peso da escolha. — Ele vai atrás. — Não se eu me colocar no caminho. — disse Adriano, firme. Abri os olhos e vi a determinação no rosto dele. — Por que está fazendo isso? — perguntei. Ele hesitou antes de responder. — Porque ninguém merece duas jaulas. — Duas? — A dele. — disse, indicando a mansão com um gesto do queixo — E a que você mesma criou aqui dentro. — e apontou para meu peito. Fiquei em silêncio. — Hoje, meia-noite. — ele disse por fim. — Atrás da estufa. Não traga nada. Só venha. — E se ele descobrir? Adriano sorriu, triste. — Então que seja. Voltando ao quarto, encontrei Dante na poltrona, me esperando. — Bela caminhada. — disse ele, a voz calma demais. — Eu precisava de ar. — respondi, sentando na cama. Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos. — E conseguiu o que queria? — Ainda não. — murmurei. Ele sorriu devagar, os olhos escuros fixos em mim. — Então continue tentando, cara mia. Eu adoro assistir você falhar. Deitei na cama, de costas para ele, o coração martelando no peito. Já não sabia mais qual jaula me prendia mais: a dele… ou a minha.
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