Lívia
O relógio marcava 23h45.
Eu estava sentada na beira da cama, já vestida, o coração batendo como um tambor.
O quarto estava escuro, só um feixe de luar entrava pela janela.
Dante dormia. Ou fingia.
Observei-o por longos minutos. O peito subia e descia lentamente, mas eu sabia que, por dentro, ele era um vulcão pronto para explodir.
Cada vez que me mexia, sua respiração mudava.
Eu precisava sair. Agora.
Levantei devagar, descalça, o robe amarrado firme à cintura. Não olhei para trás.
Abri a porta, um rangido suave no silêncio da casa.
O corredor estava vazio, mas eu sentia os olhos dele queimando minha nuca mesmo assim.
Desci as escadas sem fazer barulho, cada degrau uma luta contra o medo.
Quando alcancei o jardim, o ar frio da madrugada me cortou a pele, mas também me deu forças.
Caminhei em direção à estufa, onde Adriano prometera esperar.
O vidro da estrutura refletia a lua, e as plantas lá dentro lançavam sombras estranhas.
— Você veio. — disse ele, surgindo da escuridão.
— Vim. — respondi, sem fôlego.
Ele segurou minha mão, quente e firme.
— O carro está ali atrás. Temos menos de cinco minutos.
Dei um passo e parei, o estômago revirando.
— Você acha… que ele já sabe? — perguntei.
Adriano me olhou por um momento.
— Ele sempre sabe. — respondeu, a voz baixa.
— Então por que ainda estou viva?
— Talvez porque ele não decidiu o que fazer com você. — disse ele, amargo. — Ou talvez porque você seja a única fraqueza dele.
Fechei os olhos, sentindo um arrepio.
— Vamos. — sussurrei.
Ele me puxou com delicadeza, mas firmeza suficiente para me manter andando.
Chegamos ao portão dos fundos, onde um carro preto aguardava com o motor ligado.
Adriano abriu a porta para mim.
— Entre. — ordenou.
E então, senti.
O cheiro dele.
— Não. — murmurei.
— O quê? — Adriano perguntou.
— Ele está aqui. — disse, a voz quase inaudível.
— Impossível. Ele não poderia—
— Lívia. — a voz dele, fria e calma, ecoou no jardim.
Girei devagar e lá estava ele.
Dante.
De pé na escuridão, só os olhos brilhando.
Sem casaco. Só a camisa meio aberta, as mangas enroladas.
— Você realmente acreditou… que podia me enganar? — perguntou, cada palavra lenta, envenenada.
Adriano se colocou na frente, como um escudo.
— Ela está indo embora, Dante.
— Tire-se da frente. — ele disse, a voz baixa.
— Não.
Um segundo depois, Dante avançou.
A mão dele se fechou na gola do terno de Adriano e o empurrou contra a parede de vidro da estufa, fazendo as folhas lá dentro estremecerem.
— Eu avisei. — rosnou.
— E eu não ligo. — Adriano rebateu, a voz falhando um pouco.
Eu dei um passo à frente.
— Chega! — gritei.
Eles pararam.
Dante se virou para mim, ainda segurando Adriano pela gola.
— Chega? — ele repetiu, rindo baixo. — Você ainda acha que manda aqui?
— Eu não sou sua. — disse, com toda a força que consegui reunir.
Ele soltou Adriano, que caiu no chão, respirando pesado.
Então caminhou até mim.
Cada passo dele ecoava no meu peito.
— Não é minha? — perguntou, parando diante de mim.
— Não. — repeti.
Ele ergueu a mão e deslizou os dedos pela lateral do meu rosto, devagar.
— Então por que está tremendo?
Eu não respondi.
Ele se inclinou até a boca dele roçar meu ouvido.
— Porque você sabe… que ainda é. — sussurrou.
Antes que eu pudesse recuar, ele me pegou pela cintura e me jogou sobre o capô do carro.
— Dante! — Adriano tentou se levantar.
— Fique onde está. — disse ele, sem nem olhar para trás.
Suas mãos seguraram meus pulsos acima da cabeça, prendendo-me contra o metal frio.
— Você quer fugir de mim? — perguntou, os olhos cravados nos meus.
— Quero.
— Mente m*l. — rosnou.
Ele se inclinou, a respiração quente contra minha pele.
— Você pertence a mim. Aqui. — deslizou a mão pelo meu peito — Aqui. — a mão desceu pela barriga — E aqui. — seus dedos apertaram entre minhas pernas por cima do tecido do robe.
— Para. — murmurei, mas minha voz saiu fraca.
— Diga que quer que eu pare. — ele provocou.
— Eu…
— Diga. — sua mão deslizou sob o tecido, encontrando minha pele nua.
— Eu… não posso. — sussurrei.
Ele sorriu, triunfante.
— Isso pensei.
Ele abriu o robe num puxão, expondo meu corpo à noite fria e ao olhar dele.
— Olhe pra mim. — ordenou.
Obedeci.
Mesmo ali, com Adriano atrás, eu obedeci.
Ele se inclinou, a boca quente sobre a minha pele, mordendo meu ombro, descendo pelo meu peito, enquanto sua mão explorava sem pudor, como se me lembrasse de cada motivo pelo qual eu não conseguia deixá-lo.
— Você não vai a lugar nenhum. — murmurou, antes de se enterrar em mim ali mesmo, no capô, como se quisesse me fundir ao carro.
O metal frio nas minhas costas, o calor dele em mim, seus olhos queimando os meus.
— Você entende agora? — perguntou entre investidas.
Eu fechei os olhos, mordendo os lábios para não gemer.
— Abra os olhos. — ordenou.
Obedeci.
— Entende?
— Sim. — sussurrei.
— Boa garota.
Quando terminou, ainda me segurou ali, ofegante, a testa colada na minha.
Adriano estava encostado na estufa, olhando para nós, derrotado.
Dante se endireitou, ajeitou a camisa e me ajudou a descer do carro.
— Leve-o embora. — disse para um dos seguranças que surgiram.
Então se virou para mim, os dedos firmes no meu queixo.
— E você, cara mia… nunca mais tente isso.
— Ou o quê? — desafiei, mesmo com as pernas tremendo.
Ele sorriu.
— Ou eu não paro da próxima vez.
Me puxou para ele, me beijou com violência, e me levou de volta para dentro.
Enquanto atravessava o jardim com ele, eu só conseguia pensar numa coisa:
Eu ainda queria fugir.
Mas mais ainda… eu queria ver até onde ele iria para me prender.