— Meia-noite

1026 Words
Lívia O relógio marcava 23h45. Eu estava sentada na beira da cama, já vestida, o coração batendo como um tambor. O quarto estava escuro, só um feixe de luar entrava pela janela. Dante dormia. Ou fingia. Observei-o por longos minutos. O peito subia e descia lentamente, mas eu sabia que, por dentro, ele era um vulcão pronto para explodir. Cada vez que me mexia, sua respiração mudava. Eu precisava sair. Agora. Levantei devagar, descalça, o robe amarrado firme à cintura. Não olhei para trás. Abri a porta, um rangido suave no silêncio da casa. O corredor estava vazio, mas eu sentia os olhos dele queimando minha nuca mesmo assim. Desci as escadas sem fazer barulho, cada degrau uma luta contra o medo. Quando alcancei o jardim, o ar frio da madrugada me cortou a pele, mas também me deu forças. Caminhei em direção à estufa, onde Adriano prometera esperar. O vidro da estrutura refletia a lua, e as plantas lá dentro lançavam sombras estranhas. — Você veio. — disse ele, surgindo da escuridão. — Vim. — respondi, sem fôlego. Ele segurou minha mão, quente e firme. — O carro está ali atrás. Temos menos de cinco minutos. Dei um passo e parei, o estômago revirando. — Você acha… que ele já sabe? — perguntei. Adriano me olhou por um momento. — Ele sempre sabe. — respondeu, a voz baixa. — Então por que ainda estou viva? — Talvez porque ele não decidiu o que fazer com você. — disse ele, amargo. — Ou talvez porque você seja a única fraqueza dele. Fechei os olhos, sentindo um arrepio. — Vamos. — sussurrei. Ele me puxou com delicadeza, mas firmeza suficiente para me manter andando. Chegamos ao portão dos fundos, onde um carro preto aguardava com o motor ligado. Adriano abriu a porta para mim. — Entre. — ordenou. E então, senti. O cheiro dele. — Não. — murmurei. — O quê? — Adriano perguntou. — Ele está aqui. — disse, a voz quase inaudível. — Impossível. Ele não poderia— — Lívia. — a voz dele, fria e calma, ecoou no jardim. Girei devagar e lá estava ele. Dante. De pé na escuridão, só os olhos brilhando. Sem casaco. Só a camisa meio aberta, as mangas enroladas. — Você realmente acreditou… que podia me enganar? — perguntou, cada palavra lenta, envenenada. Adriano se colocou na frente, como um escudo. — Ela está indo embora, Dante. — Tire-se da frente. — ele disse, a voz baixa. — Não. Um segundo depois, Dante avançou. A mão dele se fechou na gola do terno de Adriano e o empurrou contra a parede de vidro da estufa, fazendo as folhas lá dentro estremecerem. — Eu avisei. — rosnou. — E eu não ligo. — Adriano rebateu, a voz falhando um pouco. Eu dei um passo à frente. — Chega! — gritei. Eles pararam. Dante se virou para mim, ainda segurando Adriano pela gola. — Chega? — ele repetiu, rindo baixo. — Você ainda acha que manda aqui? — Eu não sou sua. — disse, com toda a força que consegui reunir. Ele soltou Adriano, que caiu no chão, respirando pesado. Então caminhou até mim. Cada passo dele ecoava no meu peito. — Não é minha? — perguntou, parando diante de mim. — Não. — repeti. Ele ergueu a mão e deslizou os dedos pela lateral do meu rosto, devagar. — Então por que está tremendo? Eu não respondi. Ele se inclinou até a boca dele roçar meu ouvido. — Porque você sabe… que ainda é. — sussurrou. Antes que eu pudesse recuar, ele me pegou pela cintura e me jogou sobre o capô do carro. — Dante! — Adriano tentou se levantar. — Fique onde está. — disse ele, sem nem olhar para trás. Suas mãos seguraram meus pulsos acima da cabeça, prendendo-me contra o metal frio. — Você quer fugir de mim? — perguntou, os olhos cravados nos meus. — Quero. — Mente m*l. — rosnou. Ele se inclinou, a respiração quente contra minha pele. — Você pertence a mim. Aqui. — deslizou a mão pelo meu peito — Aqui. — a mão desceu pela barriga — E aqui. — seus dedos apertaram entre minhas pernas por cima do tecido do robe. — Para. — murmurei, mas minha voz saiu fraca. — Diga que quer que eu pare. — ele provocou. — Eu… — Diga. — sua mão deslizou sob o tecido, encontrando minha pele nua. — Eu… não posso. — sussurrei. Ele sorriu, triunfante. — Isso pensei. Ele abriu o robe num puxão, expondo meu corpo à noite fria e ao olhar dele. — Olhe pra mim. — ordenou. Obedeci. Mesmo ali, com Adriano atrás, eu obedeci. Ele se inclinou, a boca quente sobre a minha pele, mordendo meu ombro, descendo pelo meu peito, enquanto sua mão explorava sem pudor, como se me lembrasse de cada motivo pelo qual eu não conseguia deixá-lo. — Você não vai a lugar nenhum. — murmurou, antes de se enterrar em mim ali mesmo, no capô, como se quisesse me fundir ao carro. O metal frio nas minhas costas, o calor dele em mim, seus olhos queimando os meus. — Você entende agora? — perguntou entre investidas. Eu fechei os olhos, mordendo os lábios para não gemer. — Abra os olhos. — ordenou. Obedeci. — Entende? — Sim. — sussurrei. — Boa garota. Quando terminou, ainda me segurou ali, ofegante, a testa colada na minha. Adriano estava encostado na estufa, olhando para nós, derrotado. Dante se endireitou, ajeitou a camisa e me ajudou a descer do carro. — Leve-o embora. — disse para um dos seguranças que surgiram. Então se virou para mim, os dedos firmes no meu queixo. — E você, cara mia… nunca mais tente isso. — Ou o quê? — desafiei, mesmo com as pernas tremendo. Ele sorriu. — Ou eu não paro da próxima vez. Me puxou para ele, me beijou com violência, e me levou de volta para dentro. Enquanto atravessava o jardim com ele, eu só conseguia pensar numa coisa: Eu ainda queria fugir. Mas mais ainda… eu queria ver até onde ele iria para me prender.
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