— O veneno

953 Words
Lívia Eu não dormi naquela noite. O corpo ainda queimava do que ele tinha feito comigo no jardim. O capô frio do carro ainda parecia colado às minhas costas, o gosto dele ainda na minha boca. Mas minha mente… minha mente estava em chamas por outro motivo. — Ele não vai parar. — murmurei para mim mesma, encarando o teto escuro. — Então eu também não vou. O plano não nasceu pronto, mas começou a se formar enquanto eu ouvia sua respiração pesada ao meu lado. A cada suspiro dele, eu jurava: Vou fazê-lo se arrepender de ter me conhecido. Na manhã seguinte, Dante agia como se nada tivesse acontecido. — Bom dia, cara mia. — disse, enquanto se servia de café. — Dormiu bem? — Ótimo. — menti, sentando à mesa. Ele ergueu os olhos para mim, avaliando. — Você parece diferente. — comentou. — Talvez eu esteja. — rebati, encarando-o. Ele sorriu, mas não parecia tranquilo. Eu podia ver a desconfiança crescendo nos olhos dele. — Cuidado, Lívia. — murmurou. — Você não é boa em blefar. — Talvez eu só esteja começando a jogar. — respondi. Ele riu, um som rouco, e se inclinou sobre a mesa para pegar minha mão. — Então me surpreenda. Foi exatamente isso que eu pretendia fazer. Passei o dia quieta, andando pelo jardim, observando cada detalhe da casa, cada rotina dos seguranças, cada porta que rangia menos, cada janela que não fechava direito. Quando voltei para o quarto, encontrei-o sentado à poltrona, já com uma taça de uísque na mão. — Então é isso? — perguntou, a voz baixa. — Vai fingir que não aconteceu nada? — Você quer que eu faça o quê? — devolvi. Ele se ergueu devagar, caminhou até mim, a mão quente pousando em minha nuca. — Quero que você seja sincera. — disse, os olhos nos meus. — Quero que me diga que não consegue me odiar. — Não consigo. — admiti, sentindo a boca secar. Ele sorriu com tristeza e me beijou, suave no começo, depois mais urgente, mais faminto. — Eu também não consigo te odiar. — murmurou contra meus lábios. — Mas isso não significa que eu vá deixá-la escapar. Suas mãos deslizaram para minhas costas, desamarrando o robe, puxando-o até ele escorregar e cair no chão. — Ainda minha? — perguntou, encostando a testa na minha. — Por enquanto. — sussurrei. Ele riu baixo. — Sempre. Me ergueu no colo e me deitou na cama com cuidado, os dedos traçando cada marca que ele já tinha deixado em mim. — Quero você como da primeira vez. — disse, antes de se abaixar e me beijar do pescoço ao umbigo, deixando um rastro quente. — Então me toma como da última. — desafiei. Ele me olhou com fogo nos olhos e se livrou das próprias roupas antes de se inclinar sobre mim e me possuir ali mesmo, sem pressa no começo, só para me ouvir arfar e implorar. Cada movimento era mais profundo, mais marcado, a respiração dele quente no meu ouvido, os dedos se entrelaçando nos meus. — Você não vai me vencer. — disse entre dentes, enquanto acelerava. — Vamos ver. — rebati, mesmo sem fôlego. Quando finalmente desabamos juntos, ele ainda ficou sobre mim, os lábios roçando minha bochecha. — Boa garota. — sussurrou. Mas eu não me sentia boa. Sentia-me perigosa. Quando ele adormeceu, eu me levantei em silêncio, vesti um vestido leve e saí do quarto, descalça, com o coração batendo forte. Sabia exatamente onde queria ir. A cozinha. Uma das gavetas, a terceira à esquerda do fogão, guardava um pequeno frasco que eu já tinha visto antes, quando observava a rotina dos empregados. Um veneno para ratos. Segurei o frasco por um momento, sentindo o peso frio dele na palma da mão. Não queria matá-lo. Ainda não. Só queria que ele sentisse medo. Medo de mim. Voltei para o quarto e escondi o frasco na gaveta da minha mesinha de cabeceira. Quando amanheceu, ele me acordou com um beijo na nuca. — Bom dia, cara mia. — murmurou. — Hoje você não vai fugir? — Não hoje. — respondi, rolando para encará-lo. — Sábia decisão. — disse, com um sorriso satisfeito. Durante o café, ele não desgrudava os olhos de mim. — Por que está tão quieta? — perguntou. — Só pensando. — respondi. — Em quê? — Em como surpreender você. Ele se inclinou para frente, apoiando o queixo na mão. — Só espero que não seja outra tentativa patética de fuga. — Talvez seja pior. — murmurei. Seus olhos brilharam, divertidos e perigosos. — Então eu m*l posso esperar. Mais tarde, quando ele se trancou no escritório para atender ligações, aproveitei para deslizar de volta ao quarto. Abri a gaveta da cabeceira e olhei para o frasco. Meus dedos roçaram a tampa. Eu podia misturar algumas gotas ao uísque dele. Só o suficiente para fazê-lo adoecer. Só o suficiente para ele entender que eu era mais do que um brinquedo. Fechei os olhos, respirei fundo e devolvi o frasco à gaveta. Ainda não. À noite, ele me esperava no quarto, encostado à parede, mangas enroladas, olhar escuro. — Quer me dizer o que está tramando? — perguntou, a voz baixa. — Nada que você não mereça. — respondi. Ele sorriu. — Então venha me mostrar. Dei um passo à frente, depois outro. — Ainda tem certeza de que eu sou sua? — perguntei. — Sempre. — ele disse, já me puxando para ele. Quando me prensou contra a parede e me beijou como se fosse a última vez, só uma coisa passou pela minha mente: Ainda não, Dante. Mas logo você vai aprender a ter medo de mim.
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