Lívia
Eu não dormi naquela noite.
O corpo ainda queimava do que ele tinha feito comigo no jardim.
O capô frio do carro ainda parecia colado às minhas costas, o gosto dele ainda na minha boca.
Mas minha mente… minha mente estava em chamas por outro motivo.
— Ele não vai parar. — murmurei para mim mesma, encarando o teto escuro. — Então eu também não vou.
O plano não nasceu pronto, mas começou a se formar enquanto eu ouvia sua respiração pesada ao meu lado.
A cada suspiro dele, eu jurava: Vou fazê-lo se arrepender de ter me conhecido.
Na manhã seguinte, Dante agia como se nada tivesse acontecido.
— Bom dia, cara mia. — disse, enquanto se servia de café. — Dormiu bem?
— Ótimo. — menti, sentando à mesa.
Ele ergueu os olhos para mim, avaliando.
— Você parece diferente. — comentou.
— Talvez eu esteja. — rebati, encarando-o.
Ele sorriu, mas não parecia tranquilo.
Eu podia ver a desconfiança crescendo nos olhos dele.
— Cuidado, Lívia. — murmurou. — Você não é boa em blefar.
— Talvez eu só esteja começando a jogar. — respondi.
Ele riu, um som rouco, e se inclinou sobre a mesa para pegar minha mão.
— Então me surpreenda.
Foi exatamente isso que eu pretendia fazer.
Passei o dia quieta, andando pelo jardim, observando cada detalhe da casa, cada rotina dos seguranças, cada porta que rangia menos, cada janela que não fechava direito.
Quando voltei para o quarto, encontrei-o sentado à poltrona, já com uma taça de uísque na mão.
— Então é isso? — perguntou, a voz baixa. — Vai fingir que não aconteceu nada?
— Você quer que eu faça o quê? — devolvi.
Ele se ergueu devagar, caminhou até mim, a mão quente pousando em minha nuca.
— Quero que você seja sincera. — disse, os olhos nos meus. — Quero que me diga que não consegue me odiar.
— Não consigo. — admiti, sentindo a boca secar.
Ele sorriu com tristeza e me beijou, suave no começo, depois mais urgente, mais faminto.
— Eu também não consigo te odiar. — murmurou contra meus lábios. — Mas isso não significa que eu vá deixá-la escapar.
Suas mãos deslizaram para minhas costas, desamarrando o robe, puxando-o até ele escorregar e cair no chão.
— Ainda minha? — perguntou, encostando a testa na minha.
— Por enquanto. — sussurrei.
Ele riu baixo.
— Sempre.
Me ergueu no colo e me deitou na cama com cuidado, os dedos traçando cada marca que ele já tinha deixado em mim.
— Quero você como da primeira vez. — disse, antes de se abaixar e me beijar do pescoço ao umbigo, deixando um rastro quente.
— Então me toma como da última. — desafiei.
Ele me olhou com fogo nos olhos e se livrou das próprias roupas antes de se inclinar sobre mim e me possuir ali mesmo, sem pressa no começo, só para me ouvir arfar e implorar.
Cada movimento era mais profundo, mais marcado, a respiração dele quente no meu ouvido, os dedos se entrelaçando nos meus.
— Você não vai me vencer. — disse entre dentes, enquanto acelerava.
— Vamos ver. — rebati, mesmo sem fôlego.
Quando finalmente desabamos juntos, ele ainda ficou sobre mim, os lábios roçando minha bochecha.
— Boa garota. — sussurrou.
Mas eu não me sentia boa.
Sentia-me perigosa.
Quando ele adormeceu, eu me levantei em silêncio, vesti um vestido leve e saí do quarto, descalça, com o coração batendo forte.
Sabia exatamente onde queria ir.
A cozinha.
Uma das gavetas, a terceira à esquerda do fogão, guardava um pequeno frasco que eu já tinha visto antes, quando observava a rotina dos empregados.
Um veneno para ratos.
Segurei o frasco por um momento, sentindo o peso frio dele na palma da mão.
Não queria matá-lo.
Ainda não.
Só queria que ele sentisse medo.
Medo de mim.
Voltei para o quarto e escondi o frasco na gaveta da minha mesinha de cabeceira.
Quando amanheceu, ele me acordou com um beijo na nuca.
— Bom dia, cara mia. — murmurou. — Hoje você não vai fugir?
— Não hoje. — respondi, rolando para encará-lo.
— Sábia decisão. — disse, com um sorriso satisfeito.
Durante o café, ele não desgrudava os olhos de mim.
— Por que está tão quieta? — perguntou.
— Só pensando. — respondi.
— Em quê?
— Em como surpreender você.
Ele se inclinou para frente, apoiando o queixo na mão.
— Só espero que não seja outra tentativa patética de fuga.
— Talvez seja pior. — murmurei.
Seus olhos brilharam, divertidos e perigosos.
— Então eu m*l posso esperar.
Mais tarde, quando ele se trancou no escritório para atender ligações, aproveitei para deslizar de volta ao quarto.
Abri a gaveta da cabeceira e olhei para o frasco.
Meus dedos roçaram a tampa.
Eu podia misturar algumas gotas ao uísque dele.
Só o suficiente para fazê-lo adoecer.
Só o suficiente para ele entender que eu era mais do que um brinquedo.
Fechei os olhos, respirei fundo e devolvi o frasco à gaveta.
Ainda não.
À noite, ele me esperava no quarto, encostado à parede, mangas enroladas, olhar escuro.
— Quer me dizer o que está tramando? — perguntou, a voz baixa.
— Nada que você não mereça. — respondi.
Ele sorriu.
— Então venha me mostrar.
Dei um passo à frente, depois outro.
— Ainda tem certeza de que eu sou sua? — perguntei.
— Sempre. — ele disse, já me puxando para ele.
Quando me prensou contra a parede e me beijou como se fosse a última vez, só uma coisa passou pela minha mente:
Ainda não, Dante. Mas logo você vai aprender a ter medo de mim.