O jogo começa

850 Words
Lívia A caminho de volta, no banco de trás do carro dele, eu encaro o reflexo na janela. Meus cabelos desgrenhados, os olhos vermelhos, a boca inchada. Eu pareço uma prisioneira. Mas dentro de mim, alguma coisa mudou. Eu ainda sinto o gosto da liberdade. E agora eu sei: ele não vai conseguir me domar tão fácil. — Quer falar? — ele pergunta, sem tirar os olhos da estrada. — Não. — Vai ficar me olhando assim a noite toda? — Vou. Ele sorri de lado, sem humor. — Boa sorte, cara mia. O resto do caminho seguimos em silêncio. Só quando entramos novamente pelos portões da casa é que ele finalmente se vira para mim. — Desça. Obedeço, mas não abaixo a cabeça. Quando ele tenta segurar minha mão, eu a retiro, fria. — Você acha que pode me desafiar assim e sair ilesa? — ele murmura, com um brilho sombrio nos olhos. — Você me ensinou a não ter medo de você, Dante. E agora vai ter que lidar com isso. Por um instante, ele não diz nada. Apenas me observa, os lábios se curvando num sorriso lento. — Ah, finalmente. — diz, quase num sussurro. — Finalmente a chama que eu queria ver. Ele me empurra para dentro e fecha a porta atrás de nós. — Então vamos jogar. — continua. — Quer testar quem quebra quem primeiro? — Quero. — Muito bem. Ele me conduz até o quarto, mas desta vez sou eu que caminho na frente, sem que ele precise me puxar. — Tire essa camisa. — ordena. — Não. — Não? — Você não disse que queria jogar? Pois bem. Não hoje. Ele ergue as sobrancelhas, mas seus olhos brilham, excitados. — Você está brincando com fogo. — Você me acendeu. Agora vai ter que aguentar. O silêncio pesa entre nós. Ele se aproxima devagar, os dedos tocando minha garganta de leve. — Se você acha que pode virar o jogo só porque me olhou nos olhos hoje, está enganada. — murmura. — Então me mostre. Ele sorri, mas desta vez há raiva nesse sorriso. — De joelhos. — Não. — Vai me desobedecer assim, cara mia? — Vou. Ele ri baixo, mas seu punho se fecha ao lado do meu rosto, contra a parede. — Eu posso destruir você em segundos. — diz, a respiração quente na minha pele. — Então por que ainda não destruiu? — Porque eu gosto mais de assistir você se destruindo por mim. — Talvez eu goste mais de assistir você se descontrolar por mim. O olhar dele se torna mais escuro. Suas mãos descem até meus quadris e me puxam para ele com força. — Você não tem ideia no que está se metendo. — Me mostre, então. Ele me levanta como se eu não pesasse nada e me joga na cama, ajoelhando-se sobre mim. — Você acha que está no controle? — Ele arranca a camisa do meu corpo. — Eu sou o controle. Suas mãos percorrem minha pele com mais pressa, mais brutalidade do que nunca. Mas desta vez eu não me encolho, não viro o rosto. — Olhe pra mim. — ele ordena. — Eu não paro de olhar. — rebato. E ele para por um instante, respirando pesado. — Maldita. — murmura, antes de capturar meus lábios num beijo violento. Nossas pernas se entrelaçam. Ele me prende, me invade, com mais fome do que antes, como se precisasse provar a mim e a si mesmo que ainda tem o poder. Mas eu não grito desta vez. Não imploro. Eu sorrio no meio do beijo. Ele percebe. — Está sorrindo por quê? — Porque você está perdendo. O olhar dele se enche de fúria. Ele me vira de bruços, segurando meus pulsos atrás das costas, os dentes cravando em meu ombro. — Você gosta de brincar com monstros, Lívia? — Gosto de saber que o monstro não é tão invencível quanto pensa. Ele ri rouco contra minha pele, a respiração dele descompassada. — Você vai me pagar por isso. — Já estou pagando. Ele se move dentro de mim com tanta força que m*l consigo respirar, mas ainda assim não desvio o olhar quando ele me vira para encarar o espelho. — Quem é você agora? — ele pergunta, os olhos nos meus. — Sou quem você fez de mim. Quando finalmente termina, ele cai sobre mim, suado, ofegante, as mãos ainda me prendendo como se eu pudesse evaporar. Ficamos assim por minutos. Nenhum dos dois fala. Por fim, ele se levanta e caminha até a janela, olhando para fora. — Você vai me matar um dia, Lívia. — diz, sem se virar. — Talvez. — E mesmo assim eu não consigo deixar você ir. — Eu sei. Ele fica em silêncio, os ombros tensos, como se estivesse lutando contra algo maior do que nós dois. — Até onde você vai? — pergunta, por fim. — Até onde eu tiver que ir. Ele respira fundo e finalmente se vira. — Então que vença o mais forte. E dessa vez, sou eu que sorrio primeiro.
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