Lívia
Quando a porta se fecha atrás dele, sinto o ar finalmente voltar aos meus pulmões.
Sozinha, por alguns instantes, permito-me desabar.
Minhas mãos tremem enquanto aliso a colcha sob mim. Meus joelhos ainda doem de tanto que me pressionei contra o colchão para não gritar mais alto.
Eu deveria odiá-lo.
Eu o odeio.
Mas meu corpo insiste em desmentir minha mente, ainda quente, ainda latejando no mesmo ritmo que as palavras dele martelam em minha cabeça: Você é minha. Minha. Só minha.
Levanto-me devagar, indo até a janela. A cidade lá fora continua indiferente ao que acontece aqui dentro. Carros, pessoas apressadas, o sol brilhando como se nada tivesse acontecido.
Respiro fundo.
Eu preciso ir embora.
Ele não pode me manter aqui para sempre.
Ou pode?
A maçaneta gira de novo e eu me viro, já com a máscara de indiferença no rosto.
Mas não é Dante.
É um homem mais velho, vestido com terno impecável, que carrega uma bandeja com café, frutas, pães. Ele não diz nada, apenas abaixa os olhos e deposita a bandeja sobre a mesa antes de sair em silêncio.
Um arrepio percorre minha espinha. Até os empregados dele sabem que eu não devo falar, não devo pedir ajuda.
Sento-me à mesa, mas não toco em nada.
Só quando ele volta é que percebo que estou prendendo a respiração de novo.
Dante está impecável, de terno escuro, cabelos penteados para trás, o nó da gravata perfeito.
— Bom dia, cara mia.
— Bom dia. — minha voz m*l sai.
Ele caminha até mim, para atrás da cadeira e se inclina, suas mãos pousando em meus ombros.
— Você não comeu. — constata, a boca perigosamente próxima do meu ouvido.
— Não estou com fome.
— Não é uma escolha.
Ele puxa a cadeira ao meu lado e se senta. Coloca um pedaço de pão no meu prato e serve café.
— Coma.
Obedeço em silêncio.
— Assim é melhor. — Ele se recosta, satisfeito, observando cada movimento meu. — Vai precisar de energia para mais tarde.
O calor sobe ao meu rosto, e desvio o olhar para a janela.
— O que você quer de mim agora? — pergunto, finalmente.
Ele sorri.
— Já disse. Quero você.
— Já me tem. — retruco.
— Não completamente. Ainda sinto você tentando resistir aqui. — Ele aponta para minha cabeça. — Ainda me desafia aqui.
— Não vou parar de lutar.
— Ah, vai. — Seus olhos brilham. — E quando acontecer, você mesma vai me implorar para nunca mais sair daqui.
Ele se levanta, dá a volta por trás de mim e desliza as mãos por meus braços até entrelaçar os dedos aos meus.
— Vem. — ordena, puxando-me da cadeira.
— Para onde?
— Para onde eu quiser.
Ele me conduz pelo corredor, até um quarto maior, dominado por uma enorme cama de dossel, cortinas esvoaçantes e espelhos estrategicamente posicionados.
— Você vai aprender a se olhar. — murmura, fechando a porta atrás de nós. — Vai aprender a se ver como eu vejo você.
Engulo em seco quando ele me empurra para a beirada da cama.
— Tire a roupa.
— Dante…
— Agora.
Suas mãos já estão no nó da gravata enquanto eu obedeço, descendo lentamente os ombros do vestido.
Ele se senta na poltrona, apenas assistindo, o olhar tão intenso que sinto a pele queimar onde quer que seus olhos toquem.
— Você não faz ideia do que faz comigo. — diz, enquanto desabotoa a camisa. — Ontem, quando tentou fugir, eu quase coloquei um homem atrás de você para quebrar suas pernas. Só não fiz porque…
— Porque? — pergunto, quase sem ar.
— Porque prefiro ser eu a te quebrar. — Seu sorriso é sombrio. — Mas depois conserto, peça por peça.
Ele se levanta, finalmente, e em poucos segundos está atrás de mim, as mãos firmes na minha cintura, os lábios na curva do meu pescoço.
— Olhe. — ele ordena, apontando para o espelho. — Quero que veja quem você é quando está comigo.
Nossos olhos se encontram no reflexo. Meu peito sobe e desce rápido, as bochechas coradas, os lábios entreabertos.
— Você já é minha. — diz, os dedos deslizando lentamente por minha barriga até alcançarem a rendinha da lingerie.
— Não… — tento protestar, mas é um gemido o que escapa.
— Sim. — Ele morde meu ombro de leve. — Diga.
— Eu sou… sua.
— Boa garota.
Ele me empurra para frente, me fazendo apoiar as mãos na cama enquanto me possui devagar, mas firme, olhando-me no espelho o tempo todo.
— Olhe. Não ouse fechar os olhos. — exige, enquanto se move dentro de mim, cada vez mais profundo, cada vez mais certo de que me destruiu por dentro.
E ele está certo.
Quando o prazer explode em ondas e eu caio sobre os lençóis, sem forças para resistir, ele se deita ao meu lado, a respiração ainda descompassada.
— É assim que gosto de ver você. — murmura, passando a mão pelo meu cabelo. — Quebrada. Minha.
Fecho os olhos, tentando me convencer de que ainda sou eu mesma.
— O que vai ser de mim? — pergunto, quase sem voz.
Ele ri baixinho, a mão ainda na minha nuca.
— Você já é minha. Agora só falta perceber isso.