A Marca Dele Em Mim

950 Words
Lívia A noite cai devagar, mas aqui dentro o tempo não existe. Depois que ele saiu do quarto para atender a uma ligação, eu fiquei sentada na beira da cama, observando meu reflexo no espelho, tentando encontrar um pedaço de mim que ainda fosse meu. Meu cabelo está bagunçado, a pele marcada por onde ele mordeu e apertou. Há um vermelho profundo no meu pescoço, um roxo começando a se formar. A marca dele em mim. — É isso que eu sou agora? — murmuro para mim mesma, tocando a mancha. A maçaneta gira antes que eu consiga cobrir o pescoço. Ele entra sem fazer barulho, como sempre, os olhos escuros cravados em mim assim que me vê. — Está bonita assim. — diz, com aquele sorriso frio que já conheço. — Marcada. — É isso que você quer, não é? Me possuir por fora e por dentro. Ele fecha a porta, tranca, e se encosta nela. — Não só quero. Já faço. — Até quando, Dante? — minha voz sai mais firme do que eu esperava. — Até quando vai me manter aqui, como um pássaro numa gaiola? Ele caminha lentamente até mim, cada passo ecoando no quarto silencioso. — Até você perceber que nunca foi um pássaro. — Para bem diante de mim. — Sempre foi uma chama. E eu não vou deixar ninguém apagar você. Nem você mesma. — Isso não é amor. — Talvez não. — Ele ergue a mão e desliza os dedos pela minha bochecha. — Mas é a única coisa que eu sei dar. Por um instante, vejo algo em seus olhos que não é só desejo ou raiva. É solidão. Um pedido mudo. Mas desaparece rápido, substituído pelo predador de sempre. — Tire o vestido. — ordena, a voz baixa e rouca. — Não. Ele arqueia uma sobrancelha. — Não? — Não sou uma boneca para você vestir e despir quando quiser. O silêncio dele é tão pesado que me sinto encolher. Mas então, para minha surpresa, ele dá um meio-sorriso e se aproxima ainda mais, até que seu peito encoste no meu. — Então faça você. — murmura. — Me tire a camisa. Eu hesito, mas suas mãos já estão na minha cintura, quentes e impacientes. Minhas mãos sobem, trêmulas, e desfazem o primeiro botão. Depois o segundo. Quando termino, ele segura meus punhos e os leva atrás da minha cabeça. — Boa garota. Ele me beija devagar desta vez, com uma paciência quase c***l, explorando minha boca até me fazer esquecer que minutos atrás eu estava pronta para discutir. — Você não entende, Lívia. — diz contra meus lábios. — Quando você foge, eu perco a cabeça. Quando você se entrega… eu me encontro de novo. — Não posso viver assim. — Pode. E vai. Ele me empurra para a cama e me cobre com o próprio corpo. Suas mãos deslizam por minhas pernas, afastando-as sem pressa, sem dar espaço para recusa. — Você precisa sentir. Precisa lembrar de quem você é aqui. — Sua mão repousa em meu coração por um instante. — Aqui, você já sabe que é minha. Eu queria poder negar. Mas quando ele me penetra com um só movimento, toda minha resistência se desfaz, substituída por ondas de prazer e dor que se confundem. Ele me beija, morde, me chama de “boa garota” entre gemidos pesados, como se cada palavra fosse um feitiço para me manter cativa. No espelho ao lado, vejo nós dois, eu curvada, entregue, e ele por trás de mim, os olhos fixos no reflexo, como se só acreditasse no que podia ver. Quando terminamos, ele não me solta de imediato. Fica deitado comigo, a respiração ainda irregular, os dedos brincando com uma mecha do meu cabelo. — Você não entende, cara mia. — diz baixo, quase para si mesmo. — Se você me deixar, eu não sobrevivo. Fecho os olhos, fingindo que não ouvi. Mais tarde, quando ele adormece ao meu lado, eu deslizo devagar para fora da cama. Pé ante pé, vou até a porta. Não trancada desta vez. Um corredor longo e escuro me espera. Não sei para onde ir, mas preciso tentar. Avanço, respirando rápido, os olhos ajustando à penumbra. Uma escada. Um hall vazio. — Lívia. A voz dele atrás de mim gela meu sangue. — Onde pensa que vai? Sinto a sombra dele crescer atrás de mim antes mesmo de me virar. — Eu… só queria… água. — minto. Ele caminha devagar, como um animal que cerca a presa. — Água. Às três da manhã. Sem me acordar. Engulo em seco. — Você nunca aprende, não é? — ele murmura, já bem próximo. — Sempre tenta fugir quando eu menos espero. — Eu não estava fugindo. Ele ri baixo. Um som frio e perigoso. — Você mente m*l, cara mia. — Seus dedos fecham em minha nuca, firmes mas sem machucar. — Eu devia trancar você no porão até aprender. — Dante… — Shh. — Ele me vira de frente para ele, seus olhos queimando os meus. — Eu não vou machucar você, Lívia. Mas vou lembrar você de quem você é. Antes que eu possa protestar, ele me levanta nos braços e me carrega de volta para o quarto. — Cada vez que tenta fugir, eu fico mais duro com você. — diz, fechando a porta atrás de nós. — E no fim, você sempre volta para mim assim… — Me joga sobre a cama. — Quebrada. Eu já nem resisto. Deixo que ele me prenda, que me marque, que me beije como se fosse a última vez. Porque talvez seja. Ou talvez eu já não saiba mais quem eu era antes dele.
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