Lívia
Acordo com a respiração dele em minha nuca.
Estou deitada de lado, completamente despida, com a perna dele pesada sobre as minhas, como uma corrente humana. Não consigo me mover sem que ele perceba.
Ele ainda dorme, mas mesmo inconsciente os dedos mantêm um aperto possessivo em minha cintura, como se até no sonho estivesse me vigiando.
Fecho os olhos e respiro fundo.
Eu não posso continuar assim.
Um dia ele vai me destruir por completo. E eu… já nem sei se quero impedir.
Quando ele finalmente solta um suspiro mais profundo e relaxa, eu deslizo devagar para fora da cama, tentando não fazer barulho.
Pego uma das camisas dele no chão e visto por cima do meu corpo nu. Minhas pernas ainda doem da noite anterior.
Na mesa, o relógio marca pouco depois das cinco da manhã.
Tempo suficiente.
Saio do quarto, as meias sobre o tapete abafam meus passos. Não há nenhum empregado à vista — todos parecem desaparecer à noite, como fantasmas.
Desço um andar, depois outro.
À medida que me aproximo do térreo, ouço um som estranho.
Vozes.
— Ela não vai aguentar muito mais tempo assim. — um homem diz, em tom baixo.
— Não importa. Ele não vai deixá-la ir. — outro responde.
Paro na escada, o coração disparando. As vozes vêm de uma porta entreaberta.
Me aproximo, pé ante pé, e espreito.
Dois homens em ternos escuros, que eu nunca tinha visto, estão sentados em poltronas. Um segura um maço de papéis, o outro acende um cigarro.
— Ele acha que está salvando ela — diz o que fuma. — Mas só está arrastando a garota pro mesmo buraco que ele.
— É questão de tempo até ela se quebrar de vez.
— Ou até ela matá-lo. — o primeiro acrescenta, rindo.
Um calafrio sobe pela minha espinha.
— E se ela tentar fugir outra vez? — pergunta um deles.
— Ele vai atrás. Sempre vai. — o outro dá de ombros. — Não importa onde ela se esconda.
Minhas mãos tremem.
Eles estão falando de mim.
Eu recuo, mas piso em algo que range.
As vozes cessam.
— Quem está aí?
Corro. Subo as escadas de volta, quase tropeçando, o coração na garganta.
Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim, ofegante.
Mas ele está acordado.
Sentado na beira da cama, de calças e nada mais, me esperando.
— Você sumiu. — diz, a voz calma, mas gelada.
— Eu… só desci para pegar água.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Água. — repete, descrente.
— Sim.
Ele se levanta devagar e caminha até mim.
— O que ouviu?
— Nada.
— Não minta pra mim. — Seus olhos brilham perigosos. — Eu conheço cada mentira sua. Cada respiração. Cada olhar.
— Só ouvi… que você nunca vai me deixar ir. — murmuro.
Por um segundo, ele apenas me observa. Então, um sorriso frio se forma em seus lábios.
— Pelo menos não ouviu errado.
— Por quê? — pergunto, sentindo a voz falhar. — Por que eu? Por que não outra?
— Porque nenhuma outra me olha como você.
— E como eu olho pra você?
— Como se eu fosse um homem. E não um monstro. — Ele para bem à minha frente, suas mãos seguram meu rosto, firmes. — Você não faz ideia do quanto isso me destrói.
— Então me deixa ir.
— Não. — A voz dele falha pela primeira vez. — Não posso.
Ele me puxa para perto e me beija com mais fúria do que carinho, a respiração dele quente contra a minha pele.
— Você acha que é a única prisioneira aqui? — murmura, os lábios no meu pescoço. — Eu também sou.
— Prisioneiro de quê?
— De você.
Ele me empurra devagar para a cama e me deita, sem pressa, como se estivesse selando uma sentença.
— Até onde você iria por mim, Lívia? — pergunta, a voz baixa.
— Não sei.
— Até onde eu quiser?
Eu o encaro, sem responder.
Ele abre um sorriso sombrio.
— É isso que eu gosto em você. Nunca diz que sim, mas nunca consegue dizer que não.
As mãos dele deslizam por minhas coxas, afastam meus joelhos, e sua boca me encontra com a mesma fome de sempre.
Eu deveria resistir.
Mas não resisto.
Quando ele me penetra, suas mãos prendem as minhas acima da cabeça, os olhos fixos nos meus.
— Não me odeie. — sussurra. — Não hoje.
Eu fecho os olhos, incapaz de responder.
Depois, quando finalmente se deita ao meu lado, ele fica em silêncio por longos minutos, apenas me observando.
— Promete que não vai tentar fugir de novo? — pergunta, a voz quase suave.
— Não posso prometer isso.
— Então vou ter que vigiar você o tempo todo. — Ele se aproxima, e sinto o calor de seu corpo contra o meu. — E eu não me importo.
Eu encaro o teto, tentando ignorar a sensação de que cada vez mais me afundo nesse abismo com ele.
— Dante… — começo, sem coragem de terminar.
— Shh. — Ele coloca um dedo nos meus lábios. — Só durma.
Fecho os olhos, mas no escuro minha mente já planeja.
Eu preciso de ajuda.
Preciso sair daqui antes que ele apague tudo o que eu sou.
Mesmo que isso signifique que eu tenha que quebrar o coração dele ou o meu.