Capítulo 03

1291 Words
Recebemos o mesmo convite que entregaram no primeiro ano, avisando sobre uma festa que aconteceria, de boas-vindas. Dessa vez, ao invés de ser uma semana após o início das aulas, seria naquele domingo. Havia acabado de chegar e já tínhamos uma festa de noite. — Isso é demais, vamos escolher as roupas? — Milena estava animada com o convite. — Não faço ideia do que vestir. — Comentei. De fato não havia planejado nada para a festa que eu já sabia que iria acontecer. Mesmo porque, no ano anterior, Milena contou sobre a festa onde ela não passou muito tempo. — Acho que tem algo no meu guarda-roupa. — Afirmou, ficando em frente ao seu, olhando suas roupas. Separou duas roupas em cima da cama, não sabia exatamente qual seria a minha, provavelmente ela escolheria a dela primeiro. Por sorte, Milena me deixou ficar com o seu shorts jeans, já que eu não gosto muito de usar saias e vestidos. — Você está muito bonita. — Elogiou-me. Milena estava com uma saia com estampa, parecia ser algo de flor. Já sua blusa preta, tinha desenhos de luas e algo escrito. Para combinar com o shorts, entregou uma blusa cinza, com uma mão na frente. Ambas iríamos de saltos pretos. Apenas colocamos as roupas para ver como iríamos ficar. Já que agora estávamos em horário de almoço e iríamos para o refeitório. — Está consciente de que poderemos encontrá-lo? — Perguntou. — Sim. — Concordei. — Aposto que ele vai gostar de rever você. — Comentou, mas sabia que era o esperado dela e quem sabe o que eu esperava que iria acontecer também. — Talvez, eu vi ele hoje. — Contei. — E o que Bruno falou? — Perguntou ansiosa. — Não. Apenas eu vi, ele estava tocando violão com os outros alunos lá fora. — Expliquei. Enquanto andávamos pelos corredores até chegarmos no refeitório, observava as mudanças feitas no ano que eu estive fora. No máximo as maçanetas foram trocadas e algumas pinturas feitas. Em relação as pessoas, havia muitos jovens, no primeiro ano, eles eram os mais risonhos pelos corredores. Já o pessoal do segundo e terceiro ano, pareciam estar mais sérios, evoluídos. — Imagino que vocês tem muito para conversar. — Comentou durante a caminhada. — Não sei nem o que dizer. — Confessei. — Estou certa de que tudo que você fez é para o bem dele. — Concordou. — Não deixaria ele ir embora se eu não soubesse que seria o melhor para Bruno. — Contei. Quando chegamos no refeitório, estava lotado como o esperado. Viemos exatamente na hora do fervor. Realmente os meninos estavam comendo mais do que nunca. Por sorte, Bruno não estava em lugar nenhum.  O buffet estava mais caprichado, haviam adicionado outro, com mais alimentos, simplificando na hora dos alunos se servirem, para que as filas diminuíssem. O problema era que enquanto os alunos se serviam para almoçar, outros já estavam na fila para repetir, o que acaba prejudicando os outros. — Os meninos ainda continuam comendo aqueles lanches monstruosos? — Perguntei. — De vez em quando. — Respondeu. — Eu não deixo sempre, caso contrários eles irão ficar obesos. — Brincou. — Está cuidando até da saúde do Bruno? — Perguntei. — Claro né. — Respondeu. — Preciso cuidar para você. Como eu tinha a melhor amiga do mundo, preferi não entrar em detalhes. A questão era que eu esperava que tudo desse certo e Milena tinha pensamentos próximos dos meus. Estávamos calmas, sentadas na mesa que continuou nesses dois anos sendo "nossa", quando ouvi o meu nome ser chamado. — Alice? — Enzo estava diferente. Alguns dos seus amigos "populares" estavam em pé ao seu lado. — Enzo. — Olhei nos seus olhos, os mesmos pelo qual era apaixonada no passado. — Você não avisou que iria voltar. — Comentou, sentando-se ao meu lado. — Preferi fazer uma surpresa. — Contei e de fato era verdade. — Uma ótima surpresa. — Corrigiu. Poderia estar louca, mas de alguma maneira o jeito como ele pronunciou aquelas palavras pareciam de uma maneira provocante, como se estivesse tentando flertar comigo. Terminamos de almoçar na presença do Enzo, ele não estava mais querendo ir embora. As horas deveriam se passar com pressa, queríamos retornar para os nossos quartos para podermos descansar antes da festa. — Imagina o que irá acontecer quando Bruno lhe ver? — Milena perguntou. Segundo a mesma, ela havia feito Igor prometer que não iria contar que eu havia voltado para o colégio interno. Roupas colocadas, maquiagem feita, beiços, anéis e colares nos seus devidos lugares. — Será que essa festa será tão boa quanto no primeiro ano? — Ela perguntou. — Espero que muita coisa possa acontecer hoje. — Comentei. — Beijar o Bruno, está incluso nesta lista? — Perguntou, fazendo uma voz estranha, quem sabe estava sendo um pouco exagerada. — Não estou falando disso. — Revirei os meus olhos. Milena havia combinado de encontrar Igor apenas na festa. Não iria fazê-lo vir até o nosso quarto, quem sabe Bruno aproveitaria a ida do amigo também. A ansiedade tomou conta do meu coração, a única coisa em que conseguia pensar era em como o Bruno iria reagir ao me ver novamente. Não sabia ao certo se ele gostaria da surpresa. Será que o mesmo iria se aproximar? Ou manteria distância? Antes de entrar no local onde estava sendo feita a festa de boas-vindas, Enzo me surpreendeu, pegando-me pelo braço. — O que você está fazendo? — Perguntei. — Achei que seria interessante se chegássemos juntos nesta festa. — Respondeu. — E por que essa ideia se passou pela sua cabeça? — Perguntei, porque estava na cara que ele estava tramando algo. — Está recusando um convite do seu melhor amigo? — Ele sabia exatamente fazer com que eu me sentisse confusa. A questão não era estar recusando o "simples" pedido de entrar na festa ao seu lado. Era desconfiar das suas atitudes. Por mais que eu amasse Enzo, sim, eu o amava, afinal, ele fez parte de quinze anos da minha vida. Mas havia mudado. Não era mais o mesmo menino que eu havia conhecido no passado, que conviveu comigo durante anos. — Nós podemos entrar? — Pedi, percebendo que a minha amiga já estava bufando ao meu lado. — É claro. — Ele respondeu. Não esperei que ele me desse a mão ou o braço, não pretendia entrar com ele daquela maneira, apenas ao seu lado já seria o suficiente. Mesmo porque a minha última opção era deixar Bruno chateado com alguma possível cena que ele pudesse presenciar e imaginar. E lá estava eu, a alguns passos para entrar na quadra, o lugar estava lotado, dava para ver porque na porta apenas algumas pessoas conseguiam passar. — Não desmaie. — Milena pediu, provavelmente percebendo como eu estava. — Qualquer coisa você me segura. — Brinquei. — Espero que o Bruno não te veja com esse daí. — Ela ainda não havia superado o fato de não gostar dele, muito também vinha pelo fato dele agora fazer parte do grupo popular e não ser tão legal como era antes. Imagine, antes quando era "normal" ela não gostava, imagina agora. Entrei na expectativa de enxergar o Bruno primeiro, assim daria tempo para me afastar do Enzo, pelo menos o suficiente para que ele não pensasse besteira. Quando os meus ouvidos ouviram o silêncio que estava lá dentro, apenas uma introdução de um violão, imaginei que nesse ano seria diferente a festa de boas-vindas. Quem sabe eles haviam contratado alguém para tocar esse. Por conta da escuridão, era difícil saber exatamente quem estava no palco. Mas quando iluminaram, dando foco em quem estava no palco, lembrei o motivo de estar ali.
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