O Bruno estava no centro do palco, sentado em uma banqueta alta, com uma das pernas dobrada, com o violão em mãos.
Ele estava tocando a introdução de alguma música que eu desconhecia.
Como o lugar estava cheio de pessoas, seria impossível que ele me enxergasse, ao menos que a Milena não tivesse a incrível ideia de me puxar até a parte da frente do palco.
Neste momento, já havia perdido o Enzo de vista.
Ele começou a cantar com os olhos fechados, como se nada o incomodasse... Era tão calmo e talentoso, não conseguia me lembrar direito, apenas um pouco das apresentações.
— Eu que me achava um cara experiente
Me apaixonei por esse olhar inocente
Menina só você me deixa assim
Faz o que bem quer de mim. — De fato eu não conhecia o cantor, deveria ser desconhecido ou novo, Bruno sempre se interessou por esses.
— Menina você chegou de mansinho
Com todo o seu encanto
Me dando carinho
Me trazendo alegria
Despertando fantasias. — Neste momento ele abriu os olhos, olhava para a plateia. Sentia a necessidade de que ele me visse.
E foi nessa hora que os seus olhos encontraram os meus. Percebi que errou as notas do violão, mas logo se concentrou na música.
— Então me diga o que você quer
Posso ser seu por um dia
Ou por toda vida
Ou quando quiser. — Gostei do fato de ele não ter desgrudado os olhos dos meus enquanto cantava, era nessas horas que agradecia por ter voltado para o colégio.
— Você é a coisa mais linda
Rosto de menina
Corpo de mulher
Me diga o que você quer
Me diga o que você quer
Você é a coisa mais linda
Rosto de menina
Corpo de mulher
Me diga o que você quer
Me diga o que você quer
Eu que me achava um cara experiente
Me apaixonei por esse olhar inocente
Menina só você me deixa assim
Faz o que bem quer de mim
Menina você chegou de mansinho
Com todo o seu encanto
Me dando carinho
Me trazendo alegria
Despertando fantasias
Então me diga o que você quer
Posso ser seu por um dia
Ou por toda vida
Ou quando quiser
Você é a coisa mais linda
Rosto de menina
Corpo de mulher
Me diga o que você quer
Me diga o que você quer
Você é a coisa mais linda
Rosto de menina
Corpo de mulher
Me diga o que você quer
Me diga o que você quer... — Como ele repetiu a música, muitas pessoas haviam decorado algumas partes e acabamos cantando todos juntos.
A música era bonita, de alguma forma mostrava algo, na verdade, Bruno não estava cantando para mim, ele cantou sem imaginar que eu estaria presente.
Mas a música era nossa e quando eu tivesse chances, iria com certeza procurá-la na internet.
Pelo que comentaram, Bruno estava apenas tocando a música de a******a da festa. Ele não iria ficar cantando durante à noite toda.
— Você reparou na maneira como ele olhou para você? — Milena perguntou, assim que uma música aleatória começou a tocar.
— Ele apenas deve estar impressionado com a minha presença. — Expliquei.
— Havia muito mais do que isso naquele olhar, faltou sair faíscas de amor daqueles olhos. — A minha amiga era tão criativa e apaixonada.
— Não pense besteira, todos tiveram praticamente a mesma reação. — Comentei.
O calor dos corpos que nos tocavam fazia com que ficasse muito incomodativo ficar no meio daquela multidão.
Estavam servindo água e refrigerantes, é claro que bebidas alcoólicas estavam fora de cogitação desde a época que os meus pais estudavam nesse colégio.
Igor havia se aproximado da minha melhor amiga, claro, eram namorados. Acabei ficando solitária, já que os dois começaram a conversar e acabaram me excluindo.
— Alice? — Aquela voz maravilhosa que em alguns minutos atrás estava cantando em cima do palco, agora chamava pelo meu nome.
— Bruno. — Sorri animada ao olhar para ele.
— Não imaginei que você voltaria, Milena não comentou nada. — Contou.
— Ela também ficou surpresa com a minha chegada, não contei para ninguém. — Expliquei.
— É bom te ver depois de tanto tempo. — Confessou.
Ouvir aquelas palavras da sua boca, fazia com que meu coração disparasse inúmeras vezes. Talvez ele estivesse esperando que eu concordasse, mas de alguma maneira nenhuma palavra saía da minha boca.
— Está tudo bem? — Por que ele precisava tocar o meu braço? Choques passaram pelo meu corpo todo.
— Desculpe. É que te ver depois de tanto tempo. — Não consegui continuar a falar, fui interrompida pelo meu melhor amigo puxando-me pelo braço.
A sua mão provavelmente iria deixar uma marca no meu braço, talvez Bruno tenha notado o quão grosso ele estava sendo comigo.
— O que está fazendo? — Gritei com Enzo pelo fato da música estar alta e a sua mão estar me machucando.
— Você pensou que iria se esconder por muito tempo? Vamos aproveitar. — Ele estava alterado, não sei como conseguiu ficar daquela maneira, já que o colégio não distribuía bebidas.
— Será que você pode soltar ela? — Bruno estava calmo, porém, seus olhos diziam totalmente o contrário.
— Amigo, fique na sua! — Enzo pediu. — Essa menina conviveu comigo durante quinze anos, pode ter certeza que ela está em boas mãos. — Avisou como se ele estivesse me tratando bem.
Foi questão de segundos para cada um estar segurando um dos meus braços para tentar fazer com que eu ficasse ou fosse.
— Meninos vocês estão me machucando. — Gritei, correndo dos dois.
O único lugar que eu gostaria de estar agora era o meu quarto. Mesmo que Milena não estivesse lá comigo, precisava respirar fundo para não fazer nenhuma besteira.
Deitei na minha cama e me permitir chorar no meu pequeno travesseiro. No primeiro dia que cheguei fiquei feliz e já consegui ficar triste.
Tudo era questão de tempo, quem sabe os meninos iriam ficar diferente com o tempo.
Enzo sempre foi complicado, mas nunca deixou de ser bom comigo. Sempre foi a melhor pessoa do mundo para se ter do lado, às vezes a distância com a família, ou o fato de ter tantas pessoas da sua idade ao seu redor, faziam com que ele mudasse.
Talvez o meu melhor amigo, não era mais o menino que foi durante quinze anos das nossas vidas. Gostaria de acreditar que as coisas iriam melhorar.
Não tive tempo de pensar em mais nada, o barulho da porta interrompeu o meu choro e meus pensamentos.
— Alice? Você está ai? — Era Bruno, ele estava do outro lado da porta me chamando.
— Será que você pode ir embora? — Pedi.
— Deixa de ser cabeça dura ou vou derrubar essa porta. — Mandão como sempre.
Tentei de alguma maneira limpar as lágrimas, e deixar com que meu rosto ficasse mais agradável possível, mas de nada adiantou.
Estava inchada e com olheiras.
— Não acredito que está chorando. — Entrou e de imediato me acolheu em um abraço.
— É difícil imaginar que Enzo tenha mudado tanto. — Contei.
— As pessoas mudam, algumas para melhor, outras para pior. — Comentou.
Não, eu faria de tudo para fazer com que o meu melhor amigo voltasse a ser o mesmo menino adorável que deu a melhor notícia do mundo dizendo que viria para o colégio interno comigo.
Talvez eu precisasse mudar o rumo dos meus objetivos, que estavam todos voltados para Bruno, mas precisava retomar a minha amizade.
Eu tinha essa força e sabia que não poderia desistir.
— Agradeço por ter vindo até aqui. — Agradeci.
— Sabe que mesmo estando separados, ainda me importo com você. — Beijou a minha testa.
— E eu ainda continuo amando você.